segunda-feira, 6 de abril de 2009

Leandro Gomes de Barros


Leandro em ilustração de Arievaldo Viana

Sobre Leandro Gomes de Barros tudo o que se disser será pouco. Sua grandeza tem sido cantada por alguns dos maiores poetas desta terra: Manoel Monteiro, Klévisson, Arievaldo Viana.

Este último prepara uma biografia que deve trazer muitas luzes sobre a vida e a obra do propalado maior poeta popular do Brasil em todos os tempos.

Ninguém foi mais lido que ele.

O melhor de sua obra era conhecido pelo povo, até mesmo os ágrafos.

É o poeta com o maior número de clássicos na poesia popular.

É o criador do personagem mais marcante da chamada Literatura de Cordel, o burlão Cancão de Fogo.

É autor do mais extraordinário romance em versos do gênero: A Força do Amor (Alonso e Marina) – entendida a continuação desta obra-prima, A Morte de Alonso e a Vingança de Marina, como um segundo volume.

Neste romance não há o clássico vilão ou a heroína arquetípica.

Os personagens são humanamente imperfeitos.

O início e o final pertencem a gêneros diferentes.

Como foi feita a tessitura para que um drama romântico, de fortes cores ibéricas (a história é ambientada na Espanha), se transforme ao final num conto de horror, só o próprio Leandro para responder.

Coisa de gênio.

A História da Donzela Teodora é outro triunfo.

Versão de um romance tradicional, conhecido, divulgado, proscrito pela Inquisição, é, na releitura de Leandro, um hino de amor à mulher sábia, à perspicácia, à inteligência personificada.

Atena espanhola.

Árabe, na versão mais antiga: La Docta Simpatia, das Mil e Uma Noites.

História do Boi Misterioso reúne as tradições orais do ciclo da pastorícia, costuradas a elementos de origem vária, amalgamando crenças amerabas às superstições europeias.

Câmara Cascudo e Carlos Drummond de Andrade não lhe pouparam elogios.

A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás e A Prisão de Oliveiros, compostos em décimas, representam o maior tributo literário à presença francesa na nossa tradição oral.

Ecos de Ariosto, que Leandro não deve ter lido.

O povo o elevou a um patamar ao qual Sorbonne nenhuma poderia conduzir.

Ah, sim: Leandro foi o criador da hoje denominada Literatura de Cordel.

E foi, indiretamente, responsável pela inclusão social de muitos cegos cantadores, que decoraram-lhe os versos, por vezes, ignorando o autor.

A Literatura de Cordel é o gênero mais representativo da poesia popular.

A Literatura de Cordel foi responsável pela inclusão de milhares de pessoas, que aprenderam a ler por intermédio dos folhetos espalhados por sertões que Euclides jamais conheceu.

Ariano Suassuna deve-lhe o Auto da Compadecida.

Leandro Gomes de Barros é autor de pelo menos 20 clássicos absolutos da Literatura de Cordel.

Nenhum poeta popular alcançou esta marca.

José Camelo de Melo Resende, José Pacheco da Rocha, Manoel D’Almeida Filho são alguns de seus mais notórios seguidores.

Deixaram obras imortais, venderam milhões.

Devem a Leandro sua carreira.

Todos nós, cordelistas, devemos a Leandro a nossa carreira.

Este artigo não pagará esta dívida.

Mas o autor, pelo menos, a reconhece.

O que já é alguma coisa.

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Capa de A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás (Coleção Luzeiro)