quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Caravana do Cordel: dois anos de histórias e de História


A Caravana do Cordel completará, oficialmente, no próximo dia 7 de novembro, dois anos de atividades exitosas em São Paulo e em outros estados desse Brasil imenso.

A primeira atividade deu-se em Guarulhos, quando, nos dias 7 e 8 de novembro de 2008, a Biblioteca Monteiro Lobato foi palco do salão da Literatura de Cordel. No início de 2009, a Caravana recepcionou o poeta pernambucano Wladimir Cazé, que veio a São Paulo lançar o folheto ABC do Carnaval.

O grande salto, porém, se deu com o início das atividades regulares no Espaço Cineclubista da Rua Augusta, em julho de 2010. Outros palcos importantes da capital e de cidades paulistas também foram ocupados, com destaque para o auditório da APEOESP e a Biblioteca Belmonte.

Embora não dê para falar de todas as atividades, ressaltamos a presença da Caravana em várias cidades, como São Bernardo do Campo, Mauá, Várzea Paulista, Uberlândia (MG), Guaxupé (MG), Paranapiacaba (Santo André-SP), Sorocaba, Santo André etc.

O grupo original tem sete fundadores: João Gomes de Sá, Varneci Nascimento, Pedro Monteiro, Costa Senna, Cacá Lopes, Nando Poeta e Marco Haurélio. Hoje, o movimento, ampliado, reúne, ainda, além de cordelistas, folcloristas, músicos, pesquisadores, entusiastas e admiradores da Literatura de Cordel, a grande contribuição do Nordeste à Cultura Brasileira.

Abaixo, o primeiro texto na internet a citar a Caravana do Cordel, publicado no fotolog Cordelista João Gomes de Sá em 02/02/2009.

CARAVANA DO CORDEL
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A CARAVANA DO CORDEL reúne poetas cordelistas, xilogravadores, repentistas, além de outros artistas ligados às ricas manifestações da cultura espontânea brasileira.
A CARAVANA DO CORDEL visa ampliar o contato com a poesia popular de São Paulo, que vem da mesma raiz do cordel nordestino e deu origem a tantas duplas fantásticas, como TONICO E TINOCO, LIU E LÉO, TIÃO CARREIRO E PARDINHO, e a compositores como João Pacífico, Teddy Vieira, Adauto Santos e Renato Teixeira.

A CARAVANA DO CORDEL também se aproxima do teatro popular, com monólogos e autos religiosos e profanos, teatro de bonecos e declamação de folhetos e de trovas populares.

A CARAVANA DO CORDEL também promoverá rodas de contação de histórias com contos hauridos da tradição popular.

Saiba mais sobre a CARAVANA DO CORDEL, através dos contatos:

João Gomes de Sá
Fone: (11) 8276-1592
e-mail jgsacordel@ig.com.br

Conheça outros projetos na área de cultura popular.

É um mundo de cordel para todo mundo!


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ATIVIDADES DO EVENTO COMEMORATIVO:

O Memorial da América Latina, os Caravaneiros, a Editora Luzeiro e a Editora Nova Alexandria têm o prazer de convidá-lo para a Festa de Aniversário de 2 anos da Caravana do Cordel

O Mundo do Cordel para todo Mundo

Caravana do Cordel

Programação

Exposição de Xilogravura . Feira de Literatura de Cordel . Apresentação de Livros e Folhetos de Cordel . Recital Literomusical - Presença de Poetas Cordelistas, Músicos e Declamadores . Participação Especial da "DISSIDENTES BIG BAND" Guarulhos / SP e QUARTETO DE CORDAS/SP

Fundação Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 - Metrô Barra Funda / São Paulo / SP - www.memorial.sp.gov.br
Informações: jgsarcordel@ig.com.br / varnecicordel@yahoo.com.br
13 de Novembro de 2010, sábado, das 15h30 às 19h30

Biblioteca Latino-Americana Victor Civita
Memorial da América Latina / portão 6

Cordel na TV Escola



Avisa-nos Arievaldo Viana em seu fotolog Acorda Cordel.

O programa SALTO PARA O FUTURO, da TV ESCOLA (MEC) exibiu, entre 18 e 22 de outubro uma série sobre LITERATURA DE CORDEL que teve como consultor o poeta ARIEVALDO VIANA, também um dos entrevistados do programa. Foram feitas tomadas no estado do Ceará, especialmente em CARIDADE, onde o projeto ACORDA CORDEL encontra-se de vento em popa. Destaques do programa foram: Gilmar de Carvalho (professor, pesquisador e escritor), Ednardo (cantor e compositor cearense, autor de PAVÃO MISTERIOSO), Braulio Tavares (compositor, poeta e escritor), Marco Haurelio (poeta, folclorista e escritor), Aderaldo Luciano (professor e pesquisador), Zé Maria de Fortaleza (cantador e cordelista) e o professor Jorge, do Rio de Janeiro, que trabalha com cordel há mais de três anos.

No sítio do Programa, ainda, há um texto de minha autoria (clique AQUI para ler) sobre a abrangente temática da Literatura de Cordel, além de artigos de Arievaldo Viana, consultor da série.

Abaixo, trecho do meu artigo:

Temáticas e características da literatura de cordel


1.TEMÁTICA

A Literatura de cordel é a poesia popular, herdeira do romanceiro tradicional, e, em linhas gerais, da literatura oral (em especial dos contos populares, com predominância dos contos de encantamento ou maravilhosos). É a literatura que reaproveita temas da tradição oral, com raízes no trovadorismo medieval lusitano, continuadora das canções de gesta, mas também espelho social de seu tempo. Com esta última finalidade, a Literatura de Cordel receberá o qualificativo – verdadeiro, porém reducionista – de “jornal do povo”. O cordelista, como hoje é conhecido o poeta de bancada, é parente do menestrel errante da Idade Média, que, por sua vez, descende do rapsodo grego.

No Nordeste brasileiro,
Conservados na memória,
Romances, contos e xácaras
Lembravam a antiga glória
De Portugal e da Espanha,
De que nos fala a História.

Era esse o tempo das gestas
Dos cavaleiros andantes,
E essa poesia rude
Dos bardos itinerantes
Foi trazida para a América
No bojo dos navegantes.

Essa poesia foi
Cantada pelos jograis,
Celebrando os grandes feitos
Dos heróis medievais,
E também falando sobre
Romances sentimentais.

E quando começa o ciclo
Das Grandes Navegações
De Portugal e da Espanha,
As antigas tradições
Vão se acomodando aos poucos
Pelas novas possessões.

(TRECHO DO FOLHETO: O CORDEL; SEUS VALORES,
SUA HISTÓRIA, de Marco Haurélio e João Gomes de Sá.)

O Cordel abarca os mais variados temas, desde as histórias jocosas, como Proezas de João Grilo e O Cavalo que Defecava Dinheiro, até dramas históricos, como Joana D’Arc, Heroína da França e Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. A Literatura de cordel, desde o seu início, no final do século XIX, se abeberou de fontes como o romanceiro tradicional. Desta fonte da tradição oral nasceram histórias, como A Triste Sorte de Jovelina (de Sátiro Xavier Brandão) e Brás e Anália (de Joaquim Batista de Sena). Os dois cordéis contam basicamente a mesma história: um casal separado pela condição social adversa: a moça rica é impedida pelo pai de namorar o rapaz pobre. Combinam uma fuga, mas a moça termina sendo morta por uma onça. Há um romance de autor desconhecido chamado José e Maria (recolhido em Parapiranga, Bahia, pelo folclorista sergipano Jackson da Silva Lima, e em Igaporã, Bahia, pelo cordelista Marco
Haurélio) que traz o embrião desta história. Abaixo a versão recolhida por Marco Haurélio:

Idade de doze anos,
José e Maria amava,
Mas o velho pai da moça
Com isso não concordava.
Nas cartas que escrevia,
Com tristeza, ela falava:
“Acho melhor nós fugir”.
Outro jeito não achava.

Combinaram de encontrar
Na mata do Tombador.
Maria saiu de casa,
A má sorte acompanhou.
Bem na volta do caminho,
Onde a onça lhe pegou.
Maria tinha um xale branco.
No lugar ele ficou.

José conheceu o xale,
Pela mata foi entrando.
A trança do seu cabelo
Na picada foi achando.
Chegou na beira do rio,
Do outro lado foi nadando.
Chegou na gruta da pedra.
A onça tava esperando.

José viu Maria morta.
Pela gruta ele entrou.
Arrancou de seu punhal,
Com a fera ele lutou.
Arrancou de seu revólver,
Ela lhe desafiou.

Foi passando um caçador,
José inda pôde falar:
“Dê lembrança a minha família,
Que não posso mais voltar.
Maria morreu por mim,
Por ela vou me acabar.
Aqui dentro destas pedras
Três almas cá vão ficar.
Nós não casamos na terra,
Mas no céu vamos morar”.


(...)