segunda-feira, 11 de junho de 2012

O mais completo cordel sobre o Rei do Baião


Vida e Obra de Gonzagão - O mais completo Cordel


Muitos livros já foram escritos sobre Luiz Gonzaga. Na literatura de cordel, então, é impossível precisar a quantidade de folhetos que enfocam o Rei do Baião. É a personalidade musical mais biografada, ao lado de Roberto Carlos e Raul Seixas. Nem todos os folhetos, verdade seja dita, são laudatórios, mas a grande maioria rende tributo ao grande artista pernambucano, glória da cultura brasileira. A diferença deste Vida e obra de Gonzagão, assinado por Cacá Lopes, é o cuidado na pesquisa, que rendeu 380 estrofes. Desde o nascimento na fazenda Caiçara, município de Exu, no sertão pernambucano, até a morte no Recife, passando pelas homenagens póstumas, a impressionante trajetória do Rei do Baião ganha seu mais completo registro em cordel.

Para entendermos melhor a presença de Luiz Gonzaga na poesia popular brasileira, apresentarei uma pequena antologia, com estrofes pinçadas de cordéis e poemas.

Começarei por esta estrofe em martelo agalopado, de autoria de Oliveira Francisco de Melo, o Oliveira de Panelas, extraída da apresentação  do Dicionário Gonzagueano, de A a Z , de Assis Ângelo. Estão reunidos numa única estrofe o local e a data de nascimento, a trajetória musical e a partida, a dois de agosto de 1989, do Rei do Baião. Que biógrafo, por mais abalizado, manteria tal poder de síntese? Vejamos: 

Na fazenda Caiçara ele nasceu
Dia 13, dezembro o ano doze
Superar seu reinado ninguém ouse
Pois aos gênios o mundo se rendeu
Dezenove, oito nove, faleceu
Dia dois de agosto, triste dia!
A sanfona calou a melodia
O Baião não tem mais substituto
O Nordeste gemeu e botou luto
Pela falta de sua companhia.

Agora, do cordelista cearense Klévisson Viana, um dos timoneiros da nova geração de vates populares, é um trecho do folheto Lua do Sertão, a História de um Rei, em que narra encontro de Gonzaga com Humberto Teixeira, seu mais importante parceiro musical:

Pois foi Deus quem colocou
Humberto no seu destino:
Criaram muitos sucessos
Cada qual mais genuíno
Inclusive a Asa Branca
Que no Nordeste é um hino.

Em 2007, organizei um cordel, lançado pela editora Luzeiro, em comemoração aos 60 anos da toada Asa Branca. O folheto foi lançado na Praça da Sé, em evento coordenado por Assis Ângelo.  Criei  um mote — Foi voando nas asas da Asa Branca / Que Gonzaga escreveu a sua história,  glosado por poetas da estirpe de Mestre Azulão, Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Oliveira de Panelas, João Paraibano, Valdir Teles, Moreira de Acopiara e Klévisson Viana. 

Como exemplo, estas duas estrofes em martelo:

Dos acordes de um grande brasileiro,
Um intérprete da alma de seu povo,
Sai um canto que sempre será novo,
Amoroso, sincero, alvissareiro.
Entre os hinos do seu cancioneiro,
O que fala duma ave migratória
Conferiu a Luiz eterna glória
Para além desta vida que se estanca.
Foi voando nas asas da Asa Branca
Que Gonzaga escreveu a sua história.

Eu também levo o fardo do migrante
Carregando amor com melancolia,
Que abastecem a minha poesia,
Semeada em terra tão distante.
E se a vida me fez um retirante,
Não me rendo à tão cruel escória,
Antes canto a verve meritória
Que ao gênio, lhe serve de alavanca.
Foi voando nas asas da Asa Branca
Que Gonzaga escreveu a sua história.

A responsabilidade de Cacá Lopes, portanto, é enorme. E ele não se fez de rogado. Muitas são as estrofes dignas de nota, mas esta, que trata do batismo do pequeno Luiz, chama a atenção por uma palavra, comprobatória do envolvimento do autor com o tema.

Os padrinhos do menino
Também são da região,
O Sr. João Moreira
E Dona Neném, que não
Mediram esforços, Luiz
Deixava de ser pagão.

Pagão é o menino não batizado, segundo a doutrina católica. Outro costume, herdado de Portugal, o de batizar a pessoa com o nome do santo festejado no dia do nascimento, não foi esquecido por Cacá Lopes:

O nome Luiz Gonzaga
Do Nascimento foi dado,
Na igreja de Exu
O bebê foi batizado
Dia 5 de janeiro
Gonzaga foi consagrado.

O Nascimento, sugestão do padre José Fernandes, deve-se ao fato de o menino ter nascido em dezembro, mês do Natal.  O  Luiz é uma homenagem à Santa Luzia, festejada a 13 de dezembro, data em que Gonzaga veio ao mundo.

Mais adiante, Cacá traz um a informação que, sem ser novidade,  soa original:

Seu ídolo da época era
Virgulino, o Lampião.
Sonhava entrar no bando
E desbravar o sertão,
Quem sabe tocar sanfona
E o grupo bailar no chão.

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, sabemos, foi  uma das inspirações para a composição do “personagem” Luiz Gonzaga: chapéu de cangaceiro, cartucheiras e alpercatas de rabicho. Lampião é o personagem histórico de maior presença no cordel. 

 E, tentando ser original, finalizarei esta tentativa de Prefácio em versos, já que, da mesma forma que Cacá Lopes, fiz do cordel profissão de fé:

Eu saúdo o poeta Cacá Lopes,
Cantador das belezas do sertão,
Que falou de Luiz, Rei do Baião,
Decantado  em sextilhas e galopes,
Pois galgou na canção todos os topes
E deixou um exemplo salutar.
Eu também aqui quero celebrar
Esse gênio que foi Luiz Gonzaga,
Bem feliz, porque vejo a sua saga
Recriada na lira popular.

Nota: prefácio do livro Vida e obra de Gonzagão (Ensinamento Editora).

Pedidos: poeta@cacalopes.com.br



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