terça-feira, 28 de agosto de 2012

O fantasma que pede boleia

A Moça que Dançou Depois de Morta, folheto de J. Borges.


O Cordel Atemporal, orgulhosamente, publica um texto, enviado via Facebook, pelo pesquisador português e grande amigo José Joaquim Dias Marques, do Centro de Estudos Ataíde Oliveira, da Universidade do Algarve, Faro, Portugal:



Em lembrança da tua dupla atividade de grande coletor de literatura oral e de excelente cordelista [os interessados podem ver a tua página no FB], aqui te deixo uma versão duma CANTIGA NARRATIVA que recolhi da TRADIÇÃO ORAL, embora provenha de um folheto de CORDEL que, de tão famoso, acabou por entrar na oralidade.O curioso é que esse folheto é a versificação (feita por algum autor tradicionalista, talvez um dos cegos cantores que, de terra em terra, cantando e vendendo folhetos, percorriam Portugal, até à década de 70 do séc. XX) duma LENDA, em prosa, que existiu e continua a existir na tradição oral portuguesa e... na de meio mundo. Trata-se da famosíssima lenda conhecida em inglês com o título de _The Vanishing Hitchhiker_, a que se poderia chamar em português _O Fantasma que Pede Boleia/Carona_ 


A expansão desta lenda em todos os continentes mostra que ela é bem antiga, e, de facto, existe até uma sua versão, sueca, registada num manuscrito de 1602. E, tal como não é exclusiva (bem longe disso!!) da tradição portuguesa, também a sua transformação em canção não se fez só em Portugal. Aliás, no meu FB postei, em 10/7, uma canção "pop" norte-americana que consiste, também ela, na versificação de um texto desta lenda.

Aqui fica, pois, a versão da cantiga narrativa portuguesa, que recolhi a 22/1/2004 (e depois, novamente, a 8/7 do mesmo ano) de Filipa Faísca de Sousa, de 69 anos, da aldeia do Borno, freguesia de Querença, concelho de Loulé, distrito de Faro.

É mesmo para admirar
o que no Porto se passou:
uma morta a bailar
com o seu par a dançar
toda a noite ela dançou.

No baile até de madrugada,
aquela rapariga ali dançou,
de mãos e cara gelada,
quase sempre muito calada,
até que o baile terminou.

— São horas de me retirar,
a hora vai-se chegando.
(dizia para o seu par)
Não me posso demorar,
por mim estão esperando.

Saíram juntos para fora,
e um fresco vinha do rio.
— Sendo tarde, a esta hora,
levo a menina aonde mora,
neste caminho sombrio.

Que fresquinho, meu amor,
nos está a acompanhar.
— Não tem frio o senhor?
Pois eu não tenho calor,
tenho o corpo a arrepiar.

— Se a gabardine quer vestir,
empresto-a com todo o gosto.
— Obrigadinha — a sorrir.
Sem desconfiar, sem sentir
quem seria aquele rosto.

Logo que à porta chegava,
do rapaz se despedia,
e ela lhe perguntava
se a gabardine deixava,
para ir buscar no outro dia.

E assim se sucedeu.
Voltando no outro dia,
logo que à porta bateu,
uma mulher apareceu,
perguntando o que queria.

— Ontem à noite acompanhei
uma rapariga até aqui,
com quem no baile dancei,
e uma gabardine emprestei,
que ao pedido cedi.

— Na porta está enganado.
E disse-lhe o nome seu.
— O senhor está equivocado:
há tanto tempo passado
que essa rapariga morreu.

E o retrato lhe mostrou
da filha que lhe morreu.
E ele então confirmou
que era aquela com quem dançou,
era mesmo o retrato seu.

Foi ao cemitério e viu
a gabardine estendida.
Puxou-a, mas não saiu,
e umas mãos frias sentiu
daquela alma perdida.

Tenda de Cordel da Mostra Chapéu de Palha é destaque em São Paulo



Nos dias 25 e 26, a Literatura de Cordel teve como palco o Vale do Anhangabaú, como parte do evento que homenageou o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, no ano de seu centenário.

No palco principal, artistas como Dominguinhos e Elba Ramalho, relembraram os maiores sucessos do grande porta-voz do Nordeste.

Pela Tenda de Cordel passaram cordelistas, repentistas e músicos, sob a batuta dos produtores Sergio Silva e Telma Queiroz.

O sucesso da iniciativa pode ser conferido nas imagens abaixo:

Cacá Lopes, cantor, cordelista e folheteiro.
Com Costa Senna e o grande aboiador Zé de Zilda.
Fatel Barbosa, cheia de ginga e de graça.
Com Gregório Nicoló e Darlan Ferreira.
João Gomes de Sá em sua lida de menestrel.
Cleusa Santo botando banca.
Aldy Carvlho e seu "Preguiçoso".
Frei Varneci, João e Cacá Lopes.
Clô Peroni, Telma e Erick Silva.
Com Eufra Modesto, contador de causos.
Sapiranga da Bahia fotografado por Mazé "Gomes de Sá" Freitas.
Mazé, agora atuando como folheteira.
Genival Lacerda, Darlan, Fuba de Taperoá, Téo Azevedo e eu.
Fernanda Ortega, Socorro Lira e Pedro "Chicó" Monteiro.
Darlan com mestre Dominguinhos.
Moreira de Acopiara relembra o sertão que o viu nascer.
Vejam em que se inspiraram os idealizadores do palco Lua.