quarta-feira, 20 de março de 2013

Projeto No Sopro da Cultura dignifica o município de Serra do Ramalho


Mesmo sem apoio do poder público municipal, que parece cego e surdo às manifestações da cultura popular, o projeto "No Sopro da Cultura", realizado entre os meses de dezembro a março na comunidade de Agrovila 07, município de Serra do Ramalho, Bahia, foi um grande sucesso. E isso se deveu ao apoio da comunidade e à persistência da professora Silmária Ferreira, coordenadora do projeto e diretora do colégio Bom Jesus, onde foram realizadas as oficinas de confecção de tambores, ministradas por mestre Domingos, da Fazenda Batalha, e de sopro, ministradas por Benigo, de Bom Jesus da Lapa. A iniciativa, entre outros objetivos, visava à revitalização da Banda de Pífanos Irmãos Maciel, originária do povoado de Boa Vista, que margeia o Rio São Francisco, e foi levada para a Agrovila 07 na década de 1970, por Aurelino Maciel e Manoel Maciel (Manelinho), já falecidos, filhos do patriarca Gregório, criador do grupo folclórico.

Um evento apresentou a iniciativa ao público no dia 6 de janeiro, escolhido não por acaso. Afinal, no calendário das tradições populares, nesta data são festejados os Santos Reis. Apresentações musicais, como as de Paulo Araújo, o Paulão, contagiaram a plateia, que ainda ouviu os cantos de são Gonçalo, entoados por Dona Maria da Boa Esperança, mãe do vereador Adalberto da Colônia, o único líder político com mandato a prestigiar o evento. O projeto "No Sopro da Cultura" foi uma das iniciativas selecionadas pela FUNARTE (Fundação Nacional de Artes) entre as propostas encaminhadas por grupos e comunidades do Território Velho Chico. Teve como curadora Lucélia Borges e, além de Paulo Araújo, foi apoiado por Itamar Mendes, responsável pela clipagem e pelos registros fotográficos nos meses de sua realização.

Mestre Domingos escava e burila o tronco de tamboril.
Palestra "Tradição e identidade" com Marco Haurélio.
Paulão e Itamar Mendes, cheios de graça.
Pedro Ivo, o menino do tambor.
Professora Silmária Ferreira, coordenadora do projeto.
Apresentação de Paulão Araújo (Mourão de Privintina).
Oficina do professor Benigo
Lucélia Borges.
Dona Maria da Vila Boa Esperança entoa versos de São Gonçalo.
O amigo Everaldo Totói, que marcou presença 
no evento do dia 6 de janeiro.
Samba de roda ao som da Banda de Pífanos Irmãos Maciel.

Assista abaixo à clipagem feita por Itamar  Mendes com os vários momentos do projeto.




Zé Fortuna e Silvino Pirauá: a cultura caipira abraça o cordel


Zé Fortuna, um dos maiores poetas da música sertaneja. 


No meu livro Breve História da Literatura de Cordel (Claridade) apresento alguns temas aproveitados pela poesia bárdica do Nordeste e pelo cancioneiro caipira de São Paulo e Minas. Eu, que não gosto de confinamento e acredito que toda manifestação artística está em perene construção, não me surpreendo com descobertas semelhantes. As histórias trágicas são mais comuns, principalmente as do ciclo do boi e as que remetem à tragédia grega. Exemplo disso é a História de Zezinho e Mariquinha, de Silvino Pirauá de Lima, que foi resumida em quadras de dez sílabas pelo grande Zé Fortuna:

Mariquinha, moça rica e muito linda,
no palácio da nobreza era a flor
em seu jovem coração da mocidade,
dedicava por Zezinho o seu amor

E os pais de Mariquinha não queriam,
por Zezinho ser um pobre sem vintém
mas no mundo a maldade não consegue,
separar dois corações que se quer bem.

Foi assim que o Zezinho foi-se embora,
pelo mundo com a sorte foi lutar
na esperança de um dia enriquecer
e poder com Mariquinha se casar.

Nesse tempo que o Zezinho esteve ausente,
oito anos sem jamais comunicar
com seu primo, homem idoso que ela odiava,
obrigaram Mariquinha a se casar.

E depois de oito anos sem notícia,
milionário o Zezinho regressou
pois foi mesmo justamente neste dia,
com seu primo Mariquinha se casou.

Estava ainda com seu véu de casamento,
Mariquinha com Zezinho encontrou
num abraço de paixão os dois morreram,
e assim este romance terminou.

Nota: Há, além da de Pirauá, mais duas versões de Zezinho e Mariquinha. Uma de Artur da Silva Torres, publicada no Rio de Janeiro, na década de 1940. Outra mais recente, de Antônio Teodoro dos Santos, publicada pela Editora Prelúdio de São Paulo, uma década depois, na este assina sob um de seus pseudônimos, Trovador Jaguarari.