quarta-feira, 26 de março de 2014

Banca nacional do Cordel voltará à Praça Cayru

A peleja dos cordelistas para manter a tradição


Por: Marcos Dias, Jornal A Tarde

O aniversário é de Salvador, mas o inferno astral parece ter sido dos repentistas, violeiros e poetas da literatura de cordel. Desde que a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) determinou o reordenamento para camelôs e artesãos da Praça Cayru,  em frente ao Mercado Modelo, em 21 de outubro do ano passado, os artistas populares ficaram sem ter onde se apresentar nem comercializar  seus livros e discos.

Mas na última segunda-feira, com a inauguração do Palco dos Cordelistas, no mesmo local onde a Ordem Brasileira dos Cordelistas e Poetas da Literatura de Cordel mantinha uma banca, integrando a programação do Festival da Cidade, a peleja contra o dragão da insensibilidade administrativa teve fim.

Pelo menos foi o que garantiu o secretário do Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani: "Foi o tipo de situação  que devemos aprender com os erros. Não foi intencional, mas eles foram equivocadamente retirados. A gente espera que daqui para a frente o palco seja a grande âncora desta Praça".

O secretário garantiu que após as comemorações do aniversário da cidade, o palco vai permanecer e será administrado pela própria Ordem dos Cordelistas.
Um novo lay-out na estrutura também vai enfatizar as referências nordestinas  no equipamento da prefeitura. E, dependendo da experiência, Bellintani também considera implantar palcos semelhantes em outros espaços da cidade.
A frase mais ouvida durante as apresentações, entre os repentes,  traduzia o  alívio que os artistas populares sentiram: "Graças a Deus que a Praça voltou!".

As apresentações do Festival dos Cordelistas  continuam até sábado,  com apresentação de  Bule-Bule e  atrações como  Lavandeira, Bem-te-Vi, Antonio Queiroz, Sabiá e Zé Querino e Caboquinho e João Ramos, entre outros.

O presidente interino da Ordem Brasileira dos Cordelistas, Antonio Tenório Cassiano, 71, que atende pelo nome artístico de Paraíba da Viola, tem  razão em comemorar.  "Nosso trabalho aqui não é de camelô, é cultura. E essa cultura é tão forte que nem os poetas sabem direito da potência que ela tem. Não é muito respeitada, como agora fizeram, mas deram fé que fizeram errado".

No comando
Antes de saber o que seria do ponto em que se apresentam desde 1978, Paraíba tentou falar duas vezes com a titular da Semop, Rosemma Maluf, mas não foi atendido. Na época, fez o que um artista faz de melhor e criou: "A secretária quer levar nossa cultura de eito, /mas eu confio em Jesus que isso vai ter um jeito, /porque Deus tá no comando e manda mais do que o prefeito".

A fé, ou o empenho do cordelista no seu ofício e identidade, se fundamenta na honra. Filho do poeta popular Candido Tenório do Nascimento, desde criança se acostumou com as cantorias  em casa. "Toda vida fui poeta. Triste de mim se não tivesse essa profissão".

Mesmo assim,  costuma dizer que só conta sua carreira a partir de 1990. Natural da Serra do Teixeira (PB), ele veio para Conceição do Coité em 1975.  Até então, não bebia, com medo do pai, mas uma vez por aqui, as coisas desandaram.

"A mulher sofreu muito, não sofreu agressão fisica, mas sofreu muita fome, muita vergonha, e os filhos. Graças a Deus, Ele me botou no AA e eu conto minha profissão desse tempo para cá".
Agora, enquanto não puderam estar na Praça Cayru, as dificuldades da Ordem dos Cordelistas  aumentaram. A maior foi a manutenção do aluguel da Casa do Cantador, que a Ordem mantém em Dom Avelar. "Nós, poetas populares, somos esquecidos pelo poder público. Você não tem uma ajuda de custo de um centavo".


Para ler a matéria completa, clique AQUI

Nenhum comentário: