quinta-feira, 19 de novembro de 2015

150 ANOS DO MESTRE MAIOR DO CORDEL

Leandro Gomes de Barros em linoleogravura de Jô Oliveira.

Hoje, 19 de novembro do Ano da Graça de 2015, é um dia especial para muita gente. Sim, é o Dia da Bandeira, cujo hino foi composto por Olavo Bilac. Mas é também o dia de Leandro Gomes de Barros, o bardo paraibano que desfraldou a bandeira do cordel por aqui, ajudando a construir o gênero poético brasileiro por excelência: o cordel. A partir das muitas matrizes e dos muitos matizes que dão forma à nossa cultura, desde os romances ibéricos à gesta medieval, passando pelos batuques das senzalas e pelos encantados da mata branca, refúgio dos barbatões e dos mistérios que a noite ora esconde ora revela, Leandro construiu uma teia poética que envolveu gentes e sentimentos, arte e afeto, vida e poesia.

Meu primeiro contato com sua obra se deu com a História de Juvenal e o Dragão, garimpado de uma gaveta de armário rústico na casa de minha avó Luzia, na Ponta da Serra, sertão carrascoso da Bahia. De tanto ler a saga de Juvenal que, auxiliado por três cachorros, Rompe-Ferro, Ventania e Provedor, vence um dragão devorador, aos sete anos já a sabia de cor, do primeiro (“Quem ler essa história toda”) ao último verso (“Voaram e se foram embora”). O que eu não entendia, na época, era como este poeta, desprezado pela obtusidade das igrejas literárias, estava tão vivo na mentalidade sertaneja.

O cachorro que guardava a casa de meus avós paternos chamava-se Provedor, homenagem clara a um dos auxiliares mágicos do herói Juvenal. O protagonista também é muito lembrado pelo povo, batizando muitos meninos dos sertões de vários estados. Um primo de minha mãe, casado com outra prima nossa, Lucivande, Renato, recebeu de meu pai o inusitado apelido de Conde Aragão, extraído do romance Os Sofrimentos de Alzira. A história de Alzira, vale lembrar, é uma versão da famosa Imperatriz Porcina, que já foi Crescência, Florência e Hildegarda, e está nas páginas do Tuti-Namé persa e no ciclo medieval dos Miracles de La Vierge. Juvenal, por outro lado, é a versão sertaneja de Perseu, de São Jorge e de Tristão. Leandro, como se vê por estes poucos exemplos, era um poeta universal.

Nascido a 19 de novembro de 1865, portanto há 150 anos, Leandro vive na memória afetiva de muitos leitores e nas páginas de centenas de cordéis, lidos e relidos até em outras artes, do teatro ao cinema, nos campos sem cerca do imaginário.

 
Selo comemorativo criado por Jô Oliveira.

Um comentário:

ione disse...

Nos 150 anos do poeta maior da Literatura de Cordel rendemos homenagens para o justo reconhecimento da sua obra para nossa cultura e nossa história. Nestes dias 18 e 19 de novembro de 2015 a cidade de Pombal, berço de Leandro Gomes de Barros vivenciou muitos momentos emocionantes, pois criamos a primeira Cordelteca Leandro Gomes de Barros, acolhida pela Academia de Letras de Pombal, O poeta também recebeu a homenagem dos Correios com o selo postal dos 150 anos do poeta e tivemos a grata satisfação de, durante a solenidade de lançamento do selo postal, compartilhar a noticia da premiação do Prêmio Jabuti, com o poeta amigo Klévisson Viana que estava ema Pombal participando dos eventos.Encerramos a programação do Ano Cultural Leandro Gomes de Barros em Pombal em grande estilo.