terça-feira, 12 de julho de 2016

Vem aí O Cavaleiro de Prata


O gênero fantasia não tem merecido muita atenção dos poetas cordelistas da atualidade, em que pese sua importância ao longo da história. Não por acaso, todos os grandes contadores de história do cordel têm obras no gênero. Comecei a escrever o romance O Cavaleiro de Prata em 1992 e só concluí ano passado.
No enredo, há muitas referências à mitologia nórdica e ao cinema e a história está estruturada como um roteiro de filme de aventura do subgênero “sword and sorcery” (o que não é inédito em minha obra, haja vista O Herói da Montanha Negra).
Com ilustrações de Klévisson Viana, a obra sairá, ainda este, com o selo da Editora de Cultura.

Abaixo, a brevíssima apresentação:
O romance de cordel O Cavaleiro de Prata foi iniciado em 1988, e era ambientado na Inglaterra, uma aventura heroica, inspirada na lenda arturiana e na história de Robin Hood. Não consegui, na época, chegar ao fim da história do jovem Henry, que, ao lado de um grupo de mercenários, combate o despótico rei Ricardo. Em 1992, reescrevi o texto, transportando a história para outro cenário, a Jutllândia, parte da atual Dinamarca, mas não o concluí. Entraram em cena outros personagens: o príncipe Borg, o gigante Guruk, descendente de Skrimir, e a princesa Fridda. As referências à mitologia nórdica pontuam todo o cordel.
Em 1996, escrevi mais algumas linhas, só voltando à saga 10 anos depois. Em 2010 e 2013, cortei várias estrofes e inseri outras, corrigindo a métrica, sem mexer no enredo original e nas rimas. E, no dia 11 de setembro de 2015, finalmente, concluí a obra, totalizando 244 estrofes que cobrem 27 anos de trabalho.
Com O Herói da Montanha Negra, escrito em 1987, mas publicado somente em 2006, homenageei a mitologia grega, sem me basear num episódio ou mito específico do panteão clássico. Com O Cavaleiro de Prata, adentro as florestas e escalo as montanhas geladas da mitologia nórdica (e germânica). Evoco seus guerreiros sedentos de glórias, escondidos sob arneses, brandindo a espada contra os inimigos, humanos ou sobrenaturais. Evoco o amor, vassalo da honra, aparentemente vencido pela morte e pelo tempo.

Terras há muito esquecidas
Hoje estão repovoadas,
Seus cenários recobertos,
Suas glórias olvidadas,
E as grandes lendas parecem
Para sempre sepultadas.
Porém como uma centelha
A lenda chega até nós,
Revivendo uma era mítica
Como igual não houve após,
De cujas reminiscências
Falavam nossos avós.
Na argila sumeriana,
No cretense pavimento,
No papiro faraônico,
No gaélico monumento
Forjou-se a eternidade
Além do fugaz momento.
As caravanas cruzavam
Os desertos do existir,
Quando as falanges da História
Marchavam rumo ao porvir,
O sol sorria fulgores
Olhando a noite dormir.
Os fatos que se passaram
No alvorecer da História
Foram logo enriquecidos
Pelo poder da memória.
Trazem figuras notáveis
E heróis cobertos de glória.
O vento vaga no norte
Do continente europeu
Narrando a saga dos povos
Que o tempo quase esqueceu,
Porém, cuja tradição
De todo não se perdeu.
Pois ainda sobrevive
Nas narrativas orais
Que conseguiram transpor
As fronteiras nacionais,
E, espalhadas pela Terra,
Se tornaram imortais.
A lenda do príncipe Borg,
O guerreiro altivo e forte,
Há séculos encheu de orgulho
Os velhos povos do Norte,
Que celebraram seus feitos
Em vida e depois da morte.
Filho do rei godo Inger,
Há anos estava ausente
Lutando contra os avaros
Numa guerra inconsequente,
Que depois lhe pareceu
Sangrenta, vã, inclemente.
Uma armadura possante
O seu corpo protegia.
Se um perigo o ameaçasse,
A sua espada brandia;
Por Cavaleiro de Prata
Todo o mundo o conhecia.
Nas andanças, travou lutas
Com monstros descomunais,
As criaturas perversas
Dos gigantes ancestrais,
Que, vez ou outra, causavam
Algum trabalho ao rapaz.
Queria provar ao pai
Sua bravura tamanha.
Para tanto era preciso
Obrar incrível façanha
E encher de orgulho as terras
Da primitiva Alemanha.

(...)