sexta-feira, 10 de março de 2017

A TRISTE HISTÓRIA DE JOÃO VICTOR E A LANCHONETE HABIB'S

Capa: Jorge Guidacci



PRÓLOGO

O coração de manteiga
Que a natureza me deu
Não pode ficar isento
Ao caso que aconteceu...
Uma criança agredida,
Só porque pediu comida
Pra saciar sua fome?
Se eu ficasse calado
Meu coração revoltado
Renegaria o meu nome.


APRESENTAÇÃO

Parabéns pelo cordel. Um grito no silêncio que impera nesse mundo de barbárie. Não mais que a história narrada, com a beleza da arte. Fato é fato. Não há uma linha, um verso nas estrofes em que exista uma calúnia, injúria e difamação. Mas a defesa da vida, da dignidade humana, em forma de poesia. Pois a vida é uma poesia no deserto do mundo inorgânico. Mas a vida e o direito à vida tem sido aviltado. Poesia denúncia. Poesia história. Poesia cidadã. Publiquem e deem voz a essa vítima. Vocês estão protegidos pela liberdade de expressão. Publiquem e denunciem que está longe da Constituição virar realidade no universo dos brasileiros. Fracasso do Estado. Fracasso da política. Fracasso da sociedade. Nesse caos e nesse inferno, só a arte pode falar mais alto que a loucura. 

Um forte abraço. Sucesso.

Dr. Valdecy Alves – Advogado, escritor e documentarista


A TRISTE HISTÓRIA DE JOÃO VICTOR E A LANCHONETE HABIB'S

Autores: Klévisson Viana e Arievaldo Viana 

Meu coração de poeta
Não pode ficar calado
A pena do cordelista
Precisa dar seu recado,
Protestar contra esse crime
Que me deixou abalado.

Porque a ganância humana
Perdeu de vez a noção,
Não valoriza mais nada;
Só atende ao deus cifrão,
Somente o lucro interessa
Ao homem sem coração.

Este mundo vem errado
Desde o começo da Era,
Quando o homem não domina
O seu instinto de fera,
Age contra o semelhante
E a maldade prolifera.

Surgiram as religiões,
Mas de pouco adiantaram.
Quando vejo as divergências
Que elas próprias criaram,
Percebo que foi inútil
O que os Mestres pregaram.

A morte dessa criança
Não pode ficar de graça,
Pois todo o Brasil espera
Que a Justiça se faça,
Não deixemos que este caso
Vire comida de traça.

Falo aqui de João Victor,
Um pobrezinho sem nome,
Mais um filho injustiçado
Desse Brasil que não come,
Implorando por migalhas
Para aplacar sua fome.

Covardemente arrastado,
Conforme vi na manchete,
Por dois grandes trogloditas
Em frente a uma lanchonete,
Franqueada do Habib’s,
Levando tapa e bofete.


Dizem que até o gerente
Participou da chacina...
A mim não importa o cargo
Dessa serpente assassina,
Mas o vil capitalismo
Que em tudo predomina.

Depois dessa covardia
Os seus pais denunciaram,
Porém os policiais
Sequer se interessaram
De apurar as denúncias,
Desinteresse mostraram.

A grande mídia se cala
Em nome do vil metal,
É covarde e conivente,
Age a serviço do mal,
Joga o país no abismo,
Chafurda no lodaçal.

Se fosse um garoto rico
A vítima dessa maldade,
O caso rapidamente
Teria notoriedade,
Mas como é um pobrezinho,
É vítima da impunidade.

Ficam inventando desculpas
Para atenuar o crime,
Tomando sempre o partido
Daquele que nos oprime,
Porém quem oculta o mal
Seu pecado não redime!

A Lava Jato não lava
Esse tipo de indecência
Dessa imprensa covarde
Que age por conivência...
Por que a Justiça Cega
Não protege a inocência?

Justiça só a de Deus.
Não, dessas feras mesquinhas
Que agem pela ganância,
Almas perversas, daninhas!
Não sabem que Jesus disse:
— Vinde a mim as criancinhas?

Quantas crianças famintas
São vítimas dessa torpeza?
Quando aparece uma voz
Pra consolar a pobreza
É calada e perseguida
Por quem pratica a vileza.

Cadê o Estatuto da
Criança e do Adolescente?
E os Direitos Humanos,
Onde andarão minha gente?
Por que não clamam à Justiça
Para esse pobre inocente?

Quem vive a bater panelas
Não sabe o que é passar fome,
Nem sabe o que é miséria,
Porque todo dia come!
Não cata restos de lixo,
Não é um pobre sem nome.

A vida humana hoje em dia
Não vale mais um real...
A voz de um pobre faminto
Transborda logo o dedal
Do ódio e da violência
Que move a máquina do mal.

O caso foi em São Paulo
E as câmeras registraram
E mostram os dois brutamontes
Que a criança arrastaram,
Porém para inocentá-los
Mil versões apresentaram.

Mas não são os seguranças
Que eles querem proteger.
Há interesses mais fortes,
Todos podem perceber;
Quem entende de negócios
Sabe o que eu quero dizer.

Não é preciso ser GÊNIO
Para entender a questão,
Nem ter a sabedoria
Do grande Rei Salomão;
Tudo provém da ganância
Do maldito deus Cifrão.

As fotos mostram um menino
Pequeno, magro e mirrado,
Mas tinha um semblante meigo,
Mesmo vivendo humilhado,
Porém a mídia distorce,
Dizendo que era drogado.

Porém, essa alegação,
Da culpa não os redime.
A verdade é que ali
Se praticou mais um crime
Por culpa do Capital
Que nos avilta e oprime.

Pois a balança só pesa
Pro lado que tem dinheiro,
E defende os interesses
Do capital estrangeiro,
Tá cada vez mais difícil
Para quem é BRASILEIRO.

Quando eu digo BRASILEIRO
Falo em quem é PATRIOTA,
Que sente a dor dos irmãos
E a grande miséria nota;
Não em quem bate panelas
Porque esse é IDIOTA.

Nessa pátria sem governo,
Onde o preconceito avança,
Milhões são discriminados
E o capital não se cansa:
Com o seu GÊNIO DO MAL
Assassina até criança.

Se aqui tomamos partido
Perante a sociedade,
É porque fomos crianças
Despidas de vaidade,
Batalhando pelo pão
Nas ruas de uma cidade.

Desde criança sabemos
O quanto é dura a peleja...
Já vi criança humilhada
Na calçada de uma igreja!
Mas Deus que sabe e vê tudo
Não descansa nem fraqueja.

Nós que vivemos no mundo
Precisamos entender
Que a roda da fortuna
Pode se contradizer
E quem hoje está por cima
Poderá retroceder.

Jesus, nosso grande Mestre,
Profeta justo, inspirado,
Diz no Sermão da Montanha
Que é bem aventurado
Quem tem sede de Justiça
Porque será saciado.


FIM.

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