quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Cordel da Cortez homenageia Luiz Gonzaga



No aniversário de 10 anos do projeto Cordel da Cortez, a Livraria Cortez (Rua Bartira 317 – Perdizes. São Paulo Tel.: 11 38737111) presta uma homenagem a Luiz Gonzaga. Entre os dias 18 e 25 de agosto estão programados eventos e oficinas gratuitas para públicos de todas as idades. A iniciativa conta com o apoio institucional do ILGB - Instituto Leandro Gomes de Barros, entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a literatura de cordel, por meio de projetos de pesquisa, programas editoriais de folhetos, livros, revistas e jornais.

Confira alguns destaques da programação

Dia 18/08 – Sábado
Horário: 18 às 20 horas – Entrada Franca
Atividade: Sarau lítero-musical com sessão de autógrafos de diversos livros sobre o tema, lançados nos últimos meses.
Coordenação: ILGB – Instituto Leandro Gomes de Barros. Fundado recentemente, o ILGB foi idealizado e constituído a partir da ampla e profícua atuação cultural de poetas, escritores, editores, pesquisadores, educadores e divulgadores da literatura de cordel, realizando os mais diferentes projetos literários.
Sinopse: Apresentação de vários poetas e artistas engajados neste movimento. Entre eles: Assis Ângelo, Costa Senna, Erivaldo, Goimar Dantas, João Gomes de Sá, Varneci Nascimento, Marco Haurélio, Pedro Monteiro, Cacá Lopes, Moreira de Acopiara, Aldy carvalho, Pedro Monteiro, Sebastião Marinho, Andorinha, Luiz Wilson, Nando Poeta, Marcos Linhares, Wadeck de Guaranhuns, Nireuda Longobardi, Maíra Soares, Arievaldo Viana, Francorli, entre outros.

Lançamentos e sessão de autógrafos no Sarau
Título: Cordéis que educam e transformam
Autor: Costa Senna – Ilustrações: Erivaldo
Editora: Global
Título: Rei do Baião, O – Do Nordeste para o mundo
Autor: Arievaldo Viana – Ilustrações: Jô Oliveira
Editora: Planeta Jovem

Dias 20/08 – segunda-feira
Atividade: Vida e Obra de Luiz Gonzaga por Assis Ângelo
Horário: 19 às 20 hs
Coordenação: Assis Ângelo
Taxa de Inscrição: Gratuito (Necessita de inscrições - Vagas limitadas)
Público Alvo: Público em geral
Sinopse: Bate-papo sobre a Vida e Obra de Luiz Gonzaga em comemoração ao seu centenário. Nesta atividade, Assis discorrerá sobre a obra e a importância de Luiz Gonzaga para a nossa cultura.
Sobre o Autor: Assis Ângelo é paraibano, jornalista, pesquisador e estudioso da cultura popular brasileira. Possui um dos maiores acervos de música popular do Brasil. Entre os vários títulos publicados, destacamos o “Dicionário Gonzagueano de A a Z”, uma verdadeira enciclopédia do maior sanfoneiro do país.

 Dias 21/08 – terça-feira
Atividade: Oficina “CORDEL – Aprenda a fazer, fazendo”.
Horário: 18 às 19 horas
Coordenação: Moreira de Acopiara
Taxa de Inscrição: Gratuito (Necessita de inscrições - Vagas limitadas)
Público Alvo: Público em geral
Sinopse: O universo que permeia a poesia popular é muito vasto e têm inúmeras possibilidades de aplicação. O cordel e o repente refletem a vida de um povo, do povo nordestino, do retirante, do migrante, do homem que vive ligado a terra, mesmo que, por força das consequências da vida, hoje vive afastado dela. Nesta oficina, o público participante terá noção de MÉTRICA, RIMA E ORAÇÃO, que é o tema abordado neste tipo de literatura.
Sobre o autor: Moreira de Acopiara é como Manoel Moreira Júnior assina seus trabalhos. Nasceu em Acopiara, sertão central do Ceará, em 1961, e escreveu seus primeiros versos aos treze anos, influenciado pelos mestres da literatura de cordel e pelos cantadores repentistas. Publicou mais de cem cordéis e vários livros. Gravou dois CDs e desde 2004 faz parte da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC).
Após a oficina, promoveremos um sarau poético com a presença dos “novos autores”.

Atividade: Oficina de Xilogravura
Horário: 18 às 19:30 horas
Coordenação: Mestre Jerônimo Soares
Taxa de Inscrição: Gratuito (Necessita de inscrições - Vagas limitadas)
Público Alvo: Público em geral
Sinopse: Único xilógrafo que costura madeira, técnica desenvolvida por ele mesmo. Nesta atividade, esse artista paraibano, que tem em seu currículo, participação em encontros internacionais, além de uma citação de Jorge Amado, estará expondo ferramentas próprias que ele mesmo produz para a arte de esculpir a madeira.

Atividade: Mesa Redonda sobre a presença da xilogravura na literatura
Horário: 19:30 às 21 horas
Apresentação: Audálio Dantas, Nireuda e Jerônimo Soares
Taxa de Inscrição: Gratuito (Necessita de inscrições - Vagas limitadas)
Público Alvo: Público em geral
Sinopse: Um bate-papo sobre a xilogravura e a sua influência na cultura popular brasileira

Dia 23/08 – quinta-feira
Atividade: Palestra “O abraço da tradição: cultura popular e cordel”
Horário: 18 às 20 horas
Coordenação: Marco Haurélio
Taxa de Inscrição: Gratuito (Necessita de inscrições - Vagas limitadas)
Público Alvo: Público em geral
Sinopse: Atividade que visa apresentar a ponte entre o oral e o escrito, que desemboca neste grande oceano chamado Cultura.
Sobre o palestrante: Com vários livros e folhetos de cordel editados, profere palestras e ministra oficinas sobre a Literatura de Cordel e o Folclore Brasileiro. É um dos fundadores do ILGB – Instituto Leandro Gomes de Barros. Organizou, com Arievaldo Viana, a caixa 12 Contos de Cascudo em Cordel (Editora Queima-Bucha – RN), projeto que reúne adaptações de estórias recolhidas pelo saudoso folclorista potiguar, além de artigos e ensaios enfocando vários temas, com destaque para a cultura popular brasileira.

Dias 24/08 – sexta-feira
Atividade: Sarau líteromusical “Luiz Gonzaga na música e no cordel”
Horário: 19:30 às 20:30 horas
Coordenação: Cacá Lopes
Evento Gratuito
Público Alvo: Público em geral
Sinopse: Resultado de quase uma década gerando as quase 400 estrofes escritas em seis versos. Desde o nascimento na fazenda Caiçara, município de Exu, no sertão de Pernambuco, até a morte no Recife, passando pelas influências de dezenas de artistas brasileiros e homenagens póstumas, a impressionante trajetória do Rei do Baião ganha seu mais completo registro em cordel, Cacá Lopes cantará em verso e prosa Luiz Gonzaga.
Na ocasião, Cacá Lopes, lança o seu novo livro “Vida e Obra de Gonzagão – O mais completo cordel ilustrado sobre Luiz Gonzaga” editado pela editora Ensinamento.
Sobre o Autor: José Edivaldo Lopes, em arte Cacá Lopes é autor do “Projeto Cultural Cordel nas Escolas”, que é apresentados nas instituições Estaduais e Municipais de São Paulo e tem como objetivo reconhecer a importância do Cordel enquanto patrimônio histórico e cultural do nosso povo e estimular a leitura folhetos de cordel e de livros adaptados na linguagem cordeliana junto a alunos, professores e a comunidade escolar.

Dias 25/08 – sábado
Encerramento do VIII Cordel da Cortez – Cultura Popular na Escola
Atividade: CONTAÇÕES NA CORTEZ ESPECIAL “Cordel da Festa no Céu”
Horário: das 11 às 11h40 horas
Apresentação: Cia Rodamoinhos
Evento Gratuito
Público Alvo: Para a criançada
Sinopse: Com o principal objetivo de estimular a leitura e a imaginação das crianças, através dos contos, despertando nelas a necessidade da preservação de valores como o respeito à amizade, o espírito de coletividade e cooperação, o Contações na Cortez — destinado a crianças a partir de 4 anos, é realizado todos os sábado na Livraria Cortez.

Atividade: Lançamento acompanhado de um SARAU POÉTICO do livro “O que é cultura popular?” de autoria do poeta Moreira do Acopiara - Cortez Editora.
Horário: 12 às 14 horas
Apresentação: Moreira de Acopiara
Evento Gratuito
Público Alvo: Público em geral
Sinopse: Em cordel o autor explica o que faz parte da cultura popular e sua importância para a preservação do folclore e da memória nacional.

Atividade: Lançamento acompanhado de um sarau poético do livro “Cores em Cordel” da prosadora e poetisa Magu – Maria Augusta de Medeiros, editado pela Editora Formato.
Horário: das 16 às 18 horas
Apresentação: Maria Augusta de Nedeiros – Magu
Sinopse: As cores são presentes infinitos oferecidos ao nosso olhar. Entretanto, é o dom da palavra que permite dar a cada cor um nome. E é o dom da palavra iluminada pela poesia que faz com que as cores ganhem alma e significado tão certeiros, que podemos enxergá-las, mesmo sem vê-las, apenas com os olhos do coração.

Evento Gratuito
Público Alvo: Público em geral

Principais livros lançados no VIII Cordel da Cortez:
Título: O que é cultura popular?
Autor: Moreira do Acopiara
Editora: Cortez Editora
Título: Cordel no Cotidiano Escolar
Autores: Helder Pinheiro e Ana Cristina Marinho
Editora: Cortez Editora
Título: Cordéis que educam e transformam
Autor: Costa Senna – Ilustrações: Erivaldo
Editora: Global
Título: Cores em Cordel
Autora: Maria Augusta de Medeiros – Magu
Editora: Formato
Título: Colcha de Retalhos - Cordel
Autor: Moreira de Acopiara – Xilogravura: Erivaldo Ferreira
Editora: Melhoramentos
Título: Vida e obra de Gonzagão - O mais completo cordel ilustrado sobre Luiz Gonzaga
Autor: Cacá Lopes
Editora: Ensinamento
No aniversário de 10 anos do projeto Cordel da Cortez, a Livraria Cortez (Rua Bartira 317 – Perdizes. São Paulo Tel.: 11 38737111) presta uma homenagem a Luiz Gonzaga. Entre os dias 18 e 25 de agosto estão programados eventos e oficinas gratuitas para públicos de todas as idades. A iniciativa conta com o apoio institucional do ILGB - Instituto Leandro Gomes de Barros, entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a literatura de cordel, por meio de projetos de pesquisa, programas editoriais de folhetos, livros, revistas e jornais.
Fonte: Publish News

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sugestão de leitura para o mês do Folclore


No mês do folclore, sugiro a leitura de O noivo defunto e outros contos de mal-assombro (Claridade), livro que reúne oito narrativas colhidas da tradição oral.

SINOPSE
Histórias de assombração são muito comuns no interior do Brasil. Este livro reúne oito contos deste gênero recolhidos por Marco Haurélio, cordelista e estudioso do folclore brasileiro. Algumas narrativas assustam, a exemplo de O noivo defunto e A mendiga; outras, apesar dos elementos sobrenaturais, são bem divertidas, como O corcunda e o zambeta. Em todas, porém, prevalece um traço marcante: a reunião de crenças de origens diversas, preservadas pela memória popular e transmitidas por incontáveis gerações.

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Alencar nas rimas do cordel


A coleção ALENCAR NAS RIMAS DO CORDEL é composta de oito adaptações em cordel de romances do escritor cearense José de Alencar (1829-1877), selecionados entre os títulos mais relevantes de sua produção literária. Levando em conta a diversidade de temáticas, foram escolhidos três romances indianistas, três urbanos/de costumes e dois regionalistas. Oito cordelistas de reconhecimento notório no meio literário foram selecionados para assinar as versões:

Títulos da Coleção
Adaptadores
Iracema
Stélio Torquato
O Guarani
Fernando Paixão
Ubirajara
Godofredo
Lucíola
Marco Haurélio
A Viuvinha
Rouxinol do Rinaré
Senhora
Gadelha do cordel
O Sertanejo
Evaristo Geraldo
O Tronco do Ipê
Arievaldo Viana

José de Alencar é um dos escritores cearenses de maior relevância no cenário nacional. Considerado por muito analistas como o fundador de uma literatura nacional, suas obras podem ser classificadas dentro de quatro tendências: indianistas, urbanas/de costumes, regionais e históricas. Um dos primeiros a explorar temáticas brasileiras como a fauna, a flora, o elemento indígena, a obra de Alencar foi decisiva para criar uma feição nacionalista nas letras, valorizando a língua portuguesa e a cultura brasileira. A obra de José de Alencar oferece subsídios para entendimento da formação da sociedade brasileira, sobretudo em relação ao elemento indígena e suas relações com o colonizador. É importante, porém, fazer uma leitura crítica, considerado a época em que as obras foram escritas e as interpretações da historiografia atual para os contextos expostos.

O cordel teve, ao longo do tempo, estreita ligação com obras literárias em prosa. Desde o século XIX, histórias europeias e orientais vêm sendo adaptadas em verso por poetas nordestinos, constituindo-se no primeiro ciclo temático do cordel.  A adaptação de romances em cordel facilita o acesso a obras da literatura erudita, sendo extremamente oportuna sua utilização na sala de aula e em projetos de leitura. Além de atrair o leitor, por se utilizar de uma forma de expressão já conhecida e apreciada, constituem-se em um estimulo a para uma leitura posterior da obra original. Em relação ao romance brasileiro, um dos primeiros adaptados para o cordel foi Iracema, pelo poeta Alfredo Pessoa, em 1927. O livreto alcançou grande popularidade, sendo responsável por difundir a obra de Alencar em um circuito de leitores oriundos da zona rural, com pouco grau de instrução formal. Inspirado nessa experiência pioneira, esta coleção objetiva a difusão da obra do escritor, da literatura de cordel, bem como os estudos críticos relacionados aos contextos históricos e sociais.
Notas: 1. A coleção ALENCAR NAS RIMAS DO CORDEL integra o catálogo  do ARMAZÉM DA CULTURA.
2. Trecho da adaptação de Lucíola, escrita por mim especialmente para a coleção:


Quando o amor faz pousada
No coração dos amantes
Provoca grandes mudanças,
Causa dores lancinantes,
E quem ama tem certeza:
“Nada será como antes”.

A história aqui narrada,
Que relata um caso sério,
Fala de um drama pungente,
Envolvido num mistério,
Foi passado no Brasil
Inda no tempo do Império.

Foi no século XIX,
Cinquenta e cinco era o ano,
Em que Paulo Silva, um jovem
Do torrão pernambucano,
Foi ao Rio de janeiro,
Sem ter medo nem engano.

Mas vamos dar voz a Paulo,
Pois é o protagonista,
E os fatos aqui narrados,
Sob seu ponto de vista,
Serão aceitos porque
Não são invenção de artista:

Leitores, meu nome é Paulo,
Pernambucano de Olinda,
Vim ao Rio de Janeiro,
Essa cidade tão linda,
Sem imaginar que aqui
Ficaria na berlinda.

Na capital federal
Quis construir minha história.
Com um amigo de infância,
O Sá, de boa memória,
Eu fui, todo prazenteiro,
Pra ver a festa da Glória.

Ali, naquele momento,
Vi ante mim desfilar
Brancos, negros e mulatos,
Gente de todo lugar,
Desde o banqueiro ao mendigo,
Banhados pelo luar.

A lua vinha assomando
Pelas montanhas fronteiras,
Quando notei que passava,
No meio das rezadeiras,
Uma moça tão bonita
Quanto as deusas estrangeiras.

(...)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Florentino e Mariquinha no Tribunal do Destino


Há algum tempo morando em São Paulo, no ir e vir constante da metrópole, uma história martelava na minha cabeça e uma voz interior sentenciava: “Escreva-a”. A história teria como ponto de partida um conto tradicional, O testemunho das gotas de chuva, narrado por minha avó materna, Alaíde Maria Fernandes, e reproduzido no livro Contos e fábulas do Brasil (Nova Alexandria, 2011). Percebi, no entanto, que o conto, em sua forma original, era insuficiente para um romance em versos de fôlego. Precisava criar um enredo atraente com personagens convincentes, além de descrever os costumes sertanejos, já que a trama se desenvolve em algum recanto do Nordeste.

No enredo deste Florentino e Mariquinha no Tribunal do Destino, aparecem as festas religiosas do Brasil, como o São João e a Festa do Divino, ambas de origem pagã, ligadas a tradições vetustas que envolviam ritos da fertilidade e sacrifícios propiciatórios. O fatalismo árabe presente neste romance é o leitmotiv de romances de cordel como Os Três Conselhos da Sorte, de Manoel D’Almeida Filho, A Triste Sorte de Jovelina, de Sátiro Xavier Brandão, e o meu Os Três conselhos Sagrados.

O enredo, em sua parte final, apoia-se no motivo universal da “natureza denunciante”, estudado e transformado em ciclo pelo mestre maior dos estudos etnográficos no Brasil, Luís da Câmara Cascudo. Há um intertexto com a obra basilar do cordel, O cachorro dos mortos, do pioneiro Leandro Gomes de Barros, que se insere, assim como esta, na tradição milenar dos romances trágicos, aos quais o Nordeste brasileiro imprimiu novo significado com o drama do cangaço, as tocaias nas encruzilhadas e os crimes de “honra”. Tudo isso envolvido pela crença em uma justiça imanente, que recusa os sacrifícios injustos e pune os que violam os domínios da Natureza, outrora deificada.

Eis o início desta história, que a Editora Luzeiro, a mais tradicional casa publicadora da literatura de cordel brasileira, incluiu em seu catálogo:

Escrevo histórias rimadas
Desde os tempos de menino,
E agora conto mais uma
No meu verso genuíno:
Florentino e Mariquinha
No Tribunal do Destino.

Meus versos fazem parada
No Reino da Inspiração
Para recontar um drama
Passado no meu sertão,
Mostrando que um crime bárbaro
Não ficou sem punição.

Na fazenda Boqueirão,
Um recanto do Nordeste,
Vivia o Zé Florentino,
Espírito rude e agreste.
Que na labuta da roça,
Superava qualquer teste.

Órfão de pai e de mãe,
Cansaço não conhecia.
Para prover seu sustento,
Trabalhava todo dia
E do suor do seu rosto,
Com todo orgulho vivia.

E uma estrofe-síntese, que faz lembrar a antiga noção de Justiça, chamada pelos  gregos de Têmis, presente no título deste romance:

E mesmo que a lei dos homens
Perca o rumo, perca o tino,
Há leis que foram traçadas
Por um decreto divino
E os crimes serão julgados
No Tribunal do Destino.

Dados da obra:

Autor: Marco Haurélio 
ISBN: 978-85-7410-111-8 
Formato: 13,5 x 18 cm 
Páginas: 32

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domingo, 22 de julho de 2012

Semana dos Cordelistas em Serra do Ramalho

Dia 27, o município de Serra do Ramalho, onde passei a maior parte da minha vida, será palco privilegiado para a Literatura de Cordel. Além, do lançamento de uma antologia que contempla poetas dos municípios banhados pelo Velho Chico e convidados, o evento misturará poesia, teatro e música com o que de melhor a alma brasileira pode oferecer.

Abaixo a programação do evento coordenado por Cléber Eduão Ferreira:

27 de Julho/2012 (Sexta-Feira)
Serra do Ramalho - BA (Agrovila 9)
Local: Centro Cultural Luiz Eduardo Magalhães (Próximo do Colégio Castro Alves)

PROGRAMAÇÃO:

14:30 - Palestra com o poeta e pesquisador Marco Haurélio

16:00 - CIA de Teatro Mistura de Ibotirama (Peça A Chegada de Lampião
no Céu e no Inferno em Cordel)

20:00 - Lançamento da Antologia Poética dos Cordelistas do Velho Chico com:

Entrega oficial da Antologia para as Comunidades Culturais presentes.

Recitais poéticos com: Chico Cordel, Josemário Fernandes, Reginaldo Pereira, Reizinho, Márcia Nascimento, Gilberto Moraes, Jarbas Éssi, Joilson Melo, Tuta, Pedro Antônio da Rocha, José Ornelas, Tio Tony,
André Marques, Chico Leite, Silva Dias, Zeca Pereira, Marco Haurélio, Cléber Eduão, Adherrio Lais, Cláudio Pereira, Antônio Regis, Gury Eduão, Carlinhos, dentre outros.

Cantoria com: Clendson Barreto (Violeiro), Ivan Carinhanha & Cléber Eduão, Reginaldo Belo, Paulo Araújo & Morão di Privintina, Welton Gabriel, Marcelo Nunes & Gerri Cunha (Cantoria e Forró), dentre outros.

Realização: FUNDIFRAN
Patrocínio: Edital BNB Cultural 2011 - Parceria BNDES | Banco do
Nordeste | Governo Federal

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Fortaleza sedia I Feira Brasileira do Cordel



Texto: Divulgação

A Literatura de Cordel está com a corda toda. Gênero literário surgido no Nordeste,o Cordel teve em Leandro Gomes de Barros (1865-1918), paraibano de Pombal, seu primeiro grande difusor e seu criador mais ilustre. Autor de clássicos que se imortalizaram em mais de um século, a exemplo de Juvenal e o Dragão, O Cachorro dos Mortos e A Donzela Teodora, Leandro é a referência maior da atual geração de cordelistas, na qual brilham nomes como o de Klévisson Viana, Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana e Marco Haurélio.

É justamente Klévisson Viana, cearense de Quixeramobim, poeta popular, editor e ilustrador, o idealizador da I Feira Brasileira de Cordel, que terá como palco o Centro Cultural Dragão do Mar, um dos mais respeitáveis espaços culturais de Fortaleza. Entre os dias 17 e 19 de julho, a capital cearense receberá alguns dos mais representativos criadores da poesia popular, entre os quais os baianos Bule-Bule e Marco Haurélio, os paraibanos Chico Pedrosa e Chico Salles, o carioca Fábio Sombra e o pernambucano Marcelo Soares. O Ceará estará muito bem representado nas vozes dos consagrados repentistas Geraldo Amâncio e Zé Maria de Fortaleza, além de rodas de declamação com Paulo de Tarso, Rouxinol do Rinaré, Francisco Melchíades, Lucarocas, Arievaldo Viana, Evaristo Geraldo e o curador do evento, Klévisson Viana.

A primeira edição da feira homenageará os cem anos de nascimento de Joaquim Batista de Sena, um dos maiores cordelistas de todos os tempos  e estarão expostos à venda folhetos e livros de várias editoras, como Tupynanquim, Nova Alexandria, Luzeiro, Conhecimento, Hedra, Coqueiro, além das entidades apoiadoras, como a ABC (Academia Brasileira de Cordel), CECORDEL (Centro de Cordelistas do Nordeste) e ILGB (Instituto Leandro Gomes de Barros).

A realização do evento se tornou possível a partir da seleção do projeto da AESTROFE (Associação de Trovadores, Folheteiros e Escritores do Ceará) pelo Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel, no ano de 2010.

SERVIÇO:
I FEIRA BRASILEIRA DO CORDEL
Data: 17, 18 e 19 de julho
Horário: Das 16h às 21h30
Local: Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Informações: 3217-2891 | 9675-1099
aestrofe@gmail.com

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O cordel no futebol é destaque no Globoesporte.com

Cordelistas abusam da criatividade ao retratar o futebol na literatura popular

Expressão da cultura nordestina, cordel mexe com a rivalidade dos clubes, fala de Copa do Mundo e promove clássico imaginário entre Lampião e Satanás

Por Thiago Barbosa

Aracaju


Chegaram os festejos juninos. É hora de exaltar as tradições populares, de se deliciar com as comidas típicas do período, de apreciar a arte das quadrilhas, dançar forró e ler os versos de um bom Cordel. Nos 'arraiás' espelhados pelo Nordeste, sempre há uma banquinha expondo os cordéis e poetas populares declamando suas rimas para chamar a atenção do público.


Na Literatura de Cordel, uma das maiores expressões da cultura popular brasileira, os mais variados assuntos acabam se transformando em versos. E neste São João, o GLOBOESPORTE.COM pega carona na criatividade dos cordelistas e mostra como esses poetas retratam o futebol, paixão dos brasileiros, nos folhetos de Cordel.

Futebol no inferno
Cordel é um dos mais populares do gênero (Foto: Reprodução)Cordel é um dos mais populares do gênero
(Foto: Reprodução)
Futebol é um esporte tão apaixonante que já foi praticado até no inferno. Pelo menos no imaginário dos cordelistas. José Soares, conhecido como o poeta repórter, falecido no início da década de 80, criou um folheto que narrava um clássico inusitado, realizado 'nas profundas', entre o time de Satanás, os donos da casa, e a esquadra de Lampião, o Rei do Cangaço.
As divertidas estrofes contam que houve duas partidas, com uma vitória para cada lado. Precisava-se então de uma terceira, a do desempate.
"Lampião ganhou um turno
Satanás outro também
no Domingo que passou
empataram em cem a cem
agora melhor de três
vai ser Domingo que vem".
Eis a grande confusão. Os rivais, reconhecidos pela valentia e tirania, travaram um embate antecipado por causa da data do jogo e da escolha da arbitragem. A 'CBF do Inferno' teve que intervir no impasse.
"O jogo era quarta-feira
porém Lampião não quis
além disso ele só faz
o que lhe vem ao nariz
e por isso o pau cantou
na escolha do juiz.
Porque satanás queria
que o juiz fosse Cancão
e essa escolha também
não agradou Lampião
que ficou mais irritado
do que cavalo do cão.
A CBF do inferno
quis suspender o torneio
porém a rádio profundas
opinou para um sorteio
já dizem que na loteca
vai dar coluna do meio".
Assim como muitos jogadores do mundo real, os boleiros do inferno também possuem nomes estranhos, como mostra a escalação:
"O goleiro do inferno
chama-se Dr. Buçu
o beque central Peitica
o volante é Papacú
para ser o quarto zagueiro
estão procurando tú
O tripé de meio campo
tem o diabo Rabichola
o ponta direita é Bimba
na esquerda Caçarola
o armado é cão côxo
que é Côxo mais joga bola.


Vejam só a escalação
do time de Lampião
Curisco, Chapéu de couro
Maritaca e Capitão
Sucuri e Pé de Quenga
Tarraspado e Tira a Mão".
'Futebol no Inferno' fez tanto sucesso nas páginas dos folhetos que ganhou musicalidade na voz e no pandeiro da dupla Caju & Castanha. Os emboladores gravaram em repente o 'clássico das profundas'.
- Uma outra dupla já havia gravado o Futebol no Inferno. Nosso produtor ouviu e sugeriu que gravássemos também, pois seria sucesso garantido. Dito e feito. Foi um dos discos que mais venderam e vendem até hoje. Onde quer que vamos o povo pede para cantar. Ai da gente se não cantar (risos). É legal porque todos adoram futebol e acham engraçada essa partida inusitada - disse Castanha ao GLOBOESPORTE.COM.
Caju&Castanha fazem sucesso versando sobre futebol (Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa)Caju & Castanha fazem sucesso versando sobre futebol (Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa)
O futebol é um instrumento inesgotável de inspiração para os cordelistas. Boa parte deles usa do bom humor para tratar dos assuntos do mundo da bola. A própria dupla Caju & Castanha explorou bem a rivalidade dos times.
- Nós fizemos vários cordéis em forma de embolada, com desafio entre torcedores de times rivais. Teve Ba-Vi, Gre-Nal, Santa Cruz e Sport, Corinthians e São Paulo e vários outros. Sempre quando falamos sobre futebol a aceitação do públlico é boa - disse Castanha.
O mais conhecido do público é o de Corinthians e São Paulo, que reproduz uma discussão quente entre dois torcedores, cada um defendendo a sua bandeira.
"O Corinthians é da ralé
É um time de maloqueiro
Esse tal de 'Zé Povinho'
Picareta e trambiqueiro
Favelado, indigente,
Pé rapado e cachaceiro.
São paulo é refrigerado
Falta marcha e não me engano
Usa brinco de argola
Pois só vive rebolando
Não tem homem no São Paulo
E chamam um Corintiano".
Cordel fez crítica às torcidas organizadas (Foto: Reprodução)Cordel fez crítica às torcidas organizadas
(Foto: Reprodução)
Crítica social
Além do bom humor, os cordelistas retrataram também a crítica social na poesia popular. O racismo no futebol e a violência de algumas torcidas organizadas serviram de inspiração para os autores.
Um dos mais emblemáticos sobre a insegurança nas arquibancadas é o 'Torcida Organizada, Violência Anunciada', do cordelista radicado em Salvador Antônio Carlos de Oliveira Barreto. O folheto faz duras críticas aos que frequentam estádios de futebol para semear um comportamento violento.
"Manifestação de ódio
De torcedores rivais
Aos poucos tiram do estádio
Aqueles que prezam a paz.
Parece até que os fanáticos
Se transformam em animais!"
Em seguida, o autor dá bons exemplos nas estrofes de como deve ser o comportamento da torcida nos estádios.
"Devemos reconhecer
que a torcida organizada
tem o seu grande valor
quando conscientizada,
mas para isso é preciso
de gente civilizada.
A torcida organizada
Também pode pressionar
À direção do seu time
Podendo então opinar.
Basta que todos aprendam
O verbo dialogar".
O caso policial que repercutiu em todo o Brasil, envolvendo Bruno, ex- goleiro do Flamengo, também ecoou nos folhetos de cordel. Nas estrofes, o cordelista Isael de Carvalho dá a sua versão sobre o fato ocorrido.
"Bruno com seus amigos
Em ato que traz repúdio
De forma vil e cruel
Matou Eliza Samudio
Como em filme de terror
Produzido num estúdio".
Cordel retrata história das copas (Foto: Reprodução/Editora Luzeiro)Cordel retrata história das copas
(Foto: Reprodução/Editora Luzeiro)
Copa em cordel
A Copa do Mundo também serviu de tema para a Literatura de Cordel. Vários poetas dedicaram suas rimas para falar do maior evento do futebol. Em 2006, J. Victtor fez um manual da copa, falando dos grupos e das chances de cada seleção, também com pitadas de bom humor.
"Com a Coréia do Sul,
a França tome cuidado:
dizem que um jogador
é todo falsificado,
mas não se sabe quem é
quando estão lado a lado".
Manoel D'Almeida Filho, um dos maiores cordelistas brasileiros, escreveu um folheto em homenagem ao Tri no México. Mais recentemente, um selecionado de poetas populares produziu um cordel coletivo que conta a história das Copas do Mundo. Cada poeta escreveu sobre uma edição do Mundial.
Um dos autores foi o cordelista e pesquisador Marco Haurélio, que tratou sobre o pentacampeonato do Brasil na Copa do Mundo de 2002, na Coréia e no Japão.
- No capítulo da Copa de 2002 preferi usar um tom mais crítico. Geralmente os cordéis sobre futebol se enquadram no estilo circunstancial, tem prazo de validade curto, pois retratam assuntos da atualidade. À exceção desses cômicos, que também fazem sucesso - disse o poeta.
Com humor, crítica social ou boa dose de história, os cordelistas mostram que são craques nos versos e batem um bolão no quesito criatividade. Em cada folheto criado, marcam um gol de placa e provam que Cordel e Futebol sempre podem fazer uma tabelinha de qualidade.
Fonte: Globo Esporte (site)
Nota do blog: Esta matéria, assinada pelo jornalista sergipano Thiago Barbosa, foi destaque, no sábado na página nacional do Globo Esporte.

domingo, 24 de junho de 2012

Todo tempo é muito pouco para saudar Gonzagão


Mote e glosas: João Gomes de Sá


O povo todo conhece
A vida do viajante
Esse cavaleiro andante
 O Brasil jamais esquece;
 E todo mundo agradece
Com afeto e gratidão,
Pois cantou tanto baião;
 Não gripou nem ficou rouco,
Todo tempo é muito pouco
Para saudar Gonzagão!

Sua sanfona encantada
Acalentou boiadeiro
Correu pelo mundo inteiro,
Iluminou muita estrada;
Sua asa branca embalada
Virou a nossa canção,
No meio da multidão
Só não ouve quem é mouco
Todo tempo é muito pouco
Para saudar Gonzagão!

Não disse adeus a ninguém
Porque nunca foi embora
Pois na verdade, ele mora
Num ranchinho qu’ele tem.
A sua voz foi além
De território e nação
Cantando no São João,
Quem é que não fica louco?
Todo tempo é muito pouco
Para saudar Gonzagão!


Nestes festejos juninos e em qualquer evento que lembre uma sanfona
um triângulo e uma zabumba - impossível não rememorar Luiz Lua do Sertão Gonzaga!
Segue minha singela homenagem!
Um abraço a todos e nossa gratidão ao Rei do Baião!

João Gomes de Sá

sábado, 23 de junho de 2012

Leandro Gomes de Barros e Rouxinol do Rinaré inauguram nova série na Nova Alexandria

A nova série de livros infantojuvenis da Editora Nova Alexandria traz, como títulos inaugurais, dois clássicos da literatura de cordel brasileira: a História de Juvenal e o Dragão, do pioneiro Leandro Gomes de Barros, e O Guarda-Floresta e o Capitão de Ladrões, do poeta contemporâneo Rouxinol do Rinaré. Os dois trabalhos trazem ilustrações em cores  de Eduardo Azevedo.

Mais informações abaixo:
História de Juvenal e o dragão

Escrita por Leandro Gomes de Barros, no início do século XX, a História de Juvenal e o dragão tornou-se modelo de narrativas posteriores, como João Terrível e o dragão vermelho, de Antônio Alves da Silva, João Corajoso e o dragão de três cabeças, de Joaquim Batista de Sena, e João Acaba-Mundo e a serpente negra, de Minelvino Francisco Silva. Alguns versos do romance de Leandro tornaram-se coletivos, a exemplo de “Quando foi no outro dia”, “Como um raio abrasador” etc. e são encontrados em outras narrativas do cordel. 

A princípio, a inspiração do poeta parece vir do conto Henrique e os três cães, da coletânea de Figueiredo Pimentel, Contos da Carochinha, publicada pela primeira vez em 1896. As raízes do conto, no entanto, são muito antigas e estão presentes no mito de Perseu e Andrômeda e em outras narrativas mitológicas, como exemplifico abaixo. O dragão é, segundo Vladímir Propp, “uma das figuras mais complexas e mais enigmáticas do folclore e das religiões do globo”. Na mitologia grega, é o adversário — derrotado — de heróis como Hércules e Jasão. Ainda na Grécia, Apolo mata a serpente Piton e, no Egito, Hórus, filho de Osíris, derrota Tifon, assassino de seu pai. Alguns mitólogos e estudiosos do folclore interpretam a derrota do dragão por estas divindades como a vitória da luz contra as trevas, isto é, do dia contra a noite. Vale lembrar que, em seus países, Apolo e Hórus eram deuses solares. Daí viriam expressões como “boca da noite”, conservada pela memória popular. 

O mesmo Propp, analisando nos contos tradicionais russos o motivo dos tributos do dragão, descreve uma situação bem próxima à narrada por Leandro: “o herói chega um país estrangeiro, vê ‘todas’ as pessoas tão tristes, e de eventuais transeuntes fica sabendo que todos os anos (todos os meses) o dragão exige como tributo uma jovem, e que agora é a vez da filha do rei”. A lenda de São Jorge deriva também deste motivo universalmente difundido.   A palavra dragão vem do grego draco e significa “serpente”. Esta palavra aparece quatro vezes na História de Juvenal e o dragão, a exemplo desta estrofe:   

O moço era destemido,  
Com seu cachorro valente,  
Eles dois incorporados,  
Lutando com a serpente.  
Juvenal no ferro frio  
E o cão fiel pelo dente.   

Aparecem ainda no romance os auxiliares mágicos do herói, representados por três cachorros, e o impostor que, fazendo-se se passar pelo vencedor do dragão, reivindica a mão da princesa.   A publicação deste clássico da literatura de cordel brasileira, enriquecido com ilustrações e vinhetas de Eduardo Azevedo, é uma homenagem que a editora Nova Alexandria, que publica a premiada coleção Clássicos em Cordel, presta a Leandro Gomes de Barros, herói desbravador da seara da poesia popular, homenageado e aplaudido por nomes como Mário de Andrade, Ariano Suassuna e Carlos Drummond de Andrade.

O Guarda-Florestas e o Capitão de Ladrões

Rouxinol do Rinaré integra a geração de cordelistas surgida na última década do século passado, responsável pelo ressurgimento do gênero romance na poesia popular. Por romance, os autores de cordel definem as narrativas de fôlego, inspiradas na tradição oral ou criadas pelos artesãos do verso. Alguns cordéis desse gênero têm 16 páginas, a exemplo dos clássicos Romance da princesa do Reino do Mar Sem Fim, de Severino Borges, e Romance de João Cambadinho e a princesa do Reino de Mira-Mar, de Inácio Carioca. Desde Silvino Pirauá de Lima (1848-1913), o popularizador da tradição dos romances autorais no cordel, passando por Leandro Gomes de Barros (1865-1918), o grande sistematizador e responsável pelo início da editoração profissional, o romance tornou-se o gênero nobre dentre os poetas do povo.

O Guarda-Florestas e o Capitão de Ladrões, publicado originalmente em folheto pela Tupynanquim Editora, em 2006, é uma homenagem que Rouxinol presta aos mestres do cordel, em especial ao pernambucano Delarme Monteiro da Silva (1918-1994), sua principal referência. A história é uma versão poética do conto homônimo lido em uma coletânea chamada Pérolas esparsas, sem indicação de autoria, ainda na infância, passada na zona rural de Quixadá, sertão cearense. O enredo gira em torno da atuação de Frede, um Guarda-Florestas implacável no cumprimento de seu dever, conforme lemos nesta estrofe:

Num certo reino da Prússia,
Há muito tempo passado,
Residia um cidadão
Num bosque bem afastado,
Tendo a missão de guardar
As florestas do reinado.

Seu principal inimigo  é o Capitão de Ladrões, a quem persegue obstinadamente:

O Capitão de Ladrões,
Como era conhecido,
Atacava com as sombras,
Passava o dia escondido.
Tornou-se questão de honra
Capturar o bandido.

Há ainda outros personagens, como Hilda, esposa de Frede, que desempenhará um papel fundamental nos momentos de maior tensão do romance. À maneira de muitos contos populares, encontramos, nesta obra, o drama da queda — simbolizado pela atitude do ladrão — e da redenção, quando este, enfim, resolve dar um novo sentido à sua existência. No cordel, há similares na História de Roberto do Diabo, de Leandro Gomes de Barros, e em Dimas, o Bom Ladrão, cuja autoria é atribuída a Francisco das Chagas Batista. Rouxinol do Rinaré, portanto, revisita a tradição dos grandes autores, sem perder a originalidade característica de seus versos, que estão entre os melhores de quanto já se publicou na literatura de cordel do Brasil.


Mais informações: novaalexandria@novaalexandria.com.br