Na imagem acima, aparece a Ponta da Serra, vista do Alto do
Cemitério. Ao fundo, a igreja de Senhor dos Passos, construída pelo Major
Ramiro, e a casa onde nasci e passei os primeiros anos de minha vida. Mais ao
fundo, a Serra Geral do sudoeste baiano.
A casa da minha avó Luzia – minha grande professora de
Folclore – e outra de um tio, que já conheci abandonada, não existem mais. Hoje
o gado pasta entre as suas ruínas. O meu tempo era dividido com tarefas como “panhar”
água na cacimba e levar o gado para beber água no tanque da estrada. E, raras
vezes, “ralear” o algodão. O tempo restante eu passava sob os umbuzeiros, na
casa de Madrinha Nenzinha, esperando ela cortar um naco de rapadura ou lendo os
muitos folhetos de cordel que meu pai guardava e os que ele trazia, todo
sábado, da feira do Bom Jesus da Lapa, onde ia vender requeijão, cachaça,
tijolo e manteiga. Ou escutando Padrinho José declamar o ABC da Fazenda Formosa
e o ABC dos Revoltosos. Brincávamos – eu, meus irmãos e primos – no altar da
igreja, da qual meu pai tinha a chave, sem achar que isso se constituía num
sacrilégio.
Quase tudo se foi. Ficou o cordel,
gravado no papel e na minha alma. Ficaram as histórias de Trancoso, garimpadas
do patrimônio imemorial, que vozes sábias guardaram e eu transformei em livros.
E ficou a saudade, esta companheira de todas as horas dos poetas.