Navegando com o Cordel

domingo, 4 de agosto de 2013

Lá detrás daquela serra


A minha obra tem muito a ver com as minhas memórias afetivas. Cada trabalho, dentro de um determinado parâmetro, é uma ode à vida no que ela tem de essencial e uma viagem de retorno ao País da Infância, para citar, uma vez mais, mestre Câmara Cascudo. E é com muita satisfação que anuncio, para breve, a publicação de “Lá detrás daquela serra”, reunião de quadras e cantigas populares, ouvidas desde os tempos em que andava pelos carreiros da Ponta da Serra. O livro tem o selo da editora Peirópolis e conta com ilustrações de Taisa Borges. Minha gratidão a Renata Borges por acreditar nesse projeto que, sem saudosismo, é um homenageia as vozes anônimas que, sem pedir nada em troca, emprestam poesia ao nosso árido cotidiano.



Abaixo, o texto de orelha escrito, à guisa de apresentação, por meu parceiro José Santos:

“O escritor e folclorista Marco Haurélio veio de Ponta da Serra, no sertão baiano, um lugar cercado de serras por todos os lados. É dali que ele nos traz a rica poesia em que o povo é participante ativo, reelaborando, adaptando e ampliando o significado das quadras e cantigas populares que o cordelista lembra de cor – elas conversam  com a ciranda, o coco de roda e as lapinhas. E aqui estão belamente ilustradas por Taisa Borges, num trabalho que nos leva aos lugares mais remotos da infância.

Há nesta pesquisa uma postura que faz lembrar o folclorista e escritor português Teófilo Braga, que no século XIX dedicou-se a recolher contos, quadras e canções populares pelo seu país. Ele, tanto quanto Marco, sabia da importância de um trabalho desse tipo para a preservação e afirmação da identidade do povo. Entre essas cantigas, quadras e adivinhas rimadas, o leitor irá conhecer ou recordar muitos e muitos versos, a exemplo destes:

É uma caixinha
De bom parecer.
Nenhum carpinteiro
Sabe igual fazer.

Convido o leitor a fazer essa suave subida até as serras da poesia.”

Eis mais uma amostra:

Lá detrás daquela serra
Tem dois pilõezinhos de ouro.
Um é de pisar tempero,
Outro de pisar namoro.

Alecrim na beira d’água
Não se corta de machado;
Se corta de faca fina
Que é pra dar meu namorado.

Eu plantei um pé de cravo
Na esquina da janela.
No caminho lá de casa
Só anda moça donzela.

 
A igreja da Ponta da Serra, cenário de minha infância sertaneja, onde fui buscar as referências
principais para o livro.

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