Por: José Joaquim Dias Marques
Lionel Lindsay, A Bruxa, xilogravura, 1924. |
Como
em grande parte do mundo, a noite de Halloween tem-se vindo a tornar uma
tradição também em Portugal, e certas pessoas costumam aqui designá-la por
"noite das BRUXAS", numa curiosa adaptação terminológica da tradição
norte-americana (tradição essa de longínqua origem europeia, claro).
Tendo
em mente essa nova (?) designação, de noite das bruxas, vou transcrever alguns
ESCONJUROS (subgênero das orações tradicionais que inclui os textos destinados
a afastar o mal) contra as BRUXAS, recolhidos por duas antigas alunas minhas da
disciplina de Literatura Oral da Universidade do Algarve:
-1-
Informante:
Fernanda Teresa Fernandes, 74 anos. Tem a 4ª classe.
Natural de
Alfarrobeira, freguesia de S. Clemente, concelho de Loulé, distrito de Faro.
Mora em Quarteira, concelho de Loulé.
Esconjuro
recolhido nas Baceladas, freguesia de Quarteira, concelho de Loulé, distrito de
Faro, em 24/4/2011, por Elisabete Andrade Reis.
Este
esconjuro diz-se quando, na rua, se encontra alguém que se suspeita que é bruxa
e nos pode deitar mau-olhado. A informante explica que o aprendeu com uma
vizinha, em Quarteira.
A folha do alho
tem três porras.
Tu és o Diabo
que para mim olhas.
Ainda agora Nosso Senhor Jesus Cristo me viu.
Quero que tu vás para a puta que te pariu!
-
2 -
Outro
esconjuro com o mesmo objetivo, da mesma informante, Fernanda Teresa Fernandes,
recolhido também por Elisabete Andrade Reis, na mesma data do anterior:
Bruxa refinada,
Não tenho nada
para te dar,
Senão o leite da Virgem
Ou o pão do altar.
- 3 -
Informante:
Catarina Rosária, 85 anos. Foi trabalhadora rural. Analfabeta.
Natural de
Algunha, freguesia de S. Barnabé, concelho de Almodôvar, distrito de Beja.
Recolhido em Várzea da Mão, concelho de Loulé, distrito de
Faro, a 21/12/2002, por Elisabete Andrade Reis.
Este esconjuro
recitava-se quando uma pessoa se cruzava com alguém que tinha fama de bruxa.
Repetiam-se estas palavras até se estar a uma distância considerável da bruxa.
Enquanto se dizia este esconjuro, colocava-se o polegar entre o dedo indicador
e o dedo médio, segundo mostrou a informante, por gestos. A informante aprendeu
este esconjuro com a tia e a avó.
Figas real!
Tu és de ferro,
E eu de aço.
Tu és bruxa,
E eu te embaço.
- 4 -
Informante:
Maria Rosa Guerreiro, 62 anos. Natural de Alte, concelho de Loulé, distrito de
Faro. É costureira. Sabe escrever e ler, mas muito pouco.
Recitava-se
quando uma pessoa se cruzava com outra que tinha fama de bruxa. A informante
aprendeu com o avô e já ensinou à filha.
Quando se diz
este esconjuro, a pessoa deve colocar o polegar entre o dedo indicador e o dedo
do meio (segundo mostra a informante, por gestos) e só parar quando a bruxa se
afastou.
Recolhido em Várzea da Mão, concelho de Loulé, distrito de
Faro, a 21/12/2002, por Elisabete Andrade Reis.
Tu és de ferro
E eu sou de aço.
Tu és bruxa
E eu te embaço!
-
5 -
Informante:
Lucília Maria Cabrita dos Santos, 54 anos. Natural de Castro Marim, concelho de
Castro Marim, distrito de Faro. Foi aí que aprendeu este esconjuro, com as
amigas, quando era adolescente.
Recolhido em
Olhão, a 28/12/2004, por Cláudia Sofia Cabrita dos Santos.
Como se poderá ver, a funcionalidade desta versão é afastar o
Diabo e não as bruxas. No entanto, o texto pertence sem dúvida ao mesmo
esconjuro das versões nºs 3 e 4.
Tu és ferro e eu
sou aço.
Foge, Diabo, que te embaraço.
Obrigado, Marco. Aqui no blog o textinho ficou bastante mais bonito.
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