Um livro valioso, mas pouco conhecido
e divulgado nos meios em que se estuda a tradição oral no Brasil é 1001
Histórias do Ceará – Contos Populares. Escrito por Fabiano dos Santos, atual
secretário de Cultura do Ceará e parceria com a antropóloga Andréa Havt Bindá,
a obra, publicada em 2006, reúne, salvo engano, 28 contos tradicionais
coletados no estado do Ceará e publicadas com o selo da Secretaria de Cultura
do Estado. Os locais da recolha e a região a que pertencem aparecem ao lado do
nome dos informantes, 21, sendo 14 homens e sete mulheres.
Entre os contos coletados, lemos “O
rei que tinha chifres (ATU 782 : O
príncipe com orelhas de burro), versão
cabocla do episódio jocoso envolvendo o mítico rei Midas; Os Três Conselhos da
Sorte (ATU 910B : Os bons conselhos do patrão) e “O Filho Pródigo” (ATU 935 : O
regresso do Filho Pródigo), que imagino ser a única versão documentada no
Brasil da parábola bíblica. Encontramos ainda histórias que foram popularizadas
pelo cordel, mas têm origem na tradição, caso de Melancia e Coco Verde (ATU 885A
: A falsa morta) e o Romance do Floriano (ATU 513A Seis companheiros vão
correr mundo), parte em prosa parte em verso, por se tratar de uma versão
incompleta do clássico cordel Vitória de Floriano e a Negra Feiticeira, de
Manoel D’Almeida Filho. O acróstico ALMEIDA, inclusive, aparece na íntegra ao
final da história. Este é o senão da coletânea e, numa reedição, deverá constar
uma nota remetendo ao autor do cordel e, se possível, um estudo comparativo
sobre a versão tradicionalizada, em parte mutilada.
Mas o livro tem outras pérolas, como o conto Encontro com a Morte (ATU 332 : A Morte madrinha), muito bem narrado e transcrito, e O rei que não acreditava em Deus (Marzolph *930D : O anel do rei), tradicionalíssima história divulgada nas “Cantigas de Santa Maria”, do rei D. Alfonso o Sábio, no século XI, mas conhecida desde a Antiguidade em seu episódio mais importante, o do anel perdido que reaparece no ventre de um peixe, na lenda do Anel de Polícrates, imortalizada por Heródoto.
Ah! E eu ia me esquecendo: o livro
é ilustrado pelo craque Rafael Limaverde.
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