Senhor dos Passos (Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Ponta da Serra). Foto: Marlon Castro |
Em Locuções Tradicionais do Brasil (Global, p. 238), Luís da Câmara
Cascudo, em breve verbete, alude à origem da expressão, ligada ao drama da
Paixão:
“Sequência de padecimentos, humilhações, necessidades abandono. Denominação popular da Via sacra, imagem litúrgica do caminho percorrido por Jesus, carregando a cruz do Pretório de Pôncio Pilatos ao Gólgota, onde seria crucificado. Via da Amargura. Frei Pantaleão de Aveiro visitou a Terra Santa em 1563, e no sei Itinerário da Terra Santa e suas particularidades (Lisboa, 1593), informa: – (tomamos outra (rua) à mão direita, costa arriba, caminho do Calvário, a qual se chama Rua da Amargura”. Em Espanha, Calle de la Amargura”.
Nas procissões da Via sacra, na Ponta da Serra onde nasci, a
imagem do Bom Jesus Senhor dos Passos saía da igreja, em frente à nossa casa,
rumo ao cemitério, que está localizado numa região mais alta, figurando o
Gólgota. Passadas as 14 estações, no campo santo, era comum rezarem-se benditos
e orações apropriadas ao dia (Sexta-feira da Paixão), como a infalível “Sonho
de Nossa Senhora”. O Bendito do Senhor dos Passos, que já divulguei cantado por
minha tia Isaulite (Lili), traz, nesta quadra, a confirmação do sentido
original da locução piedosa:
Era filho da Virgem Pura:
Andava vertendo sangue
Pela Rua da Amargura”.
O Brasil, que está há um bom tempo na “Rua da Amargura” ou
num “Vale de Lágrimas”, expressão esta descolada da “Salve Rainha”, sob o cetro
da iniquidade, espera, para breve, o fim de seu “calvário”.
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