Xilogravura de Lucélia Borges |
Um homem apostou que tinha coragem de ir ao cemitério por volta da meia-noite. Mas outro homem, provocador que só, afirmou que ele não tinha coragem para tal. E pôs um bolo de dinheiro sobre a mesa, provocando:
— Se você, além de ir ao cemitério, me trouxer uma carcaça
da cabeça de um defunto, leva todo esse dinheiro.
Outro homem, que passava em frente à casa, os viu apostando
e correu para o cemitério. Lá, se escondeu atrás de uma carneira.
O apostador chegou e começou a cavar uma sepultura. Quando
deu no caixão, que foi abri-lo, ouviu uma voz:
— Essa cabeça, não! Essa cabeça é do meu avô!
Cavacou outra cova e, depois de muito trabalho, ouviu:
— Essa daí não! Essa é do meu pai!
Quando cavacou noutro local, já chegando aos ossos da
cabeça, ouviu a voz, agora mais apavorante ainda:
— Agora essa daí é pior! Essa é a minha cabeça!
O homem já estava pelas tantas e respondeu:
— Seja sua ou de quem for, mas que eu levo, eu levo!
Arrancou a caveira e seguiu com ela para a casa do amigo. O
sujeito que estava escondido, com um vestuário que parecia uma mortalha, saiu a
correr atrás dele, gritando:
— Devolve minha cabeça! Devolve minha cabeça!
O homem chegou ao local, apavorado, e jogou a cabeça no colo
daquele com o qual apostara.
— A cabeça está aqui, mas o corpo vem logo atrás!
Quando eles olharam, que viram o que imaginavam ser um fantasma, saíram correndo, deixando todo o dinheiro para trás. O falso fantasma chegou ao local, embolsou o dinheiro e foi-se embora, feliz da vida.
Narrado por José Alexandrino de Souza
Serra do Ramalho, Bahia.
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