quinta-feira, 8 de março de 2018

Bule-Bule reconta mitologia dos orixás em cordel

Capa do livro. Ilustrações: Klévisson Viana

Os orixás, ensina-nos Pierre Verger, foram homens excepcionais, cujos feitos garantiram-lhes a imortalidade. Exu, por sua astúcia; Ogum, por sua coragem e ferocidade guerreira; Xangô, por sua valentia; Iansã e Oxum, belas e sensuais, opostas e complementares, protagonistas de lendas, por sua rara beleza. Iemanjá, deusa-mãe, emblema do princípio feminino, senhora digna das maiores reverências, por triunfar sobre as forças da desordem. Humanos e divinos, forças da natureza, símbolos de nossos medos e de nossas esperanças. E é por intermédio de Antônio Ribeiro da Conceição, o mestre Bule-Bule, que vemos, pela primeira vez, a mitologia dos orixás vertida, em uma grande e coesa antologia, para o cordel. É difícil imaginar outro autor, não familiarizado com a vida nos terreiros, esmiuçando, com profundidade e graça, as lendas e os mitos de origem diversa, narrados de forma tão atraente. Por vezes contraditórias, graças à sua origem nem sempre homogênea, enfatizada pelas lendas em que as rivalidades, mormente entre Xangô e Ogum, ganham destaque, pelas mãos e estro de Bule-Bule entramos em contato com os pontos fulcrais da gesta Ioruba. A figura de Iemanjá, divindade cosmogônica, neste particular, tem grande importância, pois ela é a fonte da qual brotam não apenas as outras divindades, mas também as nuvens e as estrelas. Diferentemente de outras cosmogonias (babilônica, grega, nórdica), esta grande deusa não representa as forças do caos, a serem vencidas, mas a ponte entre o nada e o mundo como o conhecemos.  Que o machado de Xangô, o raio de Iansã, a espada de Ogum e, agora, a pena de Bule, sejam armas eficazes contra esse monstro terrível, o preconceito, filho do ódio e da ignorância.

Orgulhosamente assino o texto de orelha, reproduzido acima, e a revisão. O trecho abaixo abre o poema Xangô se torna rei de Oió:

Para o homem triunfar
É preciso estar ciente
De que atrás dum pau tem outro,
Por mais que seja valente.
Um homem sempre encontra outro
Que possa tomar-lhe a frente.


Pedir ajuda a quem pode
No momento lhe ajudar,
Consultar quem sabe mais,
Ser humilde e perguntar,
Seguir o regulamento,
Servir a quem precisar.

A mitologia estuda
Deuses, semideuses, mitos,
Magros, gordos, altos, baixos,
Os horrendos e os bonitos,
Os que convencem na paz
E os que comandam nos gritos. 

Mestre Bule-Bule da Bahia. 




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