Xilo da capa: Nireuda |
A Idade do Diabo é a versão em cordel de um conto popular do ciclo do ogre (ou demônio) estúpido, segundo o catálogo internacional ATU. Foi escrito em 2005 e inaugurou um novo ciclo na Editora Luzeiro, que passou a publicar, também, folhetos no formato tradicional do Nordeste (11X15cm). A nota abaixo foi extraída do livro Contos e fábulas do Brasil, no qual reproduzo a versão em prosa, recolhida em Igaporã, Bahia.
Com muitas reviravoltas e a prevalência da esperteza feminina, A Idade do Diabo lembra o motivo da ajuda sobrenatural condicionada. Uma diferença: não é o nome do ajudante (como no conto de Grimm, Rumpelstilzkin, AT500) que deve ser adivinhado, mas a sua idade, o que livrará o protagonista do castigo. É vasto na literatura de cordel o ciclo de histórias em que o Diabo figura como oponente derrotado pela malícia feminina.
O texto de abertura apresenta ao leitor o protagonista Antônio e sua malfadada ideia:
Neste mundo de meu Deus
E aí pode descobrir
Num distante lugarejo ,
No estado da Bahia,
Há cerca de oitenta anos ,
O nome dele era Antônio,
O da criada era Ana ,
Num povoado distante
Cumprindo a sina tirana .
E disse: — Se nesta casa
Aparecesse o Tinhoso
À sua porta bateu
Sentiu um forte arrepio ,
O tal sujeito trajava
A veste da escuridão ,
Na boca tinha um charuto
E uma bengala na mão —
Do corpo todo exalava
O cheiro da maldição .
— Cá estou às suas ordens ,
Disse o sujeito a Antônio.
Fedendo a chifre queimado,
Devia ser o demônio .
Tornou falar o capeta :
— Vim aqui lhe ofertar
Refazendo-se do susto ,
Antônio disse: — Rapaz ,
Aceito a sua proposta ,
O Diabo então furou
O braço do desgraçado
E o sangue que escorreu
Disse: — Negócio comigo
É no contrato assinado.
Embebeu no sangue a pena ,
Deu para Antônio assinar
E disse: — Fique tranqüilo ,
A conta venho cobrar .
Dizendo isto , foi embora ,
Fazendo tremer o chão ,
Antônio disse: — É o cão !...
Mudou da noite pro dia :
Disse: — Adeus tempo ruim !
Do que o rei Salomão!
É um reles pobretão .
No Brasil e no estrangeiro ,
E costumava acender
O charuto com dinheiro ,
Se esquecendo do trato
Os anos foram passando
Havia de retornar
E os seus dias de glória
Teriam de terminar .
De fora , a voz respondeu:
— Não se lembra mais de mim ?
Sou seu amigo Asmodeu.
Naquele momento , Antônio
Foi perdendo a esperança ,
Voltaram à sua lembrança
E disse consigo mesmo :
“Agora é que vem lambança !”
O excomungado entrou
Dizendo: — Amigo , prepare-se,
A sua hora chegou! ...
Antônio, ao ouvir aquilo ,
(...)
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