sábado, 27 de fevereiro de 2021

O adeus a Antonio Amaury, o grande historiador do Cangaço


Pesquisador do cangaço há 70 anos, Antonio Amaury Corrêa de Araújo nos deixou nesta sexta, 26 de fevereiro, aos 87 anos. Paulista de Boa Esperança do Sul, Amaury era muito querido no meio do cordel, sendo inclusive organizador do volume dedicado ao poeta baiano Franklin Maxado na coleção Biblioteca de Cordel, da editora Hedra. Também escreveu uma série dedicada a Lampião, em sextilhas, mas publicou apenas o primeiro volume, que retrata a infância do futuro cangaceiro. 

Mas foi como historiador do cangaço, o mais meticuloso de quantos se aventuraram por esta seara, que Amaury alcançou o merecido reconhecimento. Obras como Assim morreu Lampião (1975), Gente de Lampião: Dadá e Corisco (1982) e Lampião, as mulheres e o cangaço (1984) se basearam em depoimentos colhidos pelo autor junto a antigos cangaceiros, coiteiros e membros de volantes, sempre confrontando fontes, refazendo, quando necessário o percurso, primando por uma escrita quase coloquial e, ainda assim, altamente sofisticada. 


Quando coordenei a coleção Saber de Tudo (da Editora Claridade), convidei-o a escrever um livro sobre Lampião, na verdade uma síntese de sua vasta pesquisa. Aceitando o convite, ele escreveu, junto ao filho Carlos Elydio, Lampião: herói ou bandido?, fartamente ilustrado com imagens do acervo de Amaury e fotos de Benjamim Abrahão. Em 2009 ainda convidei-a a dar uma palestra no Espaço Cineclubista, na época em que estava no auge o movimento Caravana do Cordel e ele, gentil, aceitou. Foi um grande momento para os que puderam ouvi-lo e guardam na lembrança os muitos fatos desfiados por sua memória privilegiada. 

Antonio Amaury. Foto: Blog do Mendes


O Brasil, onde morrem milhares por dia neste momento, talvez o mais triste da nossa história, o Brasil que para, bestializado, pelas futilidades do BBB, não sabe o que perdeu com a partida do mestre Amaury Corrêa.