sexta-feira, 2 de abril de 2021

RUA DA AMARGURA

Senhor dos Passos (Igreja de Nossa Senhora da Conceição,
Ponta da Serra). Foto: Marlon Castro


Em Locuções Tradicionais do Brasil (Global, p. 238), Luís da Câmara Cascudo, em breve verbete, alude à origem da expressão, ligada ao drama da Paixão:

“Sequência de padecimentos, humilhações, necessidades abandono. Denominação popular da Via sacra, imagem litúrgica do caminho percorrido por Jesus, carregando a cruz do Pretório de Pôncio Pilatos ao Gólgota, onde seria crucificado. Via da Amargura. Frei Pantaleão de Aveiro visitou a Terra Santa em 1563, e no sei Itinerário da Terra Santa e suas particularidades (Lisboa, 1593), informa: – (tomamos outra (rua) à mão direita, costa arriba, caminho do Calvário, a qual se chama Rua da Amargura”. Em Espanha, Calle de la Amargura”.

Nas procissões da Via sacra, na Ponta da Serra onde nasci, a imagem do Bom Jesus Senhor dos Passos saía da igreja, em frente à nossa casa, rumo ao cemitério, que está localizado numa região mais alta, figurando o Gólgota. Passadas as 14 estações, no campo santo, era comum rezarem-se benditos e orações apropriadas ao dia (Sexta-feira da Paixão), como a infalível “Sonho de Nossa Senhora”. O Bendito do Senhor dos Passos, que já divulguei cantado por minha tia Isaulite (Lili), traz, nesta quadra, a confirmação do sentido original da locução piedosa:

“O Senhor que vos trazia
Era filho da Virgem Pura:
Andava vertendo sangue
Pela Rua da Amargura”.

O Brasil, que está há um bom tempo na “Rua da Amargura” ou num “Vale de Lágrimas”, expressão esta descolada da “Salve Rainha”, sob o cetro da iniquidade, espera, para breve, o fim de seu “calvário”.