terça-feira, 26 de abril de 2011

Cordelistas leem cordel?


Imagem: Homem lendo (Vincent Van Gogh, 1881)

Cordelistas leem cordel?


O mundo da literatura, no qual o cordel se insere, é diferente, por exemplo, do mundo da química.

Não há combustão espontânea.

Mas, perguntará alguém: a Bíblia e o Alcorão não foram inspirados pela Divindade?

O (s) autor (es) não era um mero suporte para irradiação da palavra divina?

Homero, na invocação que abre a sua Ilíada, não pede à Musa que cante “a ira de Aquiles, filho de Peleu”?

Bem, a religião não sobrevive sem a epifania, a revelação divina.

No antigo Egito, foi Thoth, uma divindade, que trouxe aos homens o dom da escrita.

Vale dizer que a origem da escrita se confunde com a origem da história.
Daí o seu caráter divino.

De revelação.

Daí o intermédio da Musa, a ponte com o divino, nos grandes épicos da humanidade.

Nossos autores de cordel, filhos de Homero e devotos de Thoth, exercitam o que Ezra Pound chamava de melopeia.

Esta se divide em três espécies: “poesia feita para ser cantada; para ser salmodiada ou entoada; para ser falada”.

As palavras, ainda segundo Pound, “estão carregadas, além de seu significado simples, de alguma qualidade musical, que dirige a maneira ou a finalidade daquele significado... É quase impossível transferi-la ou traduzi-la de uma língua para a outra”.

Um autor de contos policiais deve, obrigatoriamente, ler os grandes criadores do gênero.

E são muitos.

Acima de todos, Edgar Allan Poe.

Um cordelista, que aspire a ser um poeta, deve conhecer o cânone do gênero.

Uso cânone por falta de um termo melhor.

Deve conhecer a obra de Leandro Gomes de Barros, que, no cordel, equivale a Poe no gênero policial.

E assim, volto a pergunta do início:


“Cordelistas leem cordel?”

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