Acaba de sair a segunda edição do folheto O Cordel: sua história, seus valores, que escrevi junto com João Gomes de Sá.
Abaixo o introito do livro:
No Nordeste brasileiro,
Conservados na memória,
Romances, contos e xácaras
Lembravam a antiga glória
De Portugal e da Espanha,
De que nos fala a História.
Era esse o tempo das gestas
Dos cavaleiros andantes,
E essa poesia rude
Dos bardos itinerantes
Foi trazida para a América
No bojo dos navegantes.
Essa poesia foi
Cantada pelos jograis,
Celebrando os grandes feitos
Dos heróis medievais,
E também falando sobre
Romances sentimentais.
E quando começa o ciclo
Das Grandes Navegações,
De Portugal e da Espanha,
As antigas tradições
Vão se acomodando aos poucos
Pelas novas possessões.
No Brasil, as tradições
Assim vão se fixando,
Com as levas de colonos
Nas caravelas chegando,
As regiões litorâneas
Vão pouco a pouco tomando.
O índio, dono da terra,
Pra não ser escravizado,
Vivendo no litoral
E se sentindo acossado,
Resiste, contudo vê
O seu esforço baldado.
Da África chegam os navios
Dos traficantes negreiros,
Que tornarão em escravos
Os que antes eram guerreiros
E que agora vão servir
À sanha dos fazendeiros.
As etnias e as crenças
São assim amalgamadas
E a cultura popular
Vai recebendo camadas,
Que em todos os segmentos
Até hoje são notadas.
Eis um resumo apressado,
Contudo bem consistente
Para mostrar que a arte
Não brota espontaneamente,
E com o nosso cordel
Também não é diferente.
No Brasil colonial
Um embrião já havia
Do cordel na conhecida
Tradicional poesia,
Ou mesmo na catequese
Que a Igreja promovia.
Excertos da tradição
Que no bom cordel se encerra
Estão na obra do vate
Gregório de Matos Guerra,
Que foi o maior dos sátiros
A habitar esta terra.
Já no século XIX,
No Brasil imperial,
Resistia a escravidão,
Um desnecessário mal.
Esse regime abjeto
Na pena teve um rival.
Foi o bardo Castro Alves,
Grande poeta baiano,
Que na arte que abraçou
No Brasil é soberano,
Lutando contra a injustiça,
No verso se fez arcano.
O grande Gonçalves Dias,
Dos termos do Maranhão,
Compôs na velha linguagem
Sextilhas de Frei Antão.
Portanto, também está
Na linha de evolução.
Porém é da pequenina
Paraíba o privilégio
De ver nascer o poeta
Que empunha o cetro régio
Da poesia do povo,
Templo majestoso, egrégio.
Leandro Gomes de Barros
É o nome do menestrel
Que deu forma e deu essência
Ao que chamamos cordel,
Que da tradição oral
Migrava para o papel.
Grande poeta satírico
E lírico maravilhoso,
Escreveu obras eternas
Como O Boi Misterioso,
E A Donzela Teodora,
De modo criterioso.
De sua lavra saíram
O Reino da Pedra Fina,
Também O Príncipe e a Fada,
Que são Baman e Gercina
E o clássico inigualável
Chamado Alonso e Marina.
(...)
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