Há mais de 12 anos, num momento
em que o Ceará já se projetava nacionalmente como terra de comediantes, o
radialista, poeta popular e cartunista Arievaldo Viana escreveu o livro “Baú da
Gaiatice”. Incluindo crônicas, anedotas e literatura de cordel. O livro foi
lançado em noite festiva no Pirata Bar, no dia 21 de maio de 1999 e, de
imediato, tornou-se um clássico do gênero, recebendo elogios de escritores,
pesquisadores e jornalistas como Blanchard Girão, Barros Alves, B.C. Neto,
Ribamar Lopes, Eleuda de Carvalho, Falcão, Tarcísio Matos e Juarez Leitão. A
idéia foi sugerida pelo amigo Vescêncio Fernandes (in memorian) diretor da
extinta revista Varal, onde parte do material do livro havia sido publicado.
Na época do lançamento, o Caderno
3 do Diário do Nordeste fez a seguinte observação: “Juntando crônicas que
escrevia para jornais e revistas sindicais como a Pérola Negra do Sindicato
dos Petroleiros, e para a própria Varal, Arievaldo observou que tudo
isso poderia dar um livro. Não precisaria ir longe para encontrar ilustrações
bem apropriadas ao contexto das histórias. Contou com o apoio de seu irmão e
artista plástico Klévisson, de Jefferson Portela e também deu suas próprias
pinceladas, já que trabalha há alguns anos nesta área.”
Um dos grandes méritos da obra
foi trazer a tona, de forma pioneira, ‘causos’ de personagens até então
anônimos, porém interessantíssimos. É o caso do personagem “Broca da Silveira”,
um cara cheio de espertezas que dribla sua condição de nordestino, pobre e
semi-analfabeto, para conseguir o que quer. Foi preso e subornou o médico da
penitenciária lá de São Paulo para lhe dar um medicamento que ficasse como um
morto. Conseguiu, então, embarcar numa urna “funerária” de volta ao seu
Nordeste. “A história dele é um misto de 50% de realidade e 50% de fantasia”,
afirmava Arievaldo, na matéria publicada em 1999 pelo DN. Além do já citado
Broca da Silveira, desfilam também pelas páginas do Baú o irreverente Zuca
Idelfonso, o irriquieto boiadeiro Zé Adauto Bernardino e o profeta matuto Zé Freire,
autor de uma curiosa oração para arranjar um magote de mulher. O autor conta
que numa temporada em Canindé, costumava se embrenhar sertão adentro ou mesmo
palestrar nos bares da cidade na companhia do poeta e boêmio Pedro Paulo
Paulino. Munidos de papel e caneta e às vezes de um note-book, os dois
observavam aquelas figuras bem características. Quando ouviam alguma história
interessante, passavam para o papel ou para o computador. Assim, foi ampliando
o material para a publicação do livro.
O terceiro capítulo é totalmente
dedicado a Literatura de Cordel, o grande forte de Arievaldo, considerado
atualmente um dos maiores expoentes desse gênero. O escritor apresenta seus
próprios cordéis e outros de parcerias com Jota Batista, Pedro Paulo Paulino,
Klévisson Viana e Sílvio Roberto Santos. Também trabalham temas atuais como a
clonagem da ovelha Dolly, o encontro de Fernando Henrique Cardoso com Pedro
Álvares Cabral nos 500 anos de descobrimento, a história de um poeta que
adquiriu uma boneca inflável e até mesmo uma sátira intitulada “Descaminhos das
Índias ou o Indiano que casou com uma cachorra”, incluída especialmente na
terceira edição da obra.
UM POUCO DA TRAJETÓRIA DO AUTOR:
Arievaldo Viana nasceu no Sertão Central do Ceará, em setembro de 1967. Desenha
e escreve cordéis desde a infância. Atuou também como radialista de 1985 a 92.
Trabalhava em Canindé, fazendo um quadro humorístico com personagens criados
por ele, como Salustiano e dona Filismina. Em 1992, veio para a capital e
integrou a equipe da Rádio Cidade e também na extinta TV Manchete, onde criou e
apresentou o humorístico “Jornal da Caatinga”, em parceria com Cícero Lúcio e
direção de Marcos Belmino, o saudoso “Ponhonhón”. Como escritor e poeta publicou contribuições em diversos jornais e
revistas, como Varal, Singular, Pérola Negra e atualmente na Nordeste
Vinteum, onde mantém a coluna “Sala de Reboco”, relembrando fatos da
vida e da obra de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Atua no movimento sindical como
chargista e ilustrador desde 1993. É o criador do projeto Acorda Cordel na Sala
de Aula, responsável pelo reconhecimento da literatura de cordel como gênero
literário indispensável ao ensino, já apresentado através de oficinas e
palestras em diversos estados do Brasil. Como escritor, Arievaldo Viana tem
mais de 100 folhetos de cordel já publicados e quase duas dezenas de livros
pelas maiores editoras do país: FTD, Cortez, Editora Globo, Planeta Jovem,
Editora IMEPH, Demócrito Rocha, Armazém da Leitura e Nova Alexandria.
O QUE DISSERAM DA OBRA
“O Baú da Gaiatice” é um livro
sério, mesmo tendo como objetivo fundamental divertir e provocar o riso. É que
espelha, com denodo e perícia, essa faceta esplêndida da alma cearense de
zombar das trapaças da sorte, se divertir em frente da desdita e, mesmo no meio
da noite mais tenebrosa, transportar em sua essência anímica os raios
incandescentes da aurora.”
(Juarez Leitão, escritor)
“Arievaldo Viana é um “velho”
poeta popular de trinta e três anos. Velho pela maturidade de seus versos, pelo
muito que tem observado, acumulado e repassado em termos de cultura popular.
Seu gosto pelo popular, despertado desde cedo - ainda criança - foi caldeado e
sedimentado em Quixeramobim e Canindé, no telurismo desses dois territórios
mágicos. As muitas leituras de folhetos, na infância, as muitas noites no
“sereno” de cantorias, imprimiram-lhe na alma o gosto pelo estilo dos bons
tempos - do tempo dos grandes poetas do cordel, sem contudo pretender
imitá-los. É fecundo. Jovem (um “velho” poeta de trinta e três anos), é autor
de várias dezenas de folhetos. Respira, vive poesia popular. Como poeta
popular, poder-se-ia dizer que sofre de incontinência poética.”
(Ribamar Lopes, poeta e
pesquisador da poesia popular, em dezembro de 2000)
“Se alguns resquícios etílicos
ainda me afetavam o fígado, foram definitivamente curados. Tudo por conta do
"Baú da Gaiatice", de Arievaldo Viana, que lí de uma tirada só no
último fim-de-semana. Ri a bandeiras despregadas com os "causos"
colhidos no filão riquíssimo da cultura popular em suas diversas vertentes, a
sertaneja, em primeiro lugar, a suburbana e a anedótica nascida nos meios mais
intelectualizados. Tudo seria vulgar não fosse a capacidade própria de
Arievaldo no saber contar, dando a cada estória o seu toque pessoal, a sua
graça de humorista.”
(Blanchard Girão, jornal O
ESTADO, junho de 1999)
O AUTOR E A OBRA, POR ELE MESMO
Acordei menino e ‘malino’ num
lugarejo encantado, um recanto ensolarado chamado fazenda Ouro Preto, cafundós
de Quixeramobim-CE, terra do beato Antônio Conselheiro.
Depois esse pedacinho de chão,
pertencente ao distrito de Macaóca, passou a integrar o município de Madalena,
território emancipado de Quixeramobim.
Para os lados do nascente se
avistam os contrafortes do serrote dos Tres Irmãos, gigantescos monólitos de
feição similar, que o velho Chico Pavio garantia tratar-se de três reinos
encantados. Ao sul, os contornos da belíssima serra da Cacimba Nova. Quando eu
era criança, alí pelos meados da década de 1970, não havia energia elétrica e a
nossa diversão predileta era ouvir a vovó Alzira ler os folhetos de cordel,
dentre eles Chegada de Lampião no Inferno, Cancão de Fogo, João Grilo, Pedro
Malazartes e o impagável Casamento e divórcio da Lagartixa. Foi justamente
nesses folhetos que eu me alfabetizei... ou melhor, desasnei na leitura, com
a ajuda de uma carta de ABC.
Essas leituras, aliadas a uma
forte dose de imaginação me impeliram a ouvir tudo que era conversa de matuto,
causos, arengas e ‘arisias’ ditas em estado sóbrio ou etílico nos balcões da
bodega do Mané Lima, meu avô. Já crescido, em busca de instrução e trabalho,
mudei-me para Maracanaú, Canindé e depois para o mundo... Foi daí que nasceu a
inspiração para fazer este Baú da Gaiatice.
SERVIÇO:
O Baú da Gaitice, 3ª Edição
Editora Assaré / Prêmius
220 páginas ilustradas
Preço de capa: R$ 25,00
Preço especial de lançamento: R$ 20,00
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