quarta-feira, 20 de março de 2013

Zé Fortuna e Silvino Pirauá: a cultura caipira abraça o cordel


Zé Fortuna, um dos maiores poetas da música sertaneja. 


No meu livro Breve História da Literatura de Cordel (Claridade) apresento alguns temas aproveitados pela poesia bárdica do Nordeste e pelo cancioneiro caipira de São Paulo e Minas. Eu, que não gosto de confinamento e acredito que toda manifestação artística está em perene construção, não me surpreendo com descobertas semelhantes. As histórias trágicas são mais comuns, principalmente as do ciclo do boi e as que remetem à tragédia grega. Exemplo disso é a História de Zezinho e Mariquinha, de Silvino Pirauá de Lima, que foi resumida em quadras de dez sílabas pelo grande Zé Fortuna:

Mariquinha, moça rica e muito linda,
no palácio da nobreza era a flor
em seu jovem coração da mocidade,
dedicava por Zezinho o seu amor

E os pais de Mariquinha não queriam,
por Zezinho ser um pobre sem vintém
mas no mundo a maldade não consegue,
separar dois corações que se quer bem.

Foi assim que o Zezinho foi-se embora,
pelo mundo com a sorte foi lutar
na esperança de um dia enriquecer
e poder com Mariquinha se casar.

Nesse tempo que o Zezinho esteve ausente,
oito anos sem jamais comunicar
com seu primo, homem idoso que ela odiava,
obrigaram Mariquinha a se casar.

E depois de oito anos sem notícia,
milionário o Zezinho regressou
pois foi mesmo justamente neste dia,
com seu primo Mariquinha se casou.

Estava ainda com seu véu de casamento,
Mariquinha com Zezinho encontrou
num abraço de paixão os dois morreram,
e assim este romance terminou.

Nota: Há, além da de Pirauá, mais duas versões de Zezinho e Mariquinha. Uma de Artur da Silva Torres, publicada no Rio de Janeiro, na década de 1940. Outra mais recente, de Antônio Teodoro dos Santos, publicada pela Editora Prelúdio de São Paulo, uma década depois, na este assina sob um de seus pseudônimos, Trovador Jaguarari.

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