A minha obra tem muito a ver com as
minhas memórias afetivas. Cada trabalho, dentro de um determinado parâmetro, é
uma ode à vida no que ela tem de essencial e uma viagem de retorno ao País da
Infância, para citar, uma vez mais, mestre Câmara Cascudo. E é com muita
satisfação que anuncio, para breve, a publicação de “Lá detrás daquela serra”,
reunião de quadras e cantigas populares, ouvidas desde os tempos em que andava
pelos carreiros da Ponta da Serra. O livro tem o selo da editora Peirópolis e
conta com ilustrações de Taisa Borges. Minha gratidão a
Renata Borges por acreditar nesse projeto que, sem saudosismo, é um homenageia as vozes anônimas que, sem pedir nada em troca, emprestam poesia ao nosso árido
cotidiano.
Abaixo, o texto de orelha escrito, à guisa de apresentação, por meu parceiro José Santos:
“O
escritor e folclorista Marco Haurélio veio de Ponta da Serra, no sertão baiano,
um lugar cercado de serras por todos os lados. É dali que ele nos traz a rica
poesia em que o povo é participante ativo, reelaborando, adaptando e ampliando
o significado das quadras e cantigas populares que o cordelista lembra de cor –
elas conversam com a ciranda, o coco de
roda e as lapinhas. E aqui estão belamente ilustradas por Taisa Borges, num
trabalho que nos leva aos lugares mais remotos da infância.
Há nesta
pesquisa uma postura que faz lembrar o folclorista e escritor português Teófilo
Braga, que no século XIX dedicou-se a recolher contos, quadras e canções
populares pelo seu país. Ele, tanto quanto Marco, sabia da importância de um
trabalho desse tipo para a preservação e afirmação da identidade do povo. Entre
essas cantigas, quadras e adivinhas rimadas, o leitor irá conhecer ou recordar
muitos e muitos versos, a exemplo destes:
É
uma caixinha
De
bom parecer.
Nenhum
carpinteiro
Sabe
igual fazer.
Convido o
leitor a fazer essa suave subida até as serras da poesia.”
Eis mais uma amostra:
Lá detrás daquela serra
Tem dois pilõezinhos de ouro.
Um é de pisar tempero,
Outro de pisar namoro.
Alecrim na beira d’água
Não se corta de machado;
Se corta de faca fina
Que é pra dar meu namorado.
Eu plantei um pé de cravo
Na esquina da janela.
No caminho lá de casa
Só anda moça donzela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário