quinta-feira, 26 de maio de 2011

O encontro de João Grilo com Pedro Malazarte


Escrita em 2009, a minha versão em cordel do conto popular A Roupa Nova do Rei inova ao reunir na mesma história os pícaros João Grilo e Pedro Malazarte. Os dois encarnam os alfaiates que burlam o rei vaidoso do reconto de Andersen. A história já era conhecida na Idade Média, quando Juan Manuel a incluiu no Libro dos exemplos do Conde Lucanor e de Patronio (1335).



O livro conta com ilustrações de Klévisson Viana, que já prepara a primeira edição, que sairá no formato folheto, com o selo da Tupynanquim.


Abaixo, as estrofes que abrem este cordel que mistura jocosidade com história de exemplo e tem o selo de qualidade da editora Volta e Meia:

As histórias de Cordel
São lidas em toda parte,
Umas falam de João Grilo,
Que fez da astúcia uma arte,
E por isso é comparado
Com o Pedro Malazarte.

As façanhas destes dois
Correm por todo o sertão
Em folhetos populares,
De grande circulação,
Pois é função do Cordel
Preservar a tradição.

João Grilo, considerado
O maior dos estradeiros,
Usou sua inteligência
Para enganar fazendeiros,
Comerciantes, gatunos,
Coronéis e cangaceiros.

Malazarte, nem se fala:
Era o rei das presepadas.
Suas historias ainda
São muito rememoradas;
Pelos poetas do povo
Foram imortalizadas.

O destino porém quis
Que estes dois espertalhões
Se encontrassem no Recife,
Em difíceis condições,
Pois não era próprio deles
Guardar suas provisões.

Malazarte aproximou-se
Do colega com estilo:
— Meu distinto cavalheiro,
Você não é o João Grilo?
João respondeu: — Não, senhor.
O meu nome é Petronilo.

—Petronilo o quê, sujeito! —
Exclamou o Malazarte. —
Se você não for João Grilo,
Sou o soldado Ricarte!
Uma cabeça tão grande
Não se vê em toda parte.

João retrucou: — E você,
Eu desconfio que seja,
O famoso Malazarte,
Que nunca enjeitou peleja
E já foi muito cantado
Pela musa sertaneja.

Malazarte disse ao Grilo:
— É uma satisfação
Conhecer o amarelo
Mais famoso do sertão.
— O prazer é todo seu —
Respondeu, mangando, João.

Os dois, então, se abraçaram
E se tornaram amigos,
Pois, sozinhos, passariam
Por infindáveis perigos,
E, juntos, superariam
Os maiores inimigos.

Como os dois já eram muito
Conhecidos no Nordeste,
João convidou o Malazarte,
Dizendo: — Cabra da peste,
Vou lhe fazer um convite,
Que na verdade é um teste.

Vamos para outro país
Onde a sorte nos ajude.
Desses que só aparecem
Em filmes de Hollywood.
Malazarte disse: — Vamos...
Aqui já fiz o que pude.

Embarcaram num navio,
No rumo de onde o sol nasce.
Por estarem sem recursos,
Pra que algum cobre restasse,
Na companhia dos ratos,
Foram na terceira classe.

O navio os conduziu
Para um distante país.
João Grilo pensou: “Aqui
Na certa, serei feliz”.
Já Pedro disse: — Aqui vou
Fazer o que nunca fiz.

(...)





















Para adquirir a obra, clique AQUI.
Marco Haurélio em ilustração de Klévisson. 


quarta-feira, 25 de maio de 2011

Oralidade, escrita e demagogia

Texto do emérito professor Zenir Campos Reis lança luz sobre o tenebroso horizonte da imprensa nativa.
 Caipira picando fumo, de Ameida Jr.

Língua oral e escrita

Por Zenir Campos Reis

            Antes de ler e escrever, falamos. A fala requer longo aprendizado. A boca existe prioritariamente para comer. Primum vivere. Aos poucos, desenvolvemos essa habilidade secundária de adaptar a boca, lábios, dentes e língua, para a emissão de sons inteligíveis, distintivos, que vão compor as palavras. No convívio social, os mais velhos ensinam aos mais jovens as regras de combinação das palavras, isto é, as regras básicas de sintaxe.
            A língua oral é econômica e tende à simplificação. Em português, por exemplo, a marca mais comum do plural é o “s” no final das palavras. Se esse fonema está presente no artigo fica entendido que estamos falando de mais de um objeto: o livro, os livro(s), um ou mais de um. Em outras línguas, o francês por exemplo, o “s” do plural nem é pronunciado: le livre, les livre(s). A marca do plural está presente apenas na diferença que a língua oral estabelece entre /le/ e /les/. Existem lingüistas que consideram a repetição da marca do plural uma espécie de pleonasmo, de repetição dispensável. Lembremo-nos da bela canção de Dorival Caymmi, “O bem do mar”, que começa assim:

            O pescador tem dois amor
            Um bem na terra,
            Um bem no mar (bis)

            O que fixa a língua é a letra, a escrita, para cuja conquista exige-se outro aprendizado, normalmente feito na escola. Compreende-se que a língua escrita não seja imediatamente acessível. Antropologicamente, na história da humanidade, o aparecimento da escrita parece estar relacionado ao surgimento de sociedades mais complexas e ao aparecimento da divisão social e da dominação. A posse da letra sinalizava o poder. A imprensa, então, é uma invenção tardia, do século XVI. O primeiro livro impresso foi uma Bíblia e a leitura e interpretação desse livro sagrado começou a ser objeto de disputa.
            A língua portuguesa, língua latina, proveio não do latim erudito, mas do chamado “latim vulgar”, o latim oral, falado por soldados e colonos iletrados ou pouco letrados. Um escritor de origem húngara, Paulo Rónai, grande conhecedor de línguas, quando tomou contato com a língua portuguesa, diz que lhe parecia um latim falado por pessoas desdentadas. Possivelmente era uma impressão verdadeira. Com certeza eram iletrados, pessoas “simples”, mais ou menos sinônimo de pobres. Muitos deles, desdentados.
            Esses pobres falavam, por exemplo “mágoa” ou “mancha”, em vez de “mácula”. Falavam “logro”, em vez de “lucro”. E diziam bem, diziam certo. Encontrei a palavra “resisto”, num sermão de Antônio Vieira, palavra que se diz em português do Brasil “registro”, ou, em Portugal, “registo”. Tudo muito certo, no contexto apropriado.
            A disciplina gramatical costuma vir das camadas letradas, muitas vezes associadas ao poder político, isto é, às normas adotadas pelas autoridades políticas e transformadas em acordos, tratados, normas, transmitidos via ministérios, academias, escolas oficiais.
            A realidade da língua viva é muito mais complexa e indisciplinada, porque a letra, que fixa a língua oral depende da alfabetização que não é universal, nem neste país nem em muitos outros países, mesmo do mundo dito desenvolvido. Uma longa conversa, como se vê.

Zenir Campos Reis é graduado em Letras pela Universidade de São Paulo (1970), e possui mestrado em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (1975) e doutorado em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (1980). Pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris) (1990-1991).

domingo, 22 de maio de 2011

INFLUÊNCIAS IBÉRICAS


PRESENÇA DE AUTORES ERUDITOS 

DE PORTUGAL E ESPANHA NA 

LITERATURA DE CORDEL*

Por Arievaldo Viana, no blog Acorda Cordel

História da Donzela Teodora, cordel de
Leandro Gomes de Barros editado por
João Martins de Athayde



Têm-se a errônea impressão de que os poetas populares são pessoas semi-analfabetas e de pouca incursão pelo campo literário.  Esse equívoco foi reforçado, de certo modo, pela figura brilhante de Antônio Gonçalves da Silva, o popular Patativa do Assaré, um poeta roceiro, que escrevia seus poemas na linguagem rude própria dos sertanejos. É bom que se esclareça que Patativa também compôs sonetos na linguagem convencional e era leitor assíduo de Camões, Castro Alves, Gonçalves Dias e outros poetas eruditos. Um analfabeto jamais teria condições de produzir uma obra com a qualidade de seus escritos, aparentemente simples, mas de grande profundidade filosófica. Outra questão que deve ser trazida à luz refere-se aos poetas Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima, João Martins de Athayde, João Melchíades Ferreira, José Galdino da Silva Duda, José Camelo de Melo e Francisco das Chagas Batista, considerados os grandes mestres da Literatura de Cordel. Todos tinham uma razoável formação intelectual, sendo que este último era dono de livraria e editora na capital da Paraíba. Manoel D’Almeida Filho, Manoel Camilo dos Santos e Joaquim Batista de Sena, poetas da segunda geração, também primavam pela correção ortográfica e eram dados a leituras eruditas. Batista de Sena chegou a confessar ao pesquisador José Vidal Santos, que havia lido todos os verbetes do Dicionário de Aurélio Buarque de Hollanda, com o intuito de melhorar seu vocabulário e empregar corretamente as palavras em seus poemas. Cantadores contemporâneos como Ivanildo Vilanova, Geraldo Amâncio e Oliveira de Panelas possuem, igualmente, uma grande bagagem cultural. O mesmo pode-se dizer de vários cordelistas da atualidade, dentre os quais destacaríamos Marco Haurélio, Gonçalo Ferreira, Manoel Monteiro, Rouxinol do Rinaré, dentre outros.
Uma prova evidente de que os mestres da poesia popular possuíam grande intimidade com as letras está na quantidade de folhetos e romances baseados em clássicos da literatura mundial, como “As mil e uma noites”, “Romeu e Julieta”, “Decamerão” e, evidentemente, o Antigo Testamento.
Mas, já que o tema central de nossa palestra são as influências ibéricas na poesia popular nordestina, passaremos a enumerar agora algumas obras literárias de Portugal e Espanha que serviram de inspiração para os nossos trovadores:

O drama O RICO AVARENTO da autoria do poeta português Bento Teixeira (Porto, 1560 – 1618) foi adaptado para Literatura de Cordel pelo paraibano Belarmino Nunes de França.
A obra PEDRO SEM, QUE JÁ TEVE E AGORA NÃO TEM, da autoria de Luís Antônio Bergain (natural de Havre, 1812) foi transformado em “HISTÓRIA DE PEDRO CEM” por  Leandro Gomes de Barros e posteriormente por Apolônio  Alves dos Santos.
O romance AMOR DE PERDIÇÃO, do grande escritor português Camilo Castelo Branco (Lisboa, 1825-1890) possui versão em cordel atribuída a João Martins de Athayde. Camilo escreveu também “A Vida de José do Telhado”.  Os poetas populares Antônio Teodoro dos Santos e Rodolfo Coelho Cavalcante utilizaram o personagem Zé do Telhado em folhetos de sua autoria.
O romancista espanhol Henrique Pérez Escrich escreveu a obra O MÁRTYR DO GÓLGOTHA, da qual possuímos uma edição de 1891, impressa em Porto e traduzida por J. Cruzeiro Seixas. Este romance teve grande aceitação em todo o Nordeste brasileiro e gozou de grande popularidade junto aos cantadores do passado. Era, ao lado do livro de Carlos Magno e do Lunário Perpétuo, leitura obrigatória para os poetas que cantavam “ciência” no passado.  Serviu também de fonte de inspiração para diversos poetas como Severino Borges da Silva, Manoel Pereira Sobrinho, Maria Batista Neves Pimentel e Francisco das Chagas Batista, todos paraibanos. Existem dois folhetos com o título O JUDEU ERRANTE, um de Manoel Pereira Sobrinho, outro de Severino Borges da Silva, que são claramente influenciados pela narrativa de “O Mártyr do Gólgotha”. Chagas Batista escreveu a HISTÓRIA DE DIMAS, O BOM LADRÃO, que também denota influências da referida obra. Já Maria das Neves Batista Pimentel escreveu O VIOLINO DO DIABO, inspirado em romance do mesmo nome, da autoria do citado Pérez Escrich.

Joaquim Batista de Sena, paraibano de Solânea, escreveu o poema AS SETE ESPADAS DE DORES DE MARIA SANTÍSSIMA claramente inspirado no romance de Pérez Escrich, notadamente na passagem que relata o encontro da Sagrada Família com Dimas, o bom ladrão, nos desertos das Judeia:

Inspirai-me ó Virgem Pia
Mãe de Deus, mãe amorosa
Para em poema versar
A coroa dolorosa
E ver se colho uma lágrima
Da pessoa impiedosa.

Quem subir o pensamento
Vai do Gólgota observando
Jesus pregado na cruz
A sua vida ultimando
Maria ao pé do lenho
Seus tormentos contemplando.

Os tormentos de Jesus
São os mesmos de Maria
Quando furavam seu filho
O seu coração feria
Ele sofria no corpo
Ela na alma sofria.

E não foi só no Calvário
Aquelas lágrimas sentidas
Mas toda a sua existência
Foi de dores comovidas
Era uma sobre a outra
Como ondas embravecidas.

A primeira dor foi quando
Jesus Cristo foi à pia
Que o velho Simeão
Tomou ele de Maria
E com a profetisa Ana
Declarou-lhe a profecia:

- Senhora, esse vosso filho,
Disse o velho Simeão
Será para vós motivo
De lágrimas, dor e paixão
E por ele, sete espadas
Transpassam o teu coração.

(...)

A segunda dor foi quando
Veio um anjo lhe avisar
Que fugisse para o Egito
E deixasse o seu lugar
Que Herodes o perseguia
Para o menino matar.

(...)

Numa noite tenebrosa
De relâmpagos e trovões
Seguia a Virgem chorando
São José em orações
Caíram em cerco de Dimas
Com o coito de ladrões.

São José amedrontado
Estacou naquele canto
A Virgem escondeu o filho
por debaixo do seu manto
Pensando ser os judeus
Pra matar seu filho santo.

São José pediu a eles
Por Jeová, Deus divino,
Que mal vos fez essa mãe
Com esse pobre menino,
Para banhar nosso sangue
Nesse punhal assassino?

Com a maior piedade
Falou Dimas, bom ladrão,
Nenhum desses meus capangas
Te tocará com a mão
E levou-os ao seu castelo
Comovido em compaixão.

Seguindo a mesma linha adotada pelos grandes mestres da Literatura de Cordel, desenvolvi e apresentei ao público (do Congresso Internacional de Professores da Língua Espanhola) um trabalho de nossa autoria denominado “A FORÇA DO SANGUE”, um cordel de 32 páginas baseado numa novela exemplar de Miguel de Cervantes, do qual apresentamos algumas estrofes:

Para o leitor que aprecia
Um bom romance rimado
Leia agora este episódio,
Há muito tempo passado.
Em Toledo, na Espanha,
Por Cervantes foi narrado.

Em Novelas Exemplares
Se encontra essa história
Eu a li quando criança
E ainda trago na memória
Narra um grande sofrimento
Com final cheio de glória

Um cidadão de Toledo
Retornava com a família
De um passeio vespertino
Por uma sinuosa trilha
Com a  mulher, um menino
E também sua linda filha.

(...)

Esse texto é um fragmento da palestra “Influências Ibéricas na Literatura de Cordel”, que proferi em 2002 num congresso de professores de língua espanhola, realizado em Fortaleza-CE.

Enrique Pérez Escrich, escritor
espanhol de sucesso no final do século XIX

sábado, 21 de maio de 2011

Clássico do Cordel em quadrinhos


Uma das obras-primas da literatura de cordel, Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, de Leandro Gomes de Barros, ganhou uma versão em quadrinhos assinada por Klévisson Viana e Eduardo Oliveira. A boa nova veio do blog Acorda Cordel, de Arievaldo Viana. A HQ da dupla conquistou o prêmio Luiz Sá de Quadrinhos, promovido pela SECULT-CE.

Abaixo, reproduzo o texto da Apresentação, que tenho a honra de assinar:

A versão em quadrinhos do clássico cordel brasileiro,  A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, é especial por vários motivos. Primeiro porque une o talento do fundador da literatura de cordel no Brasil, Leandro Gomes de Barros, ao dos consagrados ilustradores Klévisson Viana, também poeta e editor, e Eduardo Azevedo. Segundo porque apresenta às novas gerações, em um formato mais do que atraente, um dos melhores textos poéticos daquele que, no cordel, foi cognominado o Primeiro sem Segundo. Os demais motivos estão explicitados nos próximos parágrafos.

Leandro Gomes de Barros, ao reescrever em versos episódios significativos da História de Carlos Magno e dos Doze pares de França, inaugurou, na poesia popular, o gênero épico. Composta em décimas de sete sílabas, A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás e a continuação A Prisão de Oliveiros têm um ancestral remoto: a canção de gesta francesa do século XII, chamada Fierabras. Pertence, como a anterior Canção de Rolando, ao chamado Ciclo Carolíngio. Nela, pela primeira vez aparece Ferrabrás filho do emir Balan (o almirante Balão do romance leandrino), governante da Espanha muçulmana. Na Espanha, surgiu, com título ampliado, uma tradução de 1525: Historia del Emperador Carlomagno y de los Doce Pares de Francia: e de la  Cruda Batallha que Hubo Oliveiros con Ferrabrás, Rey de Alexandria, Hijo del Grande Almirante  Balán. A tradução portuguesa, levada a cabo por Jerônimo Moreira de Carvalho, a mesma que circularia pelos sertões do Brasil por mais de dois séculos, é de 1728.
A velha canção de gesta narra como, liderando as hordas da Turquia, Ferrabrás e seu pai saqueiam Roma e se apropriam de relíquias da Igreja de São Pedro: a coroa de espinhos de Cristo, os cravos e uma inscrição da Cruz, além do óleo usado para untar o corpo de Nosso Senhor. Este episódio aparece no folheto de Leandro, narrado por um dos guerreiros franceses, Ricarte da Normandia, com a ação deslocada para Jerusalém:
Aquele foi quem entrou
Dentro de Jerusalém.
Não respeitando ninguém,
Até apóstolos matou,
No templo sagrado achou
Bálsamo que Deus foi ungido,
Coisas que tinham servido
Na paixão do Redentor,
A coroa do Senhor,
Tudo ele tem conduzido.
Carlos Magno e seus paladinos dão combate aos invasores, mas não impedem a destruição da cidade. De volta à Península Ibérica Ferrabrás, gigante bravateador, desafia os paladinos franceses para um duelo singular. Diante da recusa destes, Carlos Magno se enfurece e ofende o maior dos heróis da França, seu  sobrinho Roldão. Oliveiros, companheiro de todas as horas de Roldão, mesmo ferido, apresenta-se para o combate. A princípio faz passar-se por Guarim, seu escudeiro, mas Ferrabrás, desconfiado, descobre tratar-se de um nobre e, durante a batalha, mais de uma vez, mostra-se cortês, de acordo com as leis da cavalaria. Notando o estado em que se encontrava o oponente, Ferrabrás oferece-lhe um bálsamo capaz de curar todas as feridas, mas Oliveiros, orgulhoso, recusa. Só aceita servir-se de bálsamo, quando o toma pela espada.
A Batalha na cultura popular

Nas cavalhadas, uma das mais belas manifestações da cultura popular brasileira, resta, diluída, a lembrança dos embates entre mouros (turcos) e cristãos. Em Serra do Ramalho, na Bahia, na véspera de São João, ocorre uma encenação a céu aberto, que reconta a saga do imperador cristão Carlos Magno em guerra com o almirante Balão. Esta modalidade é a cavalhada teatral, que mescla a encenação à demonstração de habilidades dos cavaleiros, lembrando as justas (torneios medievais). Em outras cidades do Brasil, a exemplo de Divinópolis, Goiás, a cavalhada é atração turística. Durante a encenação, os paladinos cristãos, trajados de azul, combatem os mouros, que vestem encarnado. Geralmente, o auto é encerrado com a conversão dos mouros ao Cristianismo.