O cantor e compositor baiano Raul Seixas (1945-1989) não era indiferente à literatura de cordel. Aliás, a estrutura do cordel pontua boa parte de sua obra. Exemplos não faltam. A música Os Números, de 1976, feita em parceria com Paulo Coelho, traz sextilhas como esta:
“Meus amigos,esta noite
Tive uma alucinação
Sonhei com bando de número
Invadindo meu sertão
Vi tanta coincidência
Que eu fiz esta canção.”
Um ano depois, com novo parceiro, Cláudio Roberto, Raul apresentou Que Luz é Essa?, que mantém a estrutura do verso setissílabo, no compasso da poesia popular. Eis a resposta à pergunta do título:
“É a chave que abre a porta
Lá no quarto do segredo
Vem provar que nunca é tarde
Vem mostrar que é sempre cedo
E que pra todo pecado
Sempre existe um perdão
Não tem certo nem errado
Todo mundo tem razão
E o que o ponto de vista
É que é o ponto da questão”.
Vale lembrar que o “quarto do segredo” é um motivo recorrente dos contos populares, que inspiraram muitas estórias do Cordel. Muitos livros foram escritos sobre Raulzito, mas com exceção de Raul Seixas: Dez Mil Anos à Frente, de minha autoria, nenhum conseguiu enxergar a influência da literatura de cordel na obra do cantor e compositor baiano. É o mesmo que falar do paraibano Zé Ramalho e omitir a presença dos cantadores nordestinos no alicerce de sua obra.
Os poetas populares, mais familiarizados com o assunto, vão logo ao cerne da questão. É o caso do cearense Arievaldo Viana, que imaginou um Encontro de Raul Seixas com Zé Ramalho na Cidade de Thor. É a mesma cidade visitada por Raul Seixas no distante ano de 1974. O Encontro mágico dá ensejo a uma peleja, em que predomina o martelo agalopado:
“Raul: - Eu botei uma pitada nordestina
Fiz meu rock em forma de cordel
Pois também admiro o menestrel
Como o papa ama a capela sistina
Botei Jackson do Pandeiro e concertina
Fiz xaxado, fiz rock, fiz baião
Mas não tenho nada a ver com a evolução
Da tal Música Populista Brasileira
Certo dia, bateu-me uma canseira
E viajei, para sempre, na ilusão...”
A resposta do bardo paraibano remete ao hino Canção Agalopada, nascido nas páginas do folheto de Cordel Apocalipse:
“- Companheiro, já é tarde, eu preciso
Para o mundo dos homens retornar
Os meus filhos me esperam no meu lar
E os fãs querem ouvir meu improviso
Um relato completo e conciso
Desse encontro importante que tivemos
Se na fonte da verdade nós bebemos
É preciso espalhar nesse momento
A beleza de tal conhecimento
Nestes versos que agora escrevemos.”
Cearense como Arievaldo, Costa Senna chegou a São Paulo em 1990. Os versos de Raul Seixas entre Deus e o Diabo são bem conhecidos pelos “raulseixistas”, espalhados que foram pelo poeta por lugares os mais inacreditáveis:
“No dia 21 de agosto
Vi o jornal sobre a mesa
Logo na primeira página
Estava a triste surpresa
Da morte eu tenho queixas
Ela levou Raul Seixas
Nosso maluco beleza”.
Outro ilustre bardo da terra de Iracema, Antônio Carlos da Silva, o Rouxinol do Rinaré, enriquece a bibliografia em cordel do anárquico roqueiro baiano com títulos como: Raul Seixas, um Cowboy Fora da Lei; Raul Seixas e Paulo Coelho Buscando Sonho e Magia e O Encontro de John Lennon com Raul Seixas no Céu. O último parece fazer parte de um ciclo dentro do ciclo de cordéis sobre Raul, que explora as supostas peripécias post-mortem do carpinteiro do universo, nunca dissociadas do seu legado lítero-musical:
“ Na terra a coisa tá preta
Por lá os homens piraram
Loucos de cega ambição
Os políticos se tornaram
Vilões, carrascos e vítimas
Do sistema que criaram”.
Do mesmo modo que Arievaldo, Senna e Rouxinol, também viajei pelas sendas do Novo Aeon, vez por outra parando pra descansar na Vila do Sossego.
O meu folheto Galopando o Cavalo Pensamento foi classificado por Arievaldo como “galope soberano”, tomando de empréstimo um termo cunhado por Mestre Zé Ramalho. Tirem suas conclusões:
“Das trombetas ecoa um novo som,
O tinido das armas me atordoa,
O rufar de tambores longe soa,
Destruindo o último Panteon.
Será esse sinal o Armagedon?
Ou apenas mais um renascimento
De um ciclo que traz o advento
Duma aurora de brilho sem igual,
Sem início, sem meio e sem final,
GALOPANDO O CAVALO PENSAMENTO.
Finalizando esta pequena antologia, e prometendo voltar a falar do tema, deixo esta setilha, que fecha o poema O Anel do Nibelungo:
“Agora podes deixar-me
Segue teu caminho em paz.
Não te abatas novamente
E não te esqueças jamais
Do quanto eu sou fecundo
Não tem nada neste mundo
Que eu não saiba demais”.
“Meus amigos,esta noite
Tive uma alucinação
Sonhei com bando de número
Invadindo meu sertão
Vi tanta coincidência
Que eu fiz esta canção.”
Um ano depois, com novo parceiro, Cláudio Roberto, Raul apresentou Que Luz é Essa?, que mantém a estrutura do verso setissílabo, no compasso da poesia popular. Eis a resposta à pergunta do título:
“É a chave que abre a porta
Lá no quarto do segredo
Vem provar que nunca é tarde
Vem mostrar que é sempre cedo
E que pra todo pecado
Sempre existe um perdão
Não tem certo nem errado
Todo mundo tem razão
E o que o ponto de vista
É que é o ponto da questão”.
Vale lembrar que o “quarto do segredo” é um motivo recorrente dos contos populares, que inspiraram muitas estórias do Cordel. Muitos livros foram escritos sobre Raulzito, mas com exceção de Raul Seixas: Dez Mil Anos à Frente, de minha autoria, nenhum conseguiu enxergar a influência da literatura de cordel na obra do cantor e compositor baiano. É o mesmo que falar do paraibano Zé Ramalho e omitir a presença dos cantadores nordestinos no alicerce de sua obra.
Os poetas populares, mais familiarizados com o assunto, vão logo ao cerne da questão. É o caso do cearense Arievaldo Viana, que imaginou um Encontro de Raul Seixas com Zé Ramalho na Cidade de Thor. É a mesma cidade visitada por Raul Seixas no distante ano de 1974. O Encontro mágico dá ensejo a uma peleja, em que predomina o martelo agalopado:
“Raul: - Eu botei uma pitada nordestina
Fiz meu rock em forma de cordel
Pois também admiro o menestrel
Como o papa ama a capela sistina
Botei Jackson do Pandeiro e concertina
Fiz xaxado, fiz rock, fiz baião
Mas não tenho nada a ver com a evolução
Da tal Música Populista Brasileira
Certo dia, bateu-me uma canseira
E viajei, para sempre, na ilusão...”
A resposta do bardo paraibano remete ao hino Canção Agalopada, nascido nas páginas do folheto de Cordel Apocalipse:
“- Companheiro, já é tarde, eu preciso
Para o mundo dos homens retornar
Os meus filhos me esperam no meu lar
E os fãs querem ouvir meu improviso
Um relato completo e conciso
Desse encontro importante que tivemos
Se na fonte da verdade nós bebemos
É preciso espalhar nesse momento
A beleza de tal conhecimento
Nestes versos que agora escrevemos.”
Cearense como Arievaldo, Costa Senna chegou a São Paulo em 1990. Os versos de Raul Seixas entre Deus e o Diabo são bem conhecidos pelos “raulseixistas”, espalhados que foram pelo poeta por lugares os mais inacreditáveis:
“No dia 21 de agosto
Vi o jornal sobre a mesa
Logo na primeira página
Estava a triste surpresa
Da morte eu tenho queixas
Ela levou Raul Seixas
Nosso maluco beleza”.
Outro ilustre bardo da terra de Iracema, Antônio Carlos da Silva, o Rouxinol do Rinaré, enriquece a bibliografia em cordel do anárquico roqueiro baiano com títulos como: Raul Seixas, um Cowboy Fora da Lei; Raul Seixas e Paulo Coelho Buscando Sonho e Magia e O Encontro de John Lennon com Raul Seixas no Céu. O último parece fazer parte de um ciclo dentro do ciclo de cordéis sobre Raul, que explora as supostas peripécias post-mortem do carpinteiro do universo, nunca dissociadas do seu legado lítero-musical:
“ Na terra a coisa tá preta
Por lá os homens piraram
Loucos de cega ambição
Os políticos se tornaram
Vilões, carrascos e vítimas
Do sistema que criaram”.
Do mesmo modo que Arievaldo, Senna e Rouxinol, também viajei pelas sendas do Novo Aeon, vez por outra parando pra descansar na Vila do Sossego.
O meu folheto Galopando o Cavalo Pensamento foi classificado por Arievaldo como “galope soberano”, tomando de empréstimo um termo cunhado por Mestre Zé Ramalho. Tirem suas conclusões:
“Das trombetas ecoa um novo som,
O tinido das armas me atordoa,
O rufar de tambores longe soa,
Destruindo o último Panteon.
Será esse sinal o Armagedon?
Ou apenas mais um renascimento
De um ciclo que traz o advento
Duma aurora de brilho sem igual,
Sem início, sem meio e sem final,
GALOPANDO O CAVALO PENSAMENTO.
Finalizando esta pequena antologia, e prometendo voltar a falar do tema, deixo esta setilha, que fecha o poema O Anel do Nibelungo:
“Agora podes deixar-me
Segue teu caminho em paz.
Não te abatas novamente
E não te esqueças jamais
Do quanto eu sou fecundo
Não tem nada neste mundo
Que eu não saiba demais”.
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