sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Romance baseado em conto dos Irmãos Grimm é relançado pela Tupynanquim



Com direito a belíssima capa de Klévisson Viana, o romance AS TRÊS FOLHAS DA SERPENTE (Marco Haurélio), baseado num conto popular 'dos' Irmãos Grimm, foi relançado pela editora Tupynanquim, de Fortaleza. O conto alemão Die drei Schlangenblätter aparece apenas em duas traduções brasileiras: As três serpentes brancas, presente em Novos contos (Trad. Eugênio Amado. Belo Horizonte: Itatiaia, 2006); e As três folhas da serpente, que integra  a antologia Contos e lendas dos Irmãos Grimm (Trad. Íside M. Bonini. São Paulo: Edigraf, 1961, 8 volumes).

A minha versão em cordel passou por alterações, sem, contudo, interferir no arcabouço mito-poético. Uma delas é a ambientação da história na Irlanda, país onde a cultura celta foi melhor preservada.

O belo conto em que se baseia este romance conserva, em sua essência, a informação de um antigo rito fúnebre que aparece também na quarta viagem de Simbad, o marujo: a obrigatoriedade de, morrendo um dos cônjuges, o vivo ser sepultado ao lado do morto. A serpente, em sua ambivalência, aparece aqui como emblema da imortalidade. Ambientada na Irlanda, a versão em cordel traz algumas sutis modificações, sem alteração do motivo principal, encontrável até na mitologia grega. 



Trecho do romance:

AS TRÊS FOLHAS DA SERPENTE

Eu vou narrar uma história
De inigualável beleza
Sobre um valente soldado
Movido pela nobreza,
Mas que enfrentou neste mundo
A traição e a vileza.

Num casebre miserável
De todo o mundo isolado
Vivia um pobre viúvo,
Pela miséria assolado
E só não era mais triste
Por ter um filho ao seu lado.

Este moço recebeu,
Na pia, o nome de João;
O pai se regozijava
Com sua dedicação,
Só lamentava não dar-lhe
Uma cômoda posição.

Porém, devido à pobreza,
O viúvo adoeceu,
Mesmo João o acompanhando,
A moléstia não cedeu
A alma deixou o corpo,
Deus na glória o recebeu.

João sepultou o seu pai
Perto duma penedia,
Armou-se da velha espada,
Que de herança recebia,
E saiu, sem ter destino,
Na tarde do mesmo dia.

Andou por terras estranhas,
Aprendeu vários ofícios,
Venceu as dificuldades,
À custa de sacrifícios,
Mas nunca se consumiu
Na labareda dos vícios.


Já com vinte e cinco anos,
Era um rapagão decente,
Sua figura chamava
Atenção de toda a gente,
Pois, além do belo porte,
Era por demais valente.

Então, o rei da Irlanda
Empregou-o como soldado —
De todos do batalhão
Ele era o mais destacado;
Só não subia de posto
Por não ser dissimulado.

Porém aquela nação
Achou-se em cruenta guerra,
Assim, João foi convocado
Para a defesa da terra
Contra o poderoso exército
Da impiedosa Inglaterra.

Viam navios ingleses
Em todo canto atracados,
E, do seu interior,
Saírem muitos soldados,
Ferozes e sanguinários,
Até os dentes armados.

Do lado dos irlandeses
Boa parte então debanda,
O sangue dos que resistem
Tinge de rubro a Irlanda,
E os ingleses avançando
Com uma fúria nefanda.

O comandante das tropas
Bradou: — Guerreiros, avante!
Mas uma flecha assassina
Atingiu-o num instante,
Deixando as tropas da Irlanda
Privadas do comandante.

Os soldados irlandeses
Fugiam apavorados;
João postou-se em sua frente,
Gritando: — Bravos soldados,
Por que vós estais fugindo
Como coelhos assustados?

Julgais que os brutos ingleses
Seguirão corretas trilhas?
Pois cairão feito cães
Em incontáveis matilhas,
Desonrando nossa Pátria,
Nossas mulheres e filhas!

Dizendo aquilo, avançou
Na direção do inimigo,
Sob uma chuva de flechas,
No mais tremendo perigo,
Chamando os ingleses para
Bater em armas consigo.

Nenhuma flecha o atingiu,
Pois o Céu o protegia,
Cada golpe desferido,
Um inimigo caía,
Outros fugiam com medo,
Vendo tanta valentia.

Quando os seus compatriotas,
Viram a bravura de João,
Enfrentando os inimigos,
Com a fúria de um leão,
Gritaram: — Enquanto vivermos,
Ninguém toma o nosso chão!

E retomaram a batalha,
Com uma ira incontida;
Os ingleses recuaram,
Temendo perder a vida —
Assim, João venceu a guerra,
Que já se achava perdida.

(...)

Para conhecer este texto na íntegra, entre em contato com a Editora Tupynanquim, de Fortaleza:
Telefone: (85) 3217 2891

Atualização: As três folhas da serpente integra a Antologia do Cordel Brasileiro, composta por 15 obras de autores de épocas diversas, lançada pela Global Editora.