segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Florentino e Mariquinha no Tribunal do Destino


Há algum tempo morando em São Paulo, no ir e vir constante da metrópole, uma história martelava na minha cabeça e uma voz interior sentenciava: “Escreva-a”. A história teria como ponto de partida um conto tradicional, O testemunho das gotas de chuva, narrado por minha avó materna, Alaíde Maria Fernandes, e reproduzido no livro Contos e fábulas do Brasil (Nova Alexandria, 2011). Percebi, no entanto, que o conto, em sua forma original, era insuficiente para um romance em versos de fôlego. Precisava criar um enredo atraente com personagens convincentes, além de descrever os costumes sertanejos, já que a trama se desenvolve em algum recanto do Nordeste.

No enredo deste Florentino e Mariquinha no Tribunal do Destino, aparecem as festas religiosas do Brasil, como o São João e a Festa do Divino, ambas de origem pagã, ligadas a tradições vetustas que envolviam ritos da fertilidade e sacrifícios propiciatórios. O fatalismo árabe presente neste romance é o leitmotiv de romances de cordel como Os Três Conselhos da Sorte, de Manoel D’Almeida Filho, A Triste Sorte de Jovelina, de Sátiro Xavier Brandão, e o meu Os Três conselhos Sagrados.

O enredo, em sua parte final, apoia-se no motivo universal da “natureza denunciante”, estudado e transformado em ciclo pelo mestre maior dos estudos etnográficos no Brasil, Luís da Câmara Cascudo. Há um intertexto com a obra basilar do cordel, O cachorro dos mortos, do pioneiro Leandro Gomes de Barros, que se insere, assim como esta, na tradição milenar dos romances trágicos, aos quais o Nordeste brasileiro imprimiu novo significado com o drama do cangaço, as tocaias nas encruzilhadas e os crimes de “honra”. Tudo isso envolvido pela crença em uma justiça imanente, que recusa os sacrifícios injustos e pune os que violam os domínios da Natureza, outrora deificada.

Eis o início desta história, que a Editora Luzeiro, a mais tradicional casa publicadora da literatura de cordel brasileira, incluiu em seu catálogo:

Escrevo histórias rimadas
Desde os tempos de menino,
E agora conto mais uma
No meu verso genuíno:
Florentino e Mariquinha
No Tribunal do Destino.

Meus versos fazem parada
No Reino da Inspiração
Para recontar um drama
Passado no meu sertão,
Mostrando que um crime bárbaro
Não ficou sem punição.

Na fazenda Boqueirão,
Um recanto do Nordeste,
Vivia o Zé Florentino,
Espírito rude e agreste.
Que na labuta da roça,
Superava qualquer teste.

Órfão de pai e de mãe,
Cansaço não conhecia.
Para prover seu sustento,
Trabalhava todo dia
E do suor do seu rosto,
Com todo orgulho vivia.

E uma estrofe-síntese, que faz lembrar a antiga noção de Justiça, chamada pelos  gregos de Têmis, presente no título deste romance:

E mesmo que a lei dos homens
Perca o rumo, perca o tino,
Há leis que foram traçadas
Por um decreto divino
E os crimes serão julgados
No Tribunal do Destino.

Dados da obra:

Autor: Marco Haurélio 
ISBN: 978-85-7410-111-8 
Formato: 13,5 x 18 cm 
Páginas: 32

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