quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Aventuras de Roldão, o Paladino da França


Tenho me descuidado deste blogue, espaço que cultivo desde 2009, e cujo nome, inspirado na canção "Baião atemporal", de Gilberto Gil, confere a mesma dignidade à Literatura de Cordel. Apesar de postar cada vez menos, tenho constatado que a marca de mil acessos diários tem sido uma constante. Por isso, não poderia deixar de registrar um dos meus grandes orgulhos: o lançamento, pela Editora de Cultura, na coleção Cordel na Estante, por mim coordenada, do épico em cordel Aventuras de Roldão, o Paladino da França. Ilustrada por Jefferson campos, um dos grandes talentos da xilogravura popular brasileira, este livro esperou mais de dez anos para ir ao prelo. Chega, vestido de azul, a cor do partido francês nas Cavalhadas dramáticas, com mais de 300 sextilhas. Para não perder tempo, reproduzo abaixo um dos paratextos, o Introito, e os versos que abrem o livro:

Foi um desafio, uma peleja e uma grande honra trazer para o cordel a saga do cavaleiro Roldão, o mais famoso dos heroicos guardas pessoais do imperador Carlos Magno (742-814), ou Carlos, o Grande, que uniu os diversos reinos existentes na Europa durante a Idade Média. Roldão era o principal dos Doze Pares de França, a fraternidade guerreira desse importante monarca.

Milão e Berta fogem de Carlos Magno

Baseei-me na monumental História do Imperador Carlos Magno, traduzida para o português por Jerônimo Moreira de Carvalho, e em A Canção de Rolando, escrita ou copiada por Turold, obscuro monge de origem normanda, entre o final do século XI e o início do século XII. Li, ainda, os entrechos de duas cavalhadas dramáticas baianas, nas quais se conservam vivos e atuantes os personagens da chamada Matéria Francesa – isto é, o material lendário relativo à França na literatura medieval. Recorri às epopeias italianas Orlando Furioso, de Ludovico Ariosto, e Orlando Enamorado, de Matteo Maria Boiardo. Orlando e Rolando são designações do mesmo herói. Roldão foi tema de acalorada discussão no imortal D. Quixote, de Miguel de Cervantes. Reli ainda todos os folhetos da matéria carolíngia e o Romance da Pedra do Reino, do inesquecível romancista e dramaturgo brasileiro Ariano Suassuna (1927-2014), no qual as referências a Carlos Magno e aos Doze Pares de França são abundantes. As fases da vida do herói foram garimpadas em obras distintas: a infância, a juventude e o episódio do leão de ouro aparecem na História de Carlos Magno, e a sua morte heroica em Roncesvales, na Espanha, é a razão de existir da Canção de Rolando. Optei pela forma Roldão, como o grande paladino é conhecido no Brasil e em Portugal, não apenas nas fontes escritas, mas também nos folguedos. Além das cavalhadas, eles envolvem as cheganças, marujadas e autos independentes, como o de Floripes, dispensando maiores justificativas. Outra dificuldade foi fixar o nome dos Doze Pares, por conta da disparidade entre a Canção e a História de Carlos Magno. Optei, nesse caso, pela última obra, que dialoga mais de perto com as nossas tradições populares.

Roldão mostra a Ricarte o retrato de Angélica. 

Encruzilhada semelhante se apresentou no tocante ao nome da amada do herói: Alda, irmã de Oliveiros, na Canção; Angélica, filha de Abderraman, na História de Carlos Magno e nos cordéis. Fiquei, também, com a segunda opção. E descobri, quando pesquisava outras versões da história do combate entre Roldão e o gigante Ferragus, o livro Legends of Charlemagne or Romance of the Middle Ages, de Thomas Bulfinch [“Lenda de Carlos Magno ou Romance da Idade Média”], inédito no Brasil.

Roldão e o leão de ouro

É preciso advertir que as aventuras atribuídas ao paladino foram compostas ao longo de nove séculos e, a depender do contexto, apresentarão muitas variações. Personagem fascinante, Roldão figura na literatura de cordel e no repente nordestino como símbolo do herói indomável, campeão da Cristandade, líder de uma fraternidade guerreira, cavaleiro indômito e modelo que inspiraria, em outras épocas, os caubóis do Faroeste americano e os cangaceiros e vaqueiros nordestinos.

Carlos Magno foi um rei
Eternizado na história;
De suas grandes façanhas
Ainda existe a memória.
Já em vida era coberto
Por uma auréola de glória.
 
Governou por muitos anos
Com o cetro, a espada e a lança,
Aumentou o seu império
Com força e perseverança,
Graças aos seus cavaleiros,
Os Doze Pares de França.
 
De todos estes guerreiros,
Um tinha voz de trovão,
A astúcia duma raposa,
Com a força do leão.
Se a França o chamou Roland,
No Brasil, ele é Roldão.
 
Roldão era um cavaleiro
De figura soberana.
Em campo, quando brandia
Sua espada Durindana,
Assustava os inimigos
Com coragem sobre-humana.
 
Este guerreiro que foi
De Carlos Magno sobrinho
Jamais se curvou ao medo,
Nunca em vida foi mesquinho,
Fez da honra o seu brasão,
Da justiça o seu caminho.

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