sábado, 3 de agosto de 2013

Artes do Caipora, mais um título pela Paulus

Recebi, de Alexandre Carvalho, editor de infantojuvenis da Paulus, a melhor notícia de sexta-feira. Finalmente foi impressa a primeira edição do livro Artes do Caipora em cordel. A obra integra a coleção Mistura Brasileira, na qual já tenho publicado A lenda do Saci-Pererê. 

Para se entender melhor a personagem deste novo livro, reproduzo, a seguir, um trecho da apresentação:

Presença marcante em todo o Brasil, desde o tempo em que havia muitas florestas e caça abundante, o Caipora é um duende que assombra e persegue os caçadores que abatem mais animais do que o necessário à sua sobrevivência. Embora seja confundido com o Curupira, tem alguns traços que ora o diferenciam, ora o aproximam desse mito. Os depoimentos dos primeiros cronistas que escreveram sobre os habitantes mais antigos do Brasil e suas crenças não citam o Caipora (ou Caapora), mas sobre o Curupira, a documentação é abundante.

A princípio, o Curupira era uma espécie de divindade protetora das árvores  sem forma definida, provocador de verdadeiro pavor entre os índios, que evitavam deixar as malocas à noite. Segundo Câmara Cascudo, o “Curupira foi o primeiro duende selvagem que a mão branca do europeu fixou no papel e comunicou aos países distantes”. A citação deu-se numa carta assinada pelo padre José de Anchieta, datada de 31 de maio de 1560.


Na Amazônia, é um tapuio pequeno, de quatro palmos, com o corpo coberto de pelos, segundo depoimento de Barbosa Rodrigues. Tem os pés voltados para trás, dentes azuis ou verdes e força desproporcional ao seu tamanho. A palavra Curupira, traduzida do tupi-guarani, significa, aproximadamente, “corpo de menino”. Embora representado sob forma humana, pode se transformar em qualquer animal, atraindo o caçador para mais distante, fazendo com que se perca na floresta. Essa informação do pesquisador Ermano Stradelli aproxima o Curupira do Caipora, cujas características também são encontradas no Saci, e é, também, um indígena anão que monta um porco do mato, a queixada, e assombra os caçadores que adentram seus domínios. Caipora vem de caa (mato) e pora (habitante).

As ilustrações feitas sobre a madeira, criando um efeito visual inusitado, são de Luciano Tasso, parceiro em outros três livros: Meus romances de cordel (Global), A saga de Beowulf (Aquariana), Os 12 trabalhos de Hércules (Cortez). 



O livro é uma viagem ao imaginário do interior do Brasil, com as superstições ligadas à caça e as crenças que regulam e limitam a ação dos caçadores:

Você aí, do outro lado,
Preste bastante atenção.
Meu nome é Chico Norberto
E venho lá do sertão,
Onde contam muitas lendas
E histórias de assombração.

Eu mesmo sou um exemplo,
Por isso fiz o favor
De rememorar um fato
De quando era caçador
Que só a pura lembrança
Inda me causa pavor.

Eu só tinha vinte anos,
Era um moço boa praça,
Trabalhava na lavoura,
Não gostava de arruaça,
Mas me divertia um pouco
Quando saía pra caça.

Meu pai, bem experiente,
Sempre me encarava sério,
Dizendo: — Filho, na mata
À noite anda algum mistério.
Você não sabe o que houve
Com o compadre Exupério?

— Não — respondi a meu pai,
Tentando desconversar.
Mas ele disse: — O compadre
Era amigo de caçar,
Nem mesmo os dias proibidos
Gostava de respeitar.

Numa sexta-feira santa,
Da espingarda se armou.
Que não fosse aquele dia,
Minha comadre rogou,
Mas o compadre Exupério
Nem atenção lhe prestou.

Quebra-ferro e Marinheiro,
Cachorros obedientes,
Assim que ele se armava,
Davam pulos, de contentes,
E já entravam na mata
Latindo e rangendo os dentes.

(...)

O lançamento será dia 24 de agosto (Dia de São Bartolomeu), na Livraria Cortez, a partir da 17 horas. Saiba mais detalhes, clicando AQUI.