A Literatura de Cordel, da forma
como a conhecemos, nasceu no Nordeste, no final do século XIX. Basicamente obra
de dois poetas nascidos no sertão paraibano, Leandro Gomes de Barros
(1865-1918) e Silvino Pirauá de Lima (1848-1913), o cordel tornou-se a leitura
favorita, se não a única, de um grande número de leitores.
Estabelecidos no Recife, Leandro
e Pirauá difundiram a poesia por todo o Nordeste, atingindo, ainda, outras
regiões, como a Amazônia.
Muitos foram os temas abordados
pelo romanceiro nordestino: dos contos de encantamento às histórias de luta,
passando pela epopeia do cangaço. Um tema não tão explorado, mas igualmente
emblemático, é o romance de cavalaria. Até nisso há o pioneirismo de Leandro
Gomes de Barros, que levou para o sertão a gesta de Carlos Magno, refundida em
duas narrativas clássicas: A batalha de
Oliveiros com Ferrabrás e A prisão de
Oliveiros. A fonte remota dos dois cordéis é uma canção de gesta francesa
do século XII, chamada de Fierabras.
Com o tempo, o enredo original dessa composição medieval foi alterado
sensivelmente, até transformar-se na História
do imperador Carlos Magno e dos doze pares de França (também conhecida como
Livro de Carlos Magno), tradução
portuguesa feita por Jerônimo Moreira de Carvalho, em 1728, de um velho romance
espanhol.
Romances de cavalaria, como o
célebre Amadis de Gaula e Palmeirim de Inglaterra, ainda não haviam
sido adaptados para o cordel brasileiro. O motivo? Foram escritos muito tempo
depois de Ferrabrás, personagem que acabou sendo abraçado pela cultura popular
e se tornou figura presente nas famosas cavalhadas ao lado de outras figuras
lendárias, como o antagonista Oliveiros e o grande paladino dos franceses, o
príncipe Roldão.
A novela Palmeirim de Inglaterra, de autoria do fidalgo português Francisco
de Morais (c.1500-1572), igualmente célebre, foi lida e amada pelo povo, a ponto
de Cervantes livrá-la do fogo que consumiu muitos outros romances, em cena
célebre de Dom Quixote.
Foi a obra clássica de Francisco
de Morais que José Santos e eu ousamos transpor para o cordel, com o auxílio
luxuoso das ilustrações de Jô Oliveira. Aqui figuram personagens importantes,
como Floriano do Deserto, Flérida, Dom Duardos, Miraguarda e o gigante Almourol
e o próprio Palmeirim, chamados da Idade Média lendária e revividos em forma de
cordel.
Sem dúvida, uma aventura.
Trechos do livro:
Os cavaleiros andantes
Contra o mal moviam guerra,
Por isso são conhecidos
Nos quatro cantos da Terra,
Como aquele a quem chamavam
De Palmeirim de Inglaterra.
Palmeirim era um guerreiro
Que nunca enjeitou contenda,
Mediu forças com gigantes
E seres de face horrenda,
Por isso acabou entrando
Para os domínios da lenda.
Com sua possante espada
E uma brilhante armadura,
Cheio de brio e coragem,
Companheiro da aventura,
Tinha no seu coração
Lugar também pra ternura.
Só que essa história precisa
Ser contada do começo,
Falando dos personagens,
Sem cometer tropeço.
Qualquer descuido que seja
Vira o cordel pelo avesso.
Seu pai era Dom Duardos,
Herdeiro do trono inglês,
Genro de outro Palmeirim,
Que também, por sua vez,
Gravou seu nome na história
Pelas proezas que fez.
Filho do bom rei Fradique,
Senhor da coroa inglesa,
Dom Duardos se casou
Com Flérida, uma princesa,
Que era rival de Afrodite
Quando se fala em beleza!
(...)
Aventuras como essas
Não veremos nunca mais,
Por qualquer ponto que seja
Das terras ocidentais.
Aplaudamos seu autor:
O Francisco de Morais.
Ao romance original
Este relato é fiel.
Marco Haurélio e José Santos,
Com louros de menestrel,
São agora Cavaleiros
Da Grã-Ordem do Cordel.
(...)
Dados da obra:
Cód FTD: 13406300
Disciplina: Literatura
Nível: Ensino Fundamental
A partir de: 5ª série / 6º ano
Recomendado: Público Juvenil
Temas abordados: Romance de
cavalaria / Cavaleiros andantes / Histórias de lutas / Histórias de amores
Temas transversais: Ética / Meio
ambiente / Pluralidade cultural
Gênero Literário: Cordel
ISBN: 9788532282781
Formato: 20,0 cm largura X 27,0
cm altura Páginas: 72
Para mais detalhes, vá ao sítio da FTD.
Marco Haurélio, José Santos e Jô Oliveira na Bienal do Livro de São Paulo |
Um comentário:
Que ótima ideia, adaptar ao cordel o romance de Francisco de Morais! Tens toda a razão: se Carlos Magno há muito se tornou personagem dos folhetos, por que não Palmeirim? Muitos parabéns e muito êxito para o livro! J. J.
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