Há um ano Ariano Suassuna nos deixava — fisicamente, frise-se. Para lembrar a data e reiterar a sua presença, republico artigo que veio a lume na revista Ponto, nº 7, de outubro de 2014, publicado pela SESI-SP Editora e ilustrado por outro mestre da cultura brasileira, Jô Oliveira.
Ariano Suassuna e as vozes do povo
A biografia do grande brasileiro Ariano
Suassuna, morto a 23 de julho de 2014, está suficientemente espalhada por
vários sítios (se eu escrevesse site,
ele ficaria bravo) da Internet. Sua obra está ao alcance de todos, em lojas
físicas e virtuais. Portanto, nesse espaço, eu me dedicarei mais ao seu legado.
Ariano é daqueles autores que não nascem dos convescotes, dos movimentos, dos
manifestos que emulam outros manifestos, dos conchavos enfim. Ele é forjado e
se forja da matéria viva. Apesar de retrabalhar os arquétipos, seu trabalho
talvez diga mais da realidade que a produção pretensamente realista que vemos
por aí. Tipos como o preguiçoso, o valentão, o mentiroso, o espertalhão, o
padre desonesto, o coronel caricato são — ou eram — encontrados sem muita
dificuldade no sertão de carne, pedra e osso.
Às vezes ele parecia deslocado no tempo,
e assumia essa condição que, sem demérito, pode ser chamada anacrônica, porém,
na verdade, sua obra revela uma impressionante intemporalidade, quando dialoga
com Plauto, Boccaccio, Shakespeare, Gil Vicente, Calderón de La Barca,
Cervantes, e mostra quão frágeis são as fronteiras estabelecidas da cultura. O
episódio do julgamento celeste, ápice do Auto
da Compadecida, sua mais celebrada criação, remete aos primórdios da
catequese no Brasil, quando os jesuítas recorreram, para facilitar a conversão
dos índios ao catolicismo, às encenações que, não raro, traziam os mesmos
personagens da peça de Suassuna. A origem da crença, porém, nos leva mais longe
no tempo e no espaço.
Os antigos egípcios acreditavam que,
depois da morte, a alma era enviada a um tribunal presidido por Osíris, tendo o
irmão e adversário deste, Set, como acusador e Ísis, como intercessora. Anúbis,
o deus cinocéfalo, pesava, numa balança, o coração do morto. No catolicismo,
essa atribuição caberá a são Miguel Arcanjo. Apesar do toque de mestre de
Ariano, as situações e personagens por ele evocados, todos arquetípicos,
navegam há milhares de anos nas águas do inconsciente coletivo.
O paraibano Ariano não se amofinou com a
tragédia que marcou definitivamente sua vida — o assassinato do pai, João
Suassuna, então governador do estado da Paraíba, no espocar da Revolução de 30.
Sua família seguiu, então, para Taperoá, no Cariri paraibano, onde ele
assistiria aos sete anos uma apresentação do teatro de mamulengos, que seria
determinante para a sua futura carreira de dramaturgo. Conviveu ainda com os
desafios de viola, na época em que a feiras do Nordeste, espaço de trocas reais
e simbólicas, ainda exalavam um forte cheiro de Idade Média, com seus
menestréis errantes, charlatães a prometer a cura de muitas moléstias e apresentações
de artistas populares. Ele aproveitou, então, seu exílio no sertão para juntar
os muitos retalhos da sabença caatingueira, ampliando depois com a contribuição
de todas as sabenças, e de uma espantosa erudição que ele, humilde, dizia não
possuir, e, disso tudo, fez a colcha com que nos envolveu. E já fixado no
Recife, com providencial ajuda de Hermilo Borba Filho, dez anos mais velho,
autor de teatro e estudioso das tradições populares, vestiu-se de sol e não
mais se despiu nos oitenta e sete anos passados entre nós.
A
literatura de cordel
Base de boa parte das peças e de sua
mais ousada incursão pela prosa, o Romance
da Pedra do Reino e o Sangue do Vai-e-Volta (1971), a literatura de cordel,
que Ariano chamava Romanceiro Popular Nordestino, é herdeira direta da gesta
medieval, mas suas raízes mais profundas estão na poesia épica de vários povos,
com seus heróis e jornadas lendárias. À diferença de Portugal, país que serviu
de fonte e ponte para a poesia popular que aportou no Brasil, a literatura de
cordel que floresceu principalmente em meados do século XIX, é toda em verso.
Na pátria de Camões, as produções podiam ser em prosa ou em verso, sendo, no
último caso, preponderantes as quadras setissílabas. Tomemos como exemplo a História de Roberto do Diabo, personagem
de uma antiga lenda normanda:
Na província da
Normandia
O duque Alberto
vivia,
Pelo seu nobre
caráter
O povo muito lhe
queria.
Precisava de
casar-se
Por causa da
sucessão
Com esse fim
reuniu-se
A nobre corte em Ruão.
No Brasil, a mesma história foi
publicada em sextilhas no início do século XX, em versão escrita ou divulgada
por Leandro Gomes de Barros (1865-1918), poeta popular paraibano de grande
engenho, e que exerceria sobre Ariano profícua influência. Roberto é o filho do
duque da Normandia que nasce sob o signo da maldição, renega a origem nobre e
passa a liderar um grupo de foras da lei, até o momento em que se redime e
busca, a todo o custo, purificar-se. Serviu, no imaginário popular, de modelo
para os cangaceiros do Nordeste, impelidos ao crime por fatores complexos que
vão da desigualdade social às perseguições e intrigas familiares. Mas falemos
de Leandro. São deste poeta alguns dos mais importantes títulos do nosso
cordel. De espírito crítico, anticlerical, por vezes libertário, legou-nos
várias páginas memoráveis. Um de seus livros mais célebres é a História de João da Cruz, que parece ter
origem num romance em versos anônimo, por sua vez inspirado em algum auto
religioso. É também um drama de queda e redenção, tingido com as cores do
catolicismo popular. Há, no final, o episódio do julgamento celeste, com Jesus
como juiz, o Diabo, promotor (ou acusador) e a Virgem Maria como advogada. E
por que cito este romance? Por ter ele inspirado a segunda peça composta por
Ariano, o Auto de João da Cruz
(1949), que seguiu-se a Uma mulher
vestida de sol, composta dois anos antes. Na parte final do romance, a alma
de João da Cruz, sentindo iminente a condenação, apela para a Virgem Maria, na
cena que será recorrente na dramaturgia de Ariano:
A
alma vendo o demônio
Querer
fazer-lhe penhora
E
temendo que chegasse
Aquela
maldita hora
Deu
um pulo e foi cair
Nos
pés de Nossa Senhora.
E
disse: oh Virgem Maria
Esposa
casta e fiel
Ide
também ajudar
O
arcanjo São Miguel
Para
tirar o furor
Daquele
dragão cruel.
Depois do embate verbal entre acusação e
defesa, é feita a pesagem da alma por São Miguel, que a absolve. Vencido, o
Diabo apela:
Saiu
o Diabo aos berros
Com
o maior desespero
Exclamando
em vozes altas:
Miguel
é alcoviteiro
Ah!
Maria piedosa!
Ah!
João da Cruz estradeiro!
Ariano, no artigo dedicado à presença do
Romanceiro Popular do Nordeste na Compadecida,
entrega a fonte do Auto de João da Cruz,
que, segundo ele, é “inteiramente
baseado em três folhetos nordestinos: História
de João da Cruz, História do Príncipe
do Barro Branco e a Princesa do Reino do Vai não Torna e O Príncipe João Sem Medo e a Princesa da
Ilha dos Diamantes”.[1]
E, para reforçar o valor do gênero que era a base de seu trabalho, ratificava
em artigo publicado em 1967 na revista Cultura:
"É
todo um cortejo de vasta humanidade que desfila livremente por aí, na força da
Literatura coletiva, enquanto a nossa Literatura de salão acadêmica,
acanhada,sufocada de preconceitos e de bom gosto, se estiola, sem fôlego, no
formalismo e no individualismo. Baste um pormenor para mostrar a diferença:
quantas obras não já deixaram de ser escritas por causa da preocupação
mesquinha, orgulhosa e estéril da criação individual? O Cantador nordestino não
se detém absolutamente diante dessas considerações: apropria-se tranquilamente
dos filmes, peças de teatro, notícias de jornal e mesmo dos folhetos dos
outros. Que importa o começo se, no final, a obra é sua? Ele,depois de tudo,
acrescentou duas ou três cenas, torceu o sentido de três ou quatro outras, de
modo que a obra resultante é nova. Não era assim que procediam Molière,
Shakespeare, Homero e Cervantes? (...) Os Cantadores procedem do mesmo jeito.
Há, mesmo, uma palavra que, entre eles, indica o fato, o verbo versar, que significa colocar em verso a
história em prosa do outro. Quando Shakespeare escreveu Romeu e Julieta não fez
mais do que versar as crônicas italianas de Luigi da Porto e Bandello".
Sem o cordel, a cantoria, o mamulengo, o
maracatu, não haveria as experiências inovadoras de Ariano e Hermilo Borba, e
nem afloraria o Movimento Armorial que, na música popular, teve no Quinteto
Armorial, e depois em Antônio Nóbrega, que integrava o grupo, a melhor
tradução.
Um
pícaro no céu
Do desfecho da História de João da Cruz, possivelmente, tenha vindo a inspiração
para criação mais famosa de Ariano, o já citado Auto da Compadecida. Em 1952, Ariano escreveu O Castigo da Soberba, que traz o mesmo tema de João da Cruz.
Tratava-se, segundo o autor, de um “Entremês
popular em um só ato”, baseado no folheto de mesmo nome, escrito
pelo cantador Silvino Pirauá de Lima (1848-1913).
Mas foi num folheto
de gracejo que ele encontrou o personagem-símbolo de sua dramaturgia. As
Proezas de João Grilo (ver trecho abaixo), história escrita em 1932
por João Ferreira de Lima, trazia como protagonista o célebre amarelinho
oriundo dos contos populares portugueses, que, no processo de aculturação,
ganhou características idênticas às de outro famoso espertalhão de origem
ibérica: Pedro Malazarte. Reaproveitado no Auto da Compadecida, protagonizará
o filme produzido em 2000 por Guel Arraes, sendo interpretado por Mateus
Nachtergaele e com Selton Melo na pele do farofeiro Chicó.
João Grilo foi um cristão
que nasceu antes do dia,
criou-se sem formosura
mas tinha sabedoria,
e morreu depois da hora
pelas artes que fazia.
(...)
Na noite que João nasceu,
houve um eclipse na lua,
e detonou um vulcão,
que ainda continua.
Naquela noite correu
um lobisomem na rua.
(...)
Entretanto, a Compadecida se
baseia em três folhetos distintos, dois deles escritos por Leandro Gomes de
Barros, autor recorrente na obra de Ariano. O primeiro é O cavalo que defecava
dinheiro, que mostra como um finório consegue lograr um duque invejoso
convencendo-o de que um cavalo é realmente capaz de obrar (sem trocadilho) o
prodígio do título. Obviamente quem assistiu à peça ou a uma de suas versões
para o cinema, sabe que o cavalo foi transmutado num gato, por motivos mais que
compreensíveis. O outro poema de Leandro reaproveitado por Suassuna é O
dinheiro (O testamento do cachorro), onde aparecem as figuras
do padre e do bispo. Para ilustrar, um trecho do folheto, que trata da
tentativa de um suborno feita por um inglês, instalado em Pernambuco, no início
do século XX, por ocasião da construção da estrada de ferro Great Western, a um
padre, para que este dê extrema-unção a um cachorro, além de um enterro
decente. Leandro caricaturiza o inglês até na dificuldade deste em lidar com
nossa língua:
— Mim que
enterrar cachorro!
Disse o Vigário: — Ó inglês,
Você pensa que isto aqui
É o país de vocês?
Disse o inglês: — Com cachorro
Gasto tudo desta vez...
Ele, antes de morrer,
Um testamento aprontou,
Só quatro contos de réis
Para o Vigário deixou...
Antes do inglês findar,
O Vigário suspirou.
— Coitado — disse o Vigário —
De que morreu esse pobre?
Que animal inteligente
E que sentimento nobre!
Antes de partir do mundo,
Fez-me presente do cobre...
Na Compadecida, o inglês é substituído pelo
padeiro, que ludibriado por João Grilo, insta com o padre para fazer o enterro.
No início reticente, sabedor do testamento do cachorro, o padre muda de opinião
muito rápido e, na sua fala, reproduz-se quase integralmente o trecho do
folheto:
PADEIRO: — Só para o vigário
deixou dez contos.
PADRE: — Que cachorro inteligente! Que sentimento nobre!
JOÃO GRILO: — E um cachorro desse ser comido pelos urubus! É a maior das
injustiças.
A autoria de Leandro
é inquestionável, embora a origem dos motivos que compõem a história seja mais
difícil de rastrear. O próprio Ariano reconhece essa dificuldade quando afirma:
“— a história do testamento do cachorro, que
aparece no Auto da Compadecida, é um conto popular de origem moura
e passado, com os árabes, do Norte da África para a Península Ibérica, de onde
emigrou para o Nordeste”.[2]
Além destes dois poemas de caráter
marcadamente cômico, o Auto propriamente dito — a última parte
— tem por base o folheto O Castigo da Soberba, citado anteriormente.
A história tem a marcante presença do imaginário medieval que impregna a obra
de Gil Vicente, outra evidente fonte de Suassuna. Maria (Nossa Senhora) é a
advogada. Jesus o Juiz, e o Diabo o acusador. É a Nossa Senhora — a “advogada
nossa” da oração Salve Rainha — que a alma recorre, em vista da
iminente condenação. Evocada em nome de seu bendito filho, ela responde à
súplica da alma. No final, após ouvir acusação e defesa, Jesus — no folheto
também chamado Manuel — decide pela salvação da alma. O Diabo (Cão), vencido,
chama os seus comandados. A estrofe abaixo reproduzida, com a última fala do
tinhoso, está bem próxima do desfecho do Auto da Compadecida:
Vamos todos nós embora
Que o causo não é o primeiro,
E o pior é que também
Não será o derradeiro...
Home que a mulher domina
Não pode ser justiceiro.
Os três folhetos, diga-se de passagem,
foram coligidos por Leonardo Mota no livro Violeiros do Norte.[3]
É nesta obra também que aparece o poema farsesco que João Grilo recita no céu,
abaixo reproduzido na íntegra:
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,
A braba dá quando qué:
A mansa dá sossegada,
A braba levanta o pé...
Já fui barco, fui navio
E hoje sou escale...
Já fui linha de meada,
Hoje sou de carreté...
Já fui menino, sou home,
Só me falta ser muié...
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré!
O autor, segundo Mota, é o cantador
baiano Canário Pardo, que foi assassinado por um rival em conquistas amorosas. Indiretamente,
este pesquisador cearense, ao reunir as três obras em seu precioso estudo,
apontou o caminho que Ariano Suassuna deveria seguir, mesmo apoiando-se em
outras tradições populares — especialmente o Bumba-meu-boi, onde os personagens
Mateus e Bastião cumprem um papel semelhante ao de João Grilo e Chicó na Compadecida.
Cordel
canta Ariano
Os poetas do povo, amigos de Ariano desde
sempre, sentiram a sua partida. Klévisson Viana, cearense de Quixeramobim,
autor de O pescador arrependido aos pés
da Compadecida, romance que evoca a peça de Ariano em suas origens
medievais, assim se manifestou:
Ariano
Suassuna
Viverá eternamente.
Seu corpo físico perece,
Mas sua obra contundente
Servirá sempre de norte
Para orientar a gente.
O mesmo Klévisson, em
parceria com o grande poeta baiano Bule-Bule, escreveu e publicou, um dia depois
de confirmada a morte do escritor, um folheto que dialoga com a obra do
dramaturgo. No enredo de A chegada de Ariano
Suassuna no Céu, Jesus precisa escrever uma peça e envia a Morte à Terra
para buscar Ariano, mas ela, atrapalhada, vai ao Rio de Janeiro e, por engano,
leva o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro.
A
morte veio ao País
Como
turista estrangeiro,
Achando
que o Brasil
Era
só Rio de Janeiro.
No
rastro de Suassuna,
Sobrou
pra Ubaldo Ribeiro.
Depois de muitas
confusões, a Morte prepara uma homenagem ao escritor, estendendo, à frente
dele, uma faixa:
A
morte colonizada,
Pensando
em lhe agradar,
Uma
faixa com uma frase
Ela
mandou preparar,
Dizendo:
“Welcome Ariano”,
Mas
ele não quis entrar.
Vendo
a tal faixa, Ariano
Ficou
muito revoltado.
Começou
a passar mal,
Pediu
pra ser internado
E
a morte foi lhe seguindo
Para
ver o resultado.
Eu
não sei se Ariano
Morreu
de raiva ou de medo.
Que
era contra estrangeirismos,
Isso
nunca foi segredo.
Certo
é que a morte o matou
Sem
lhe tocar com um dedo.
Pedro Monteiro,
piauiense, que vive em São Paulo, autor de João
Grilo um presepeiro no palácio e de Chicó,
o menino das cem mentiras, dedicou ao mestre essa setilha:
A
cultura popular
Tem hoje grande lacuna,
A morte sempre inclemente
É uma perversa gatuna,
Fila cristãos e ateus,
Desta vez levou pra Deus
Ariano Suassuna.
Paulo de Tarso,
cearense de Tauá, mais solene, noticia:
A
cultura brasileira
Muito entristecida está.
Faleceu nosso Ariano,
melhor que ele não há.
Por aqui os sentimentos
Do poeta de Tauá.
O autor deste artigo,
Marco Haurélio, dedicou-lhe esta trova:
Ariano
não morreu,
Anote no seu caderno.
Jamais morre quem nasceu
Com o dom de ser eterno.
De Calderón de La Barca
(1600-1681), poeta e dramaturgo espanhol de grande importância na obra de
Ariano, pincei esta décima da peça A vida
é sonho, que Ariano, sempre que podia, declamava, estabelecendo a ponte da
tradição “culta” ibérica com a poesia “popular” do Nordeste:
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que noutro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.
(Tradução:
Renata Pallotini)
E para encerrar com poesia, dediquei-lhe
mais uma trova:
Senhora
Compadecida,
De
incomensurável brilho,
Findo
o sonho que é a vida,
Recebei
o vosso filho.
A Morte, que Ariano chamava Caetana,
referência à onça que também é a Moça Caetana, personagem fantástica que
aparece com destaque na História d’O rei
degolado nas caatingas do sertão, saiu, aparentemente, vitoriosa do último
encontro. Basta, porém, uma olhada na repercussão da notícia que invadiu as
redações e as manifestações de pesar, carinho e gratidão para que pensemos ao
contrário. Viva Ariano!
Marco
Haurélio[4]
Referências
bibliográficas
CASCUDO, Luís da Câmara Cascudo. Dicionário
do Folclore Brasileiro. Rio de janeiro, INL- MEC, 1962.
HAURÉLIO, Marco. Breve
história da literatura de cordel. São Paulo: Claridade, 2010.
MOTA, Leonardo. Violeiros do
Norte. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.
NASCIMENTO. Catálogo do conto popular brasileiro. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, IBECC, UNESCO, 2005.
SUASSUNA, Ariano. A Compadecida e o Romanceiro Nordestino. In: Literatura
popular em verso: estudos. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp; Rio
de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.
_____________. Auto da Compadecida. Rio de Janeiro:
Agir, 1976.
_____________. Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do
Vai-e-Volta, Rio de Janeiro, José
Olympio, 5.ª edição, 2004
[1] A Compadecida e o Romanceiro Nordestino. In: Literatura
popular em verso: estudos. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp; Rio
de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.
[2] Idem,
ibidem. A origem árabe e a difusão via Península Ibérica, de que fala Ariano,
devem ser vistas com ressalvas. Segundo José Joaquim Dias Marques, da
Universidade do Algarve, Portugal, este
conto existe em muitos outros países, nomeadamente da Europa, e, por isso é
arriscado pressupor que ele chegou à Península Ibérica através dos árabes. Ele
está inclusive documentado já num fabliau francês do século XIII. E, embora
haja versões por toda a Europa, não parecer ter sido registrado em Portugal. No
Catálogo Internacional do Conto Popular, o Sistema ATU (sigla que homenageia os
formuladores do catálogo, Anti Aarne, Stith Thompson e Hans-Jörg Uther), a
história aparece sob o número 1842 (The
testament of the dog).
[3]
Ver “No reino da picardia”, capítulo do livro Breve história da Literatura de Cordel, em que se baseia esta
seção.
[4]
Baiano de Riacho de Santana, poeta (cordelista), ensaísta e pesquisador da
cultura popular brasileira. Autor de Presepadas
de Chicó e astúcias de João Grilo (Luzeiro), Meus romances de cordel (Global), Contos e fábulas do Brasil (Nova Alexandria) e A lenda do Batatão (SESI-SP Editora)
2 comentários:
Sensacional essa postagem. Mostra o profundo conhecimento de Marco Haurélio sobre a obra de Suassuna e seus canais de diálogo com a Literatura de Cordel, em especial com a obra do mestre Leandro Gomes de Barros. Para completar, as belíssimas ilustrações do nosso mestre e parceiro Jô Oliveira. Com a devida autorização do autor, que reproduzir esse artigo no blog MALA DE ROMANCES.
Arievaldo Vianna
Fique à vontade, poeta.
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