sexta-feira, 27 de maio de 2016

Livro novo na praça!


Já está disponível, em algumas casas do ramo, o livro Lucíola em Cordel, baseado na obra-prima de José de Alencar. A obra traz o selo Manole/Amarylis, que publicou, de minha autoria, Rei Lear em Cordel.


Ilustrado por Luís Matuto e apresentado por Severino Rodrigues (abaixo, na íntegra), a história de Maria da Glória, obrigada a prostituir-se para salvar a família, foi publicada originalmente em 1862, e desde então encanta gerações a perder de vista.


Amor (im)possível?

Ao chegar à Corte, o recém-formado advogado Paulo se apaixona por Lúcia. A priori, um simples amor à primeira vista. Mas o leitor se engana. Lúcia é cortesã, ou melhor, a prostituta mais admirada, mais desejada e mais luxuosa. E o conflito não acaba por aí. Afinal, estamos no século XIX, as aparências ditam o comportamento adequado aos integrantes da sociedade burguesa, ou aos mais endinheirados da época, e se envolver a sério com uma mulher como Lúcia nunca seria aceito.

Paulo, apesar de burguês, também não pode manter um relacionamento com a cortesã por certas limitações financeiras e, principalmente, morais. Ele não quer Lúcia somente como uma amante. Quer muito mais que isso. E ela, que tem apenas dezenove anos, embora tenha uma vida pautada nos ganhos da luxúria, também não é dona das suas próprias vontades... Apaixonar-se e querer um homem íntegro ao seu lado? Utopia demais...

Mas o que fazer quando a regra do jogo romântico são os sentimentos mais exacerbados? Esse amor se torna possível?

Lucíola foi publicado em 1862 pelo fabuloso escritor cearense José de Alencar. Ao lado de O Guarani, este é meu romance favorito. Li no colégio e, depois, na universidade. E o tempo só me fez gostar cada vez mais! Nesta história, há, meu caro leitor, uma atmosfera de mistério. Nos perguntamos a todo momento se Paulo e Lúcia terão coragem de enfrentar a sociedade, qual a punição que um tipo de amor assim pode acarretar... Antes, é preciso conhecer os motivos que levaram Lúcia àquela vida, para muitos, desregrada. Qual o seu passado? Ah, existe ainda uma densidade dramática, quase teatral, entre os diálogos desses personagens, que revelam o quanto podem ser complexos perante suas próprias dúvidas.

É, então, o embate psicológico entre o privado e o público que guia as ações e as escolhas dos personagens desta história agora adaptada incrivelmente para o cordel e que você encontra em mãos. Espero que este cordel de Marco Haurélio, autor de várias obras no gênero, seja o primeiro passo para se conhecer as obras de José de Alencar, um dos maiores autores brasileiros, e para se encantar e ler inúmeros cordéis, representantes da mais legítima linguagem poética regional — e universal.

Severino Rodrigues
Mestrando em Letras, professor de Língua Portuguesa
e autor dos livros juvenis Sequestro em Urbana
e Mistério em Verdejantes




Estrofes iniciais:

Quando o amor faz pousada 
No coração dos amantes, 
Provoca grandes mudanças, 
Causa dores torturantes, 
E quem ama tem certeza: 
“Nada será como antes". 

A história aqui narrada,
Que relata um caso sério,
Fala de um drama pungente,
Envolvido num mistério,
Que se passou no Brasil,
Sob a mão forte do Império.

Foi no século XIX,

Cinquenta e cinco era o ano,
Em que Paulo Silva, um jovem
Do torrão pernambucano,
Foi ao Rio de janeiro,
Sem ter medo nem engano.

Mas vamos dar voz a Paulo,

Pois é o protagonista,
E os fatos aqui narrados,
Sob seu ponto de vista,
Serão aceitos porque
Não são invenções de artista:

Leitores, meu nome é Paulo,

Pernambucano de Olinda,
Vim ao Rio de Janeiro,
Essa cidade tão linda,
Sem imaginar que aqui
Ficaria na berlinda.

Na capital federal

Quis construir minha história.
Com um amigo de infância,
O Sá, de boa memória,
Eu fui, todo prazenteiro,
Pra ver a festa da Glória.

Ali, naquele momento,

Vi ante mim desfilar
Brancos, negros e mulatos,
Gente de todo lugar,
Desde o banqueiro ao mendigo,
Banhados pelo luar.

A lua vinha assomando

Pelas montanhas fronteiras,
Quando notei que passava,
No meio das rezadeiras,
Uma moça tão bonita
Quanto as deusas estrangeiras.



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