Em Terra de sol, obra
clássica de Gustavo Barroso, há uma descrição impressionante do sertão,
território contraposto ao litoral: “Quem das brancas praias do Ceará demanda o
interior das terras, nota que todo o terreno sobe, muito sensivelmente, da
orilha do Atlântico para o sertão. (...) Quando o pau-branco se esgalhar entre
cerrados de rompe-gibão, troncos altos de catandubas elegantes, e ao olhar se
estenderem vastas caatingas de juremas raquíticas, ensombrando touceiras de
coroa de frade; quando cortarem o terreno largas lajes de granito e xisto
argilosos, quartzitados, se esbarrondarem nas ribanceiras, por entre lascas de
calcário endurecido, lenta e silenciosamente se transformando em mármore, — aí
começa o sertão”.
A origem da palavra é controversa, mas, Gustavo
Barroso logrou elucidá-la, consultando antigos dicionários portugueses.
Descobriu, por exemplo, que a palavra já era empregada em Portugal e, na África,
antes de 1500. É corruptela de muceltão,
palavra de que se originou a corruptela certão,
que indica uma região longe da costa (Frei Bernardo Maria de Carnecatim, Dicionário da língua bunda de Angola,
1804). Neste sentido, pluralizada, serviu a Euclides da Cunha na epopeia Os Sertões (1902).
A literatura se serviu
da caatinga e do cerrado, biomas que compõem o sertão brasileiro, em obras
seminais, como Vidas secas, de
Graciliano Ramos, Terras do sem fim,
de Jorge Amado, e Grande sertão: veredas,
de Guimarães Rosa. Este último narra a jornada mítica do jagunço Riobaldo,
narrador do romance. No cinema, Glauber Rocha, no exuberante Deus e o Diabo na
Terra do Sol, traduziu o sertão em imagens desconcertantes, dando, mais uma vez
razão a Guimarães Rosa, provando que, mais do que um lugar, o sertão é uma
construção do espírito: "Sertão é dentro da gente”.
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