O desaparecimento gradual de contadores de histórias tradicionais face ao progresso, entendido como a superação do “velho” pelo “novo”, é motivo de debates e tema de muitas pesquisas, e é um dado preocupante por significar o fim de uma correia de transmissão que remete não somente à nossa infância, mas à infância da própria humanidade. O trabalho de antropólogos, folcloristas, etnógrafos e estudiosos das tradições populares possibilitou reunir em livros muitas histórias, de assombrosa ancianidade, algumas tornadas clássicas graças às versões canônicas de Perrault, Irmãos Grimm e Andersen. Jakob e Wilhelm Grimm, filólogos alemães, escritores antes de tudo, mas também investigadores e intérpretes do que imaginavam ser a alma “popular”, deflagraram um movimento, ainda no século XIX, motivando muitos estudiosos de outros países a buscarem nas velhas lendas, baladas e contos a razão de ser de existir de povos e, claro, das nações que se consolidavam. Embora a motivação inicial para a recolha, catalogação e estudo das tradições populares residissem nessa busca pela grande epopeia coletiva, o canto guerreiro e lírico de um povo, estudos posteriores passaram a ressaltar se não a sua universalidade, ao menos a grande difusão de muitas das histórias que alguns países adotaram como seu legado cultural. Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Cinderela e tantos outros contos “infantis” estão espalhados por todos os quadrantes, e, sendo impossível apontar com segurança a sua origem, temos de nos contentar em conhecer as áreas em que foram registradas versões e variantes ou mesmo motivos e episódios de tais narrativas. Certo é que a ampla difusão de tais histórias mostra o quanto elas dizem de nossa própria busca espiritual, de nossos medos e esperanças, do que rejeitamos e tememos, mas, principalmente, do que fomos, somos e queremos ser.
Encontro 1 – 7/5: As faces da deusa: uma investigação sobre as personagens femininas do conto da Gata Borralheira.
Encontro 2 – 14/5: Chapeuzinho Vermelho: do mito solar à desfiguração.
Encontro 3 – 21/5: A Bela Adormecida: a jornada da alma em busca de si mesma.
Encontro 4 – 28/5: Os Heróis e por que (não) precisamos deles.
SUGESTÕES DE LEITURA
ALCOFORADO, Doralice. Belas e feras baianas. Salvador: SECULT, 2008.
AMARAL, Amadeu. Tradições populares. São Paulo: Hucitec, 1976. ARAUJO, Alceu Maynard. Cultura popular brasileira. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene Caetano. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Pensamento, 1989.
CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. 13. ed. São Paulo: Global, 2004.
COELHO, Adolfo. Contos populares portugueses. Portugal: Compendium, 1996.
COSTA, Edil Silva. Cinderela: nos entrelaces da tradição. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia, Fundação Cultural do Estado, 1998.
FRANZ, Marie-Louise von. A sombra e o mal nos contos de fadas. Tradução de Maria Cristina Penteado Kujawski. São Paulo: Paulinas, 1985.
GOMES, Lindolfo. Contos populares brasileiros. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1965.
GUIMARÃES, Ruth. Calidoscópio: a saga de Pedro Malazartes. São José dos Campos: JAC Editora, 2006.
GIMBUTAS, Marija. The Language of the Goddesses. San Francisco (EUA): Harper & Row, Publishers, 1995.
HAURÉLIO, Marco. Contos e fábulas do Brasil. Classificação e notas: Paulo Correia. São Paulo: Nova Alexandria, 2011.
_____________. Contos folclóricos brasileiros. Classificação e notas: Paulo Correia. São Paulo: Paulus, 2010.
_____________. O príncipe Teiú e outros contos brasileiros. São Paulo: Aquariana, 2012.
_____________, Wilson Marques. Contos e Lendas da Terra do Sol. São Paulo: Paulus, 2019.
_____________. Vozes da tradição. Colaboração: Lucélia Borges. Fortaleza: IMEPH, 2018.
KIRK, G. S. The nature of greek myths. EUA: Penguin Books, 1985.
MEREGE, Ana Lúcia. Os contos de fada – origem, história e permanência no mundo moderno. São Paulo: Claridade, 2010.
NASCIMENTO, Bráulio do. Estudos sobre o conto popular. São Paulo: Terceira Margem, 2009.
PIMENTEL, Altimar. Estórias de Luzia Teresa (Três volumes). Brasília: Thesaurus, 1995.
PROPP, Vladimir. As raízes históricas do conto maravilhoso. 2. ed. Tradução de Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ROMERO, Sílvio. Contos populares do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Edusp, 1985.
Quem é o professor
Marco Haurélio, escritor, professor e divulgador da literatura de cordel, tem mais de 40 títulos publicados, a maior parte dedicada a este gênero que conheceu na infância, passada na Ponta da Serra, sertão baiano, onde nasceu. Vários de seus livros foram selecionados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para o Catálogo da Feira do Livro Bolonha. Finalista do Prêmio Jabuti, suas obras receberam distinções como o selo Altamente Recomendável, da FNLIJ, e o selo Seleção Cátedra-UNESCO (PUC-Rio). Em sua bibliografia destacam-se as obras Contos folclóricos brasileiros, A lenda do Saci-Pererê, Meus romances de cordel, Lá detrás daquela serra, O encontro da cidade criança com o sertão menino, Tristão e Isolda em Cordel, A jornada heroica de Maria e Contos e fábulas do Brasil. Ministra cursos sobre cordel e contos tradicionais em espaços os mais diversos.
Quando: 7, 14, 21 e 28/05 (sempre às quintas-feiras)
Horário: das 19h30 às 21h
Horário: das 19h30 às 21h
Onde
Online
As informações de acesso serão disponibilizadas por e-mail.
As informações de acesso serão disponibilizadas por e-mail.
Público
Geral.
Turma
30 pessoas
Investimento
R$160,00
em até 4x sem juros ou
7% de desconto à vista pelo PagSeguro.
em até 4x sem juros ou
7% de desconto à vista pelo PagSeguro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário