Por: Braulio Tavares e Marco Haurélio
Xilogravura de Maercio Siqueira |
BT – Se o negócio é mandar brasa
digo que já
tá em casa
o meu verso
cria asa
e decola na
amplidão;
por entre
as nuvens desfilo
leve,
seguro e tranquilo
ponteando
um novo estilo
dos oito pés
a quadrão.
MH
– Também vi, meu
camarada,
depois da longa jornada,
que a arte
degenerada
regenera a
geração
e expulsa
toda torpeza,
os
conceitos de beleza,
exaltando a
natureza
nos oito pés
a quadrão.
BT – Arte é retrato da gente
de lado, de
trás, de frente,
reflete o
inconsciente,
revela a
contradição;
a arte diz
a que veio
quando
mostra o belo, o feio,
sem mentira
e sem receio
nos oito pés
a quadrão.
MH – A Madona de Bellini,
a Medusa de
Celinni,
o Jesus de
Pasolini
ou as
sutras do Alcorão.
Eu vejo
arte em toda parte,
em toda
parte, tem arte:
nos pés do
porta-estandarte
e nos pés
deste quadrão.
BT – Arte é igual a pessoa:
alta,
baixa, ruim ou boa
sua existência
povoa
a nossa
imaginação;
espelho pra
nossa vida
não ser de
todo perdida
no momento
da partida
nos oito pés
a quadrão.
MH - Arte é galgar infinitos,
ouvir o
papel dar gritos,
rir do
tombo de Carlitos
e se despir
da razão;
mergulhar
no inconsciente,
de lá
trazer a semente
que fustiga
a insana gente
nos oito pés
a quadrão.
BT – As louras de Buñuel
a Sistina
de Miguel
anjinhos de
Rafael
nudez de
revelação;
arte de
enfrentar o medo
arte de
quebrar segredo
e a arte de
dar o dedo
nos oito pés
a quadrão.
MH – A Vênus de Botticelli
dançando
com Gene Kelly,
Ulisses
vendo Querelle
para
aprender alemão;
as odes de
Anacreonte,
Duchamp,
com sua fonte –
tudo é
arte, tudo é ponte
pra os oito
pés do quadrão.
BT – Patrocinar a censura
agrava um
mal que não cura;
é próprio
de ditadura
esconder o
sol com a mão.
A arte
mostra o que somos,
nos genes,
nos cromossomos;
nunca é o
que supomos,
nos oito pés
a quadrão.
MH – Arte é terrena e divina,
é palco, é
praça, é esquina,
Pierrô e
Colombina,
a vida em
reinvenção;
É Bastião e
Mateus,
o Diabo e o
bom Deus,
vai muito
além dos museus
nos oito pés
a quadrão.
BT – Sonetos de Aretino
irreverências
de Quino,
ou de
Jessier Quirino
maliciando
o sertão;
os romances
de Hermilo
as piadas
de Seu Nilo
safadeza de
João Grilo
nos oito pés
a quadrão.
Da Peleja de Braulio Tavares com Marco Haurélio. Tupynanquim Editora, 2018.
Um comentário:
Muito bom! Parabéns!
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