quinta-feira, 13 de outubro de 2022

O ÚLTIMO DISCURSO

do filme O Grande Ditador, de Charles Chaplin, em cordel

 



 

Sinto muito, mas não quero

Ser do mundo imperador,

Não é esse o meu ofício,

Nem sou um conquistador:

Mas quero ajudar judeus,

Qualquer credo, raça ou cor.

            

Todos querem ajudar,

Cultivar felicidade:

Sem ódio, sem infortúnio,

Sem a marca da maldade;

E a terra, rica, provê

A nossa necessidade.

 

O caminho pode ser

De liberdade e beleza,

Mas a cobiça envenena

Nossa humana natureza

E o ódio que causa a morte

Ergue a sua fortaleza.

 

Na era da velocidade,

Sentimos a sua fúria:

A máquina que traz riqueza

Gera também a penúria,

E os nossos conhecimentos

Trazem descrença e injúria...

 

Pensamos em demasia

Sem amarmos de verdade.

Mais do que máquinas, todos

Precisam de humanidade,

E mais do que inteligência,

Precisamos de bondade.

 

A aviação e o rádio

Aproximaram-nos mais;

Todas as coisas apelam

Aos sentidos fraternais,

À união de todos nós

Contra as forças dos chacais.

 

Agora minha voz chega

A milhares pelo mundo,

Torturados, prisioneiros

Do sistema mais imundo:

Homens mulheres crianças

Em desespero profundo.

 

Aos que podem me ouvir, peço:

Jamais percam a esperança;

A desgraça que se abate

Ante o progresso que avança

É a amargura daqueles

Que têm medo da mudança.

 

Homens maus e ditadores,

Deles nada restará.

O poder que arrebataram,

Ao povo retornará,

Tudo passa e a liberdade

Nunca, jamais, morrerá.

 

Soldados, não vos curveis

A esses homens brutais

Desprezam-vos e escravizam,

Ditam atos e ideais,

Regram vidas e alimentos,

Com sentimentos fatais.

 

Que vos tratam como gado,

Como bucha de canhão!

Não sois máquinas, sois homens,

Com amor no coração!

Só têm ódio os que não amam

E os que humanos já não são.

  

Não luteis pra escravizar

E sim pela liberdade.

No Evangelho de São Lucas,

Lemos a grande verdade:

O Reino de Deus está

Presente na humanidade.

 

Está em todos, por isso,

O povo tem o poder:

O poder de criar máquinas

Para a vida florescer,

Criar a felicidade,

Banindo a dor e o sofrer.


E pela democracia,

Esse poder sempre avança,

Lutai por um mundo novo,

De bondade e de esperança,

Que dê futuro aos mais jovens

E à velhice segurança.

 

Mas, prometendo tais coisas,

Mentirosos desalmados,

Têm alcançado o poder,

Com discursos inflamados,

Ditadores que mantém

Os justos escravizados.

            

Lutemos agora para

Que venha a libertação,

Que não haja mais fronteiras,

Por um mundo de razão,

E que o ódio e a prepotência

Sejam calcados no chão.

 

Hannah, Hannah, tu me ouves?

Ergue os olhos, vê a luz;

O sol vem rompendo as nuvens,

A esperança ele conduz,

Um mundo novo, melhor,

A ele faremos jus.

 

A luz afugenta as trevas,

O ódio não tem mais lugar,

A nossa alma ganhou asas

E já começa a voar

Vencendo o ódio e a cobiça

E, enfim, o sol da justiça

Para todos vai brilhar.


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