sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Nova Alexandria celebra e é celebrada pelo cordel


No último sábado, 2 de agosto, a editora Nova Alexandria celebrou o Dia do Cordelista e, de quebra,lançou dois novos títulos na premiada coleção Clássicos em Cordel. Um deles foi A metamorfose, de Franz Kafka, escrito pelo mestre de cerimônia da noite, João Gomes de Sá. Outro, A volta ao mundo em oitenta dias, marca a estreia de Pedro Monteiro na literatura infantojuvenil, relendo a clássica aventura de Júlio Verne. De minha autoria, A roupa nova do rei (ou O encontro de João Grilo com Pedro Malazarte), ilustrado por Klérvisson Viana, é mais voltado para o público infantil.

Ao palco montado no terreiro (ou gramado) da editora compareceram grandes artistas, a exemplo da exuberante Socorro Lira, e dos talentosos Aldy Carvalho, Ibys Maceioh, Luiz Carlos Bahia (e seu filho Luian), Luiz Wilson e Inimar dos Reis. Fecharam, com chave de ouro, a festa mestre Valdeck de Garanhuns e o repentista Sebastião Marinho, que improvisou o “Coqueiro da Bahia”, modalidade com que os cantadores se despedem do público.

A plateia eclética reuniu os autores da Clássicos em Cordel, Moreira de Acopiara, Cícero Pedro de Assis e Varneci Nascimento, além de João Paulo Resplandes. Audálio Dantas, idealizador e curador do histórico evento Cem Anos de Cordel, realizado em 2001, também marcou presença, em companhia de sua filha Mariana. Por lá passaram também os escritores Myriam Chinali, Juliana Gobbe, Mustafa Yazbek, André, J. Gomez, Marciano Vasques, além de Jeosafá Fernandez e Celso Alencar e do ilustrador Julio Caramez. Por lá passou também a veterana cordelista Djanira Feitosa, que veio de Acopiara, Ceará, para participar de atividades ligadas ao cordel em São Paulo. Amigos como Rúbia Tobias, Patrícia Magalhães, mauro Viana, Luciana Pardim, Carol Tenório, Laurinda Morais, Andrea Régis, Wanderson Nicoló, Madalena Bezerra, Gilberto Nascimento, Sann Mendes, Wagner Miranda, Rodrigo Fidalgo, entre tantos outros, ajudaram ainda mais a colorir o já colorido mundo do cordel àquele dia.

Um evento que celebrou a poesia, a música, a arte enfim, numa tarde-noite para não se esquecer.

Parabéns à Nova Alexandria na pessoa de sua diretora Rosa Zuccherato, por abrir mais uma vez as portas à nossa literatura de cordel. 

João Gomes e Claudevan Melo
Valdeck e seu boneco benedito: garantia de boas risadas
Inimar dos Reis e Ibys: dupla afinada
João Gomes de Sá, pedro |Monteiro,
Socorro Lira e Marco Haurélio
Élia Azevedo, Pedro, Conceição e Jandira
Pedro e Varneci
Plateia ecletica.
Pedro e Luiz Wilson
Com o grande brasileiro Audálio Dantas
Mariana Dantas, Sebastião Marinho, João Gomes de Sá,
Moreira de Acopiara, Ibys Maceioh, Valdeck, Audálio, Inimar,
Luiz Carlos Bahia. Sentados: Claudevan Melo e Marco Haurélio
Celso Alencar e Pedro Monteiro

O repente certeiro de Sebastião Marinho
Socorro Lira e Lucélia
Encontro de poetas
Valdeck declama acompanhado por Luian
Juliana Gobbe aguarda autógrafo de Pedro Monteiro
Conversando com Manassés, Djanira Feitosa e Mauro Viana
Com Marciano Vasques, Moreira de Acopiara e Cícero Pedro de Assis




Socorro Lira abrirá o Cordel na Cortez

Amanhã, na Livraria Cortez, a partir das 18h, o Cordel na Cortez será aberto pela grande cantora e compositora Socorro Lira. "Corcunda", cuja letra está abaixo reproduzida, toda composta em martelo agalopado, é um triunfo de poesia e engenho.



Galho velho encurvado da madeira
Mais robusta que esse meu chão criou,
Foi a força dos anos que o vergou
E o curvou como estrada de ladeira.
Foi a enxada, a tua companheira
De uma vida inteira e mal vivida,
Sob o sol inclemente e desvalida
De uma sombra, de água e de conforto...
Eu não sei como ainda não estás morto,
Dando a tua sina por cumprida.

Galho vesgo...Meus dias também o são!
E sou eu, igual tu, pobre rebento
Desse tronco, de velho, já cinzento
Pelo quente que queima sem perdão.
Tuas curvas nas costas são, senão,
Testemunho fiel desse destrato,
Do destino cruel, do tempo ingrato.
Te roubaram o vigor e a saúde
E a pretexto da caridade ilude
Tua fé de roceiro, homem pacato.

Ao mirar cada sulco nesse rosto
Já se vê desenhar numa só cor
Cada golpe que o tempo, sem favor,
Aplicou-lhe por dever ou por gosto.
Cada ano sobre esses ombros posto
Vai pesando e seu corpo vai pendendo
Ao cansaço geral vai se rendendo.
O vigor que lhe dava a mocidade 
Esvaiu-se sob o peso da idade,
Galho velho encurvado vai morrendo.

Quem o olha agora, assim, despido
Da folhagem e da viçosa rama
Sente que, lá por dentro, uma coisa inflama
De ver o teu suor tão consumido,
Sob o jugo da canga escorrido
A formar um riacho; e no seu leito
Um profundo buraco que, no peito,
Chega até suas águas despejar
A fazer do teu ser, um grande mar
De histórias e lutas todo feito.

E com sua licença, vou entrando
Ou quem sabe, tu entras em minh'alma
Inquieta, sem ter do mundo a calma,
De quem palma não pede suplicando.
Glória alguma está ela almejando,
Mas de ti solicita permissão
Para falar ao povo, à multidão
Que exposta, ao sol, está calada
E faz de conta que não tá vendo nada
E presume-se livre, na prisão. 

Passarinho cantou na palmeira
Passarinho canta na palma