sábado, 21 de dezembro de 2024

Almanaque Tupynanquim revive tradição secular e canoniza Ariano Suassuna

 

Os almanaques astrológicos, editados por autores de cordel renomados, desde as primeiras décadas do século XX, sinalizavam para uma cosmovisão que, por muito tempo, impregnou a poesia popular do Nordeste. A presença do fatalismo árabe, a crença em forças transcendentes que regiam nossos destinos, a necessidade de um maior conhecimento divinatório para evitar surpresas desagradáveis e prejuízos decorrentes da longa estiagem explicam em parte a popularidade dos almanaques nordestinos que eram comercializados nas barracas e malas dos folheteiros e nas rodas em que o doutor-raiz executava sua hipnótica performance.



Fizeram muito sucesso os almanaques publicados por João Ferreira de Lima (Almanaque de Pernambuco), Manoel Caboclo e Silva (O Juízo do Ano) e Vicente Vitorino de Melo (Almanaque do Nordeste). O último poeta-astrólogo do Nordeste foi José Costa Leite, “amador das ciências ocultas”, falecido recentemente, e que, até onde foi possível, publicou o seu Calendário Nordestino, o último membro de uma nobre e, agora, extinta estirpe. A base firme para todos os poetas era o Lunário Perpétuo, almanaque português, cuja primeira edição, de 1703, foi impressa na casa de Miguel Menescal. Composto por Jerônimo Cortez, valenciano de nascimento, este almanaque de cujo prestígio nos dá testemunho Luís da Câmara Cascudo, alcançou o Nordeste exercendo duradoura influência sobre os nossos vates:

Foi durante dois séculos o livro mais lido nos sertões do Nordeste, informador de ciências complicadas de astrologia, dando informações sobre horóscopos, rudimentos de física, remédios estupefacientes e velhíssimos. Não existia autoridade maior para os olhos dos fazendeiros e os prognósticos meteorológicos, mesmo sem maiores exames pela diferença dos hemisférios, eram acatados como sentença. Foi um dos livros mestres para os cantadores populares, na parte que eles denominavam “ciência” ou “cantar teoria”, gramática, história, doutrina cristã, países da Europa, capitais, mitologia. Decoravam letra por letra. É o volume responsável por muita frase curiosa, dita pelo sertanejo, e que provém de clássicos dos séculos XVI ou XVIII.

Mas onde surgiram os almanaques tão amados pelo povo nordestino, especialmente os leitores do cordel? Rosilene Melo, em artigo sobre o tema, responde:

Os primeiros almanaques apareceram na Europa durante a Idade Média, ainda manuscritos, e tornaram-se objeto de interesse de médicos e estudantes. A invenção da imprensa, no século XVI, possibilitou a publicação, tradução e circulação sistemática desses livros. Na Inglaterra, o primeiro almanaque data de 1545. Na França, o astrólogo e profeta Nostradamus publicava as centúrias em almanaques, graças aos quais suas profecias tornaram-se conhecidas.

 

Assaad Zaidan, no livro Letras e História (mil palavras árabes na língua portuguesa), identifica almanaque (ár. hispânico ALMANAH / ALMANHKH) às palavras clima, calendário e, por fim, livro de indicações úteis. Talvez a última acepção seja a que mais se aproxima dos modernos almanaques, como o Almanaque Tupynanquim, idealizado e organizado por Klévisson Viana, poeta, cartunista e editor de nomeada, como se costumava dizer. Klévisson não é astrólogo, como seus predecessores, e seu almanaque é um compilado de gêneros literários, com destaque para o cordel, incluindo, ainda, charges (do próprio editor), poemas, cordéis e, eventualmente, artigos curtos.


A nova edição, por sinal, é das mais ricas, trazendo na capa uma xilogravura do grande artista gráfico Maercio Siqueira, que retrata o saudoso mestre Ariano Suassuna (1927-2024) figurado como um santo católico. Santo Ariano é padroeiro da cultura, conforme sentenciaram Klévisson e seu compadre, Bule-Bule, no clássico A Chegada de Ariano Suassuna no Céu, composto por ocasião da morte do grande escritor paraibano.

A edição 2024-2025 traz contribuições de Bruno Paulino, Valdeck de Garanhuns, Rosinha Miguel, Chico Pedrosa, Ana Miranda, Arievaldo Vianna, Carolina X, e Alemberg Quindins, entre outros, incluindo o titular deste blogue. Traz ainda xilogravuras dos imortais Dila e J. Borges, orgulhos de Pernambuco, do Brasil, do Universo.

Para adquirir, entre em contato com Klévisson pelo e-mail aestrofe@gmail.com ou faça um pix (QR Code abaixo). O Almanaque custa apenas 15 reais


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