Crucificação de São Pedro, de Caravaggio
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São Pedro, companheiro de primeira hora de Jesus Cristo, completa a tríade de santos juninos. A Bíblia o apresenta como um pescador que abandona a casa e a família para seguir o Messias. Nos Evangelhos, sua presença é destacada, seja pela aparente rudeza, seja pela honestidade. Preso o Mestre, decepou, com uma espada, a orelha do servo do sumo-sacerdote. Depois, por três vezes seguidas, negou que conhecia o Salvador. Depois da ascensão de Cristo, com a adesão de Paulo, rivalizou com este apóstolo, mantendo uma postura mais conservadora nas questões doutrinárias. Teria morrido em Roma, no tempo de Nero, martirizado durante uma das muitas perseguições aos cristãos movidas pelo sádico imperador. Ao saber que martírio o esperava, pediu que o crucificassem de cabeça para baixo para não imitar o suplício do Salvador. A tradição o aponta como o primeiro Papa.
Na cultura popular, é o terceiro santo junino. É festejado a 29 de junho, provável data de sua morte. Aparece nos contos populares como peregrino, sempre a seguir Jesus e sempre a contestar o seu Senhor. É caracterizado, via de regra, como teimoso, birrento, glutão e azarado. Na Europa, São Pedro é bem mais ladino. Tanto que Câmara Cascudo argutamente vê no pícaro Pedro Malasartes um avatar do santo:
"O nome de Pedro se associa ao apostolo São Pedro, com anedotário de habilidade imperturbável, nem sempre própria do seu estado e título. Na Itália, França, Espanha, Portugal, São Pedro aparece como simplório, bonachão, mas cheio de manhas e cálculos, vencendo infalivelmente". (Dicionário do Folclore Brasileiro, p. 445-6).
A tradição popular atribui-lhe, ainda, a função de porteiro do céu. Nesta condição aparece em algumas obras clássicas da literatura de cordel, como A Chegada de Lampião no Céu, de Rodolfo Coelho Cavalcante, O Grande Debate de Lampião com São Pedro, de José Pacheco e João Soldado, de Antônio Teodoro dos Santos.
Aparece, com destaque, em Briga de São Pedro com Jesus por Causa do Inverno, de Manoel D’Almeida Filho. O conto em que se baseou o poeta, de caráter etiológico, aponta como o santo conquistou a responsabilidade de enviar as chuvas, tão necessárias para as atividades agrícolas e pastoris. Conheço uma história em que São Pedro reivindica junto a Jesus a função de guardião do tempo. Foi narrada por Isaulite Fernandes Farias (Tia Lili), em Igaporã, na Bahia. Embora não classificada segundo o Sistema ATU, pertence ao ciclo das narrativas pias populares (cf. O. E. Xidieh).
São Pedro tomando conta do tempo
“Jesus e São Pedro iam caminhando, caminhando e, vez por outra, ouviam os lavradores reclamando da vida. Um lamentava não ter colhido nada porque choveu muito. Outro, mais adiante, reclamava da falta de chuva. São Pedro, como de costume, começou a questionar Jesus:
— Senhor, está tudo errado! Por que num lugar chove muito e noutro não chove quase nada? Se eu tomasse conta do tempo, ninguém nunca mais ia reclamar de nada.
Jesus o advertiu:
— Fica quieto, Pedro. Pra tudo há uma razão.
— Que nada, senhor! Deixa eu tomar conta do inverno, que ponho tudo em ordem.
— Vou deixar, Pedro, só pra você aprender a não brincar com as coisas da natureza.
E São Pedro saiu pelas roças consultando o povo. Uns pediam chuva; ele mandava. Outros pediam sol; ele mandava. Depois os que pediram sol, queriam chuva e os que pediram chuva, queriam sol. São Pedro atendia a todo mundo.
Passou o tempo e as roças começaram a produzir. Produziam tudo. Mas quando os roceiros foram colher, ficaram tristes: o milho, uma beleza na boneca, quando descascado, só tinha sabugo. O feijão só tinha vagem. O povo então se lembrou do velho que passou por lá indagando dos problemas da lavoura. E todo mundo se revoltou com São Pedro, que ficou apavorado e correu até onde estava Jesus, perguntando:
— Senhor, o que foi que aconteceu, se fiz tudo certo? Onde o sol era forte, fiz chover mais; onde a chuva era forte, fiz solar.
Jesus, com toda calma, perguntou:
— E o vento, Pedro? Você fez ventar nas plantações?
— Isso eu não fiz, pois não vi utilidade nenhuma.
— Está vendo, Pedro, como você não sabe de nada?! Mandou chuva e sol, mas esqueceu do vento. E é o vento que faz granar.”
E viva São Pedro, padroeiro dos pescadores!
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