Navegando com o Cordel
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Caravana do Cordel Homenageia Leandro Gomes de Barros
Imagem: xilo de Arievaldo Viana
Dia 7, na Rua Augusta, 1239 – Espaço Cineclubista, às 19:00 h, a Caravana do Cordel, que completa um ano este mês, homenageará o poeta maior da Literatura de Cordel, Leandro Gomes de Barros.
19 de novembro, Dia Nacional do Cordelista (data de nascimento de Leandro) haverá novo encontro, desta vez com a participação do Doutor em Letras, Aderaldo Luciano.
Abaixo, um dos artigos que escrevi enfocando o nosso grande farol:
Guerra Junqueiro e Cancão de Fogo
Por: Marco Haurélio
A literatura de cordel no Brasil conheceu cumes e abismos, para, passado mais de um século de seu surgimento, firmar-se como uma das mais importantes manifestações culturais de nossa terra. Por conta dos registros escassos e das pesquisas incipientes, é impossível se apontar o marco inicial, a obra pioneira, embora não falte quem indique a História de Zezinho e Mariquinha, do paraibano Silvino Pirauá de Lima (1848-1913), como um dos primeiros folhetos impressos no Brasil. Mas a difusão da literatura de cordel deve muito a Leandro Gomes de Barros (1865-1918), paraibano de Pombal, que, ao migrar para o Recife, transformou a capital pernambucana no maior centro difusor da literatura popular em verso do Nordeste.
Leandro foi, além de grande empreendedor, um estupendo poeta. 91 anos após sua morte, ainda é considerado o maior poeta popular brasileiro de todos os tempos. Ninguém legou tantos clássicos à posteridade. Do épico ao satírico, do lírico ao dramático, nada escapava à sua pena arguta, à sua verve incomparável. Sua impagável criação, o presepeiro Cancão de Fogo, é uma espécie de Lazzarillo de Tormes sertanejo. Livre pensador, crítico impiedoso das instituições e dos vícios de seu tempo, Leandro fez de Cancão um porta-voz dos menos favorecidos, que recorrem à astúcia para sobrepujar os opressores. E que, mesmo depois de morto, conseguiu enganar o juiz, o padre e o escrivão, personificações dos vícios da plutocracia.
Assim, a viúva do quenguista explica aos dois primeiros o porquê de o moribundo havê-los convocado para que o assistissem em seus derradeiros momentos:
Ele chamou os senhores
Quando estava aqui prostrado
Porque queria imitar
O Cristo crucificado:
Queria morrer também
Com um ladrão de cada lado.
Este episódio também aparece numa anedota referente ao poeta português Guerra Junqueiro (1850-1923), famoso por ter composto vários libelos declaradamente anticlericais, como o poema O melro que integra o livro A velhice do Padre Eterno, publicado em 1885. Moribundo, o poeta teria sido visitado por um padre e um juiz. Há variantes. Obviamente, trata-se de um motivo mais antigo, que ganhou novas roupagens no anedotário português e na obra impagável de Leandro Gomes de Barros. Mudam-se os personagens, conservam-se as funções e comprova-se a universalidade da poesia popular.
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Um comentário:
muito bom
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