domingo, 21 de abril de 2013

Impressão do cordel na cultura brasileira


MARCO HAUReLIO

Por Fernanda Faustino no site da Global Editora
Autor de Meus Romances de Cordel e selecionador da Antologia do Cordel Brasileiro, Marco Haurélio é um dos atuais expoentes da literatura de cordel no Brasil. Poeta, cordelista, professor, editor e pesquisador do folclore brasileiro, Marco teve desde muito cedo contato com a literatura de cordel e escreveu sua primeira história aos seis anos de idade, quando conheceu, graças ao convívio com sua avó paterna, vários contos populares.
Uma curiosidade a respeito do cordel é a origem do nome que veio de Portugal quando poemas populares eram pendurados para venda em cordas ou cordéis. O Nordeste do Brasil herdou esse nome. Como característica, eles são escritos em forma de rima e alguns são ilustrados.
Outro atributo importante a se destacar é que os autores de cordel recitam os versos de forma melodiosa e cadenciada, e, algumas vezes, acompanhados por instrumentos musicais, fazendo leituras ou declamações para conquistar os possíveis compradores. A pluralidade de temas e de personagens construídos por seus escritores é um dos principais traços que marcam esse estilo de escrita.
Haurélio conta que a inspiração para começar a escrever sua primeira obra O herói da montanha negra, surgiu após ler a história em quadrinhos ‘A espada selvagem de Conan’. “Além de histórias da mitologia grega, juntava todas as referências que achava como se fossem um quebra-cabeça. Também escrevi cordéis a partir de histórias que ouvia o povo contar.” O autor lembra que cada história tem um aspecto diferente.
Ele relata, como exemplo, a história de Belisfronte, ‘O filho do pescador’, por que a avó contava. Outro personagem de quem Haurélio recebeu bastante influência foi o Major Ramiro, que era bisavô dele, além de histórias baseadas no folclore brasileiro tanto de cordel como dos contos tradicionais.
Na antologia organizada para a Global Editora, a Antologia do Cordel Brasileiro, Haurélio lembra que o objetivo foi cobrir todas as gerações do cordel no Brasil. “Os poetas contemporâneos, em especial, quase sempre são deixados pelos estudiosos que se embaraçam na busca pelas origens do cordel ou se perdem no labirinto de obviedades dos que confundem esse gênero com a poesia matuta ou com o canto improvisado dos repentistas. A publicação desta antologia salda em parte a dívida com estes artesãos do verso, e aponta novas possibilidades no campo da pesquisa”, destaca. Afinal, de acordo com Haurélio, tão ou mais importante que saber de onde veio o cordel é saber para onde ele vai.
obras marcoEle ressalta que um dos aspectos que definem o cordel é que ele sempre vai seguir uma métrica e os cordéis mais atuais abordam temáticas universais. “O fato de os cordéis abrangerem temática universal difunde mais a cultura. Essa cultura não é mais tão pontual como costumava ser e a consequência disso é a propagação”.
O autor explica que os cordéis de sua autoria são ambientados no sertão. “Procuro trazer essa marca impressa do sertão para o mundo e opto por esse estilo porque é como se o sertão conservasse e a grande metrópole diluísse”, analisa. “Uma vez ouvi uma crítica de um professor do Ceará que comprou meu livro. Ele disse que uma das características presentes na minha obra é que ela tem o sabor dos velhos cordéis sem perder a conexão com o público e tudo isso faz parte de uma impressão de identidade”.
Haurélio lembra que o contato do público leitor com o cordel é o proveito que qualquer pessoa tem ao entrar em contato com uma manifestação cultural. “Isso ajuda a deslanchar o conhecimento com a cultura e conhecer o Brasil. Quem quiser conhecer a fundo as manifestações culturais brasileiras tem de mergulhar e pesquisar sobre o cordel”, relata o autor. “Por exemplo, o cineasta Glauber Rocha usou elementos do cordel para fazer filmes. No teatro, Ariano Suassuna produziu O auto da compadecida e tudo isso faz parte de uma cultura”.
Segundo o autor, é importante lembrar que o cordel brasileiro é uma hibridização. Tem elementos da métrica portuguesa, entretanto o cordel desenvolvido aqui no Brasil é diferente do cordel de Portugal. “Tem, sim, certa influência portuguesa, mas essa diferença se dá no período de formação. Depois, cada estilo segue um caminho”, relata.
E finaliza: “É preciso entender o cordel não como uma peça pitoresca, mas como uma manifestação cultural. Quem tem contato com bons autores vai saber diferenciar o que é de qualidade e o que não é, sem que haja necessidade de apontar”.

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