Graças a Juliana Gobbe, poeta, ativista e agitadora cultural, o centenário de Caymmi não passou em branco no meio cordelístico. Cinco autores de cordel foram convidados para participar de um projeto que, entre outras coisas, incluí a criação de um livro digital sobre o cantor e compositor baiano, nascido em 1914. O livro, lançado em um evento em homenagem ao músico, ocorrido em Atibaia (SP), no dia 12 de dezembro, foi apresentado pelo celebrado escritor e jornalista Audálio Dantas, idealizador da memorável exposição 100 Anos de Cordel, de 2001.
Abaixo, alguns trechos do livro que contou com projeto gráfico de Daniel Caribé. A versão completa pode ser acessada AQUI.
Acontece que
eu (também) sou baiano
Autor: Marco Haurélio
Eu, que
nasci na Bahia,
Não sei de
onde você é,
Mas o que
sei é que sou
Devoto de
São José,
E no mês de
março sempre
Mostro ao
mundo minha fé.
Mas a minha
devoção
Em mais de
uma crença está,
Pois, a dois
de fevereiro,
Preparo meu
samburá
E me mostro
agradecido
À rainha
Iemanjá.
E quando a
minha jangada
Ia bem longe
do cais,
Deixava meu
bem-querer,
Entre
lamentos e ais,
Pois quem
vai para o alto mar
Pode até não
voltar mais.
O fato é que
eu retornava,
Pois era
essa minha sina,
Mas muitos
por lá ficaram,
Sem ver mais
Amaralina,
E terminaram
no leito
Verde-azul
de Janaína.
Já fui à
Maracangalha,
Com Anália e
até sem ela,
Trajando
uniforme branco
Com uma flor
na lapela,
Porém sempre
retornava
Aos braços
da minha bela.
(...)
Assim nasceu João Valentão
Autor:
João Gomes de Sá
Diziam
as boas línguas
Que
ele era homem um decente,
Trabalhador
responsável,
Até
muito paciente.
Conhecido
na Ribeira
Por
jogar bem capoeira
Junto
com a sua gente.
Seu
trabalho era nas docas,
Carregando
caminhão,
Com
fardos de mercadorias:
—
Café, cacau e feijão.
No
dia a dia, na lida,
Andava
feliz da vida
Com
sua profissão.
Desde
cedo, inda menino,
Aprendera
a dedilhar
Um
violão que ganhou
Do
seu avô Ribamar.
E
nos finais de semana
Entornava
sua “cana”
E
desabava a cantar.
E
daí foi só um pulo,
Tornou-se
compositor;
Compôs
verso e fez canção —
Era
um boêmio-cantor.
Foi
nos botecos do porto
Que
descobriu seu conforto,
O
seu verdadeiro amor.
(...)
Dorival
Caymmi, eterno ‘Canoeiro’
Autor: Moreira de Acopiara
No meu tempo
de menino
O meu prazer
era tanto!...
Mamãe me
contava histórias
De pescaria
e de espanto,
Mas na hora
de dormir
Sempre tinha
um acalanto.
Eram muitas
as canções
Que ela
sabia cantar:
‘Marina’,
‘Maracangalha’,
‘Meu eu’,
‘Boi da cara preta’
E outras
canções de ninar.
‘Saudade de
Itapoã’
Ela cantava
também,
Assim como
‘Anjo da noite’,
‘O que é que
a baiana tem?’,
‘O vento’,
‘Só louco’... ‘O mar’
Ela interpretava
bem.
E ainda
cantarolava
‘Suíte dos
pescadores’.
Cantando
assim, minha mãe
Aplacava
minhas dores.
Com ‘Samba
da minha terra’
Me mostrava
novas cores.
Tudo isso
ela cantava
Do modo mais
natural.
Gostava de
outras canções,
Mas nutria
especial
Paixão pelas
melodias
Do baiano
Dorival.
(...)
Vatapá
na MPB
Autor: Pedro Monteiro
Sobre Dorival Caymmi
Em versos quero narrar
A sua chegada ao mundo
Feito canção de ninar.
Como uma dádiva de amor,
A bela São Salvador
Viu esse filho chegar.
A Divina Providência,
Nessa expressão de alegria,
Harmonizando a cantata,
Composta com maestria,
Consultou o calendário
E o pôs num lindo cenário
Na capital da Bahia.
A música na sua vida,
Adensada ano a ano,
Das cordas de um bandolim,
Aos teclados de um piano,
Do violão, baluarte,
Abraçado pela arte
No seio cotidiano.
Ouvindo muitas cantigas
E contos que vêm do povo,
Num desenrolar de curvas,
Em busca de um tempo novo,
Ele deixou Salvador,
Era um jovem sonhador
Quebrando a casca do ovo!
Pegou o Ita no Norte
E foi pra o Rio morar.
Buscando espaço no rádio,
Aprimorou o seu cantar;
Vencendo muitas barreiras,
Com suas canções praieiras,
Fazendo louvor ao mar!
(...)
365 igrejas
Autor: Arievaldo Vianna
Todo baiano é devoto
Reza o dito popular
Num sagrado sincretismo
Aonde pode juntar
Santos da Igreja Cristã
Com Oxum, Ogum, Nanã
Para os reverenciar.
E desse modo, a rezar
Dos mais distantes recantos
Vai compondo as orações
Seus louvores e seus cantos
Repletos de poesia
Pois afinal, a Bahia
Adora todos os santos.
Mestre Dorival
Caymmi
Notável compositor
Cantou a faina praieira
E os encantos do amor
Nessas canções e pelejas
Falou também das Igrejas
Que existem em São Salvador.
São trezentos e sessenta
E cinco, que alegria,
As igrejas que existem
No Estado da Bahia
Tem igreja em todo canto
Uma para cada santo
E um santo pra cada dia.
(...)
Um comentário:
Dorival Caimmym grande mestre .
Postar um comentário