segunda-feira, 8 de junho de 2020

O Cordel se despede de Piúdo, mas Piúdo está vivo em sua arte




Para homenagear Luís Eduardo Serra Azul Filho, o Piúdo, poeta cordelista, compositor e cordelista, que nos deixou no último sábado, 6 de junho, os poetas Rouxinol do Rinaré, Evaristo Geraldo e Godofrêdo Solón, escreveram, em parceria, um belo cordel que contou com capa de Klévisson Viana. Piúdo nasceu em Fortaleza (CE) no dia 30 de julho de 1967. Coincidentemente, tinha a mesma idade de Arievaldo Viana, outro grande cordelista que também nos deixou recentemente. 

Nosso adeus em poesia
Ao Serra Azul, o Piúdo!

Autores: Evaristo Geraldo, Godofredo
e Rouxinol do Rinaré

A morte em 2020
Traz na foice um corte agudo:
Fim de maio leva Ari,
Um cordelista graúdo,
E agora início de junho
Levou o nosso Piúdo!

O Serra Azul, ou Piúdo,
Era grande, um multiartista:
Poeta, compositor,
Um talentoso humorista,
Também deixou sua marca
Como escritor cordelista.

O Serra Azul foi embora
Nesse momento de dor...
A Terra está cor de cinza,
Mas o céu ganha mais cor,
Pois Piúdo vai levando
Poesia e muito humor!

A morte veio sisuda,
Sorrateira e preparada.
Piúdo estava dormindo,
Ela o chamou: — Camarada,
Vamos comigo pro céu
Fazer um show de piada!

"A COVID tem matado
Indiscriminadamente
E no céu está faltando
Quem alegre tanta gente.
Estou aqui pra levá-lo
Por ordem do Onipotente."

Piúdo disse: — Senhora,
Procure vates decanos.
Eu ainda sou tão jovem.
Só fiz cinquenta e dois anos!
— Sem "queixo"! – retruca a morte –,
Pois Deus não comete enganos.

“Você já cumpriu na Terra
O seu papel de poeta.
Tem vários cordéis escritos,
Está na lista seleta.
Agora irás para o céu
Cumprir uma nova meta.

Não queira me ‘desdobrar’,
Entre logo no transporte.
Conheço bem sua fama,
Seu inteligente porte...
Compro ordens do Altíssimo
E ninguém foge da morte!”

Piúdo disse: — Está certo!
Deus chamou, vamos embora.
Se é para fazer show,
Não posso passar da hora.
E lá irei encontrar
A plateia que me adora.

Vamos abrir um parêntese
Pra falar da trajetória
Desse singular artista,
De uma cultura notória
E saber como se deu
O início de sua história.

Nosso Luís Eduardo
Serra Azul Filho, o Piúdo,
Descende de grandes vates,
Seu sobrenome diz tudo,
Não é à toa que tinha
Métrica, rima e conteúdo!

O fim dos anos noventa
Abre A PORTA CULTURAL
DOS ALETÓFILOS, com ela
Nasce o homônimo jornal
Com inspiração na famosa
Padaria Espiritual.

Rouxinol, Francisco e Magnos
Dão início ao movimento.
Paiva Neves aderiu
Ao grupo, em dado momento,
E Serra Azul, o Piúdo,
Completou com seu talento.

Com prosa e com poesia
Mostravam seus ideais
De resgatar a cultura,
A história e muito mais,
Tendo heróis iguais Rodolfo
Como figuras centrais.

Nosso Rodolfo Teófilo,
Essa personagem rara,
Firme, o grupo de A PORTA
A sua memória ampara
Nesse movimento histórico
Junto ao povo em Pajuçara!

O jornal foi bem efêmero,
Só teve quatro edições...
Com o tempo os artistas tomam
Diferentes direções,
Mas A PORTA abriu a todos
Muitas realizações.

Francisco hoje é filósofo,
Rouxinol é escritor,
Paiva é poeta e docente,
Magnos tornou-se editor,
Piúdo publicou livros,
E gravou CDs de humor.

Piúdo escreveu cordéis
Com boa trama e enredo.
Tem muitas obras inéditas...
A vida é mesmo um segredo,
Porque ninguém esperava
Que ele partisse tão cedo!

No mundo do cordelismo
Já na primeira "incursão"
Escreveu com Rouxinol,
Com humor em profusão,
O cordel O GRANDE ENCONTRO
DE CAMÕES COM SALOMÃO.

Tomou fôlego, publicou
Cordéis, livros de poesias,
Foi premiado em concursos,
Se insere em antologias,
Fortaleceu nossas letras
Com diversas parcerias.

Pela Editora IMEPH
Também fez publicação
E Nas Ondas da Leitura
Seus textos navegam, então,
Chegando às salas de aula,
Brilhando na educação!

Alegrou rodas de amigos
Nos tempos da SOPOEMA...
Tinha um grande repertório
De piada, em qualquer tema.
Foi um humorista nato,
Um cearense da gema!

Pras festas de aniversário
O Piúdo era chamado.
Lá chegando ele deixava
O lugar bem animado,
Pois, até mesmo em silêncio,
O Piúdo era engraçado.

Recordaremos Piúdo
Sempre com muita alegria,
Nos movimentos de humor,
Pois, onde quer que ele ia,
Arrancava gargalhadas
Com as piadas que fazia.

Junto a Klévisson Viana
E de Ari seu irmão,
Rouxinol do Rinaré,
E Marcos Aurélio, então,
Piúdo e suas piadas
Foi sempre grande atração.

Serra Azul, com Evaristo
E Stélio, em muitas, viagens,
Contava alegre seus causos,
Às vezes, de sacanagens,
E diversas "pegadinhas",
Incomparável em “trolagens”.

Ao lado de seus parceiros
Costa Senna, Godofrêdo,
Paiva Neves, Julie Ane,
Revelava um novo enredo
Ou belas composições,
Nunca as deixava em segredo.

Lembramos já com saudades
Das suas declamações,
Dos encontros literários,
Das nossas reuniões
Em diversas editoras
Pra fechar contratações.

Na histórica SOPOEMA
Deixou seu nome gravado.
Com o fardão da AML*
Ficou imortalizado.
E até mesmo em Portugal
Seu trabalho é premiado.

Os filhos Igor e Yuri
São sementes que deixou,
O riso em nossas lembranças
Das piadas que contou
E um legado cultural
Nas obras que publicou.

Nós somos a somatória
De tudo que nos rodeia.
E quando um vate se encanta,
Volta ao pó, torna-se areia,
O mundo fica mais triste,
No céu um astro passeia.

Na Terra a vida é estágio
Na escola da Providência.
A morte ceifou seu corpo,
Mas não matou sua essência...
Piúdo subiu ao Pai,
O Deus de toda existência.

Fechando os olhos da carne,
N’outra vida despertou.
A saudosa Conceição
Lhe esperando avistou
E, assim, seguiu abraçado
À mulher que tanto amou!

Fim
___
*Academia Maracanauense de Letras



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