terça-feira, 24 de agosto de 2021

José Costa Leite, 1927-2021


O Brasil se despede de José Costa Leite, poeta e xilogravador, nome histórico da Literatura de Cordel, num dia de São Bartolomeu. Sim, o 24 de agosto é considerado o dia mais aziago do ano, mas não foi por isso que Costa Leite partiu. Havia algum tempo que ele sofria com o mal de Alzheimer e o fato de não pode mais escrever, expor e vender seus folhetos e xilos nas feiras de Pernambuco e da Paraíba, atividade iniciada em 1947, contribuíram para que o quadro se agravasse.

Costa Leite e Marco Haurélio em João Pessoa, 2005. 

Conheci-o em 2005, no Encontro Internacional de Literatura de Cordel, em João Pessoa, PB, e o reencontrei três anos depois, no festival recifense A Letra e a Voz, quando dividimos uma mesa com a brilhante pesquisadora Maria Alice Amorim. Um registro fotográfico desse encontro foi publicado em meu livro Breve História da Literatura de Cordel, em que Alice e Costa Leite aparecem ao lado dos também poetas José Honório e Dodó Félix. Lembro-me, como se fosse hoje, de Costa Leite, que sofria com o ar-condicionado da Livraria Cultura, depois de ser socorrido por Alice, que lhe deu sua caixa de lenços de papel, lamentar: “Esse ar frio me ofende!”

Peleja de Ivanildo Vilanova com Guriatã do Norte
(Luzeiro, 2005)

Na Luzeiro, onde trabalhei entre 2005 e 2007, selecionei alguns de seus textos para publicação. A editora ainda adquiriu, na época do saudoso Gregório Nicoló, centenas de matrizes de umburana gravadas por Costa Leite e vários textos originais, escritos de próprio punho. Mas a maior parte de sua produção foi editada mesmo em Pernambuco, graças a Aninha Ferraz, da Editora Coqueiro, sua grande amiga e companheira de muitos eventos e feiras.

Costa Leite, além de poeta eclético, indo do drama à peleja “inventada”, do gracejo à sátira e à religiosidade, sendo autor de uma versão da oração “O sonho de Nossa  Senhora”, foi o último dos poetas astrólogos, editores de almanaques e difusores das ciências ocultas. Seu Calendário Nordestino, inspirado no Lunário Perpétuo português, foi, até bem pouco tempo, publicado e vendido nas feiras e bancas de revista. Pela peculiaridade de sua obra e de sua persona artística, pode-se dizer que sua partida encerra um ciclo na Literatura de Cordel brasileira.

Honremos o seu legado.

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