O Brasil se despede de José Costa
Leite, poeta e xilogravador, nome histórico da Literatura de Cordel, num dia de
São Bartolomeu. Sim, o 24 de agosto é considerado o dia mais aziago do ano, mas
não foi por isso que Costa Leite partiu. Havia algum tempo que ele sofria com o
mal de Alzheimer e o fato de não pode mais escrever, expor e vender seus
folhetos e xilos nas feiras de Pernambuco e da Paraíba, atividade iniciada em 1947,
contribuíram para que o quadro se agravasse.
Costa Leite e Marco Haurélio em João Pessoa, 2005. |
Conheci-o em 2005, no Encontro
Internacional de Literatura de Cordel, em João Pessoa, PB, e o reencontrei três
anos depois, no festival recifense A Letra e a Voz, quando dividimos uma mesa
com a brilhante pesquisadora Maria Alice Amorim. Um registro fotográfico desse
encontro foi publicado em meu livro Breve História da Literatura de Cordel, em
que Alice e Costa Leite aparecem ao lado dos também poetas José Honório e Dodó
Félix. Lembro-me, como se fosse hoje, de Costa Leite, que sofria com o
ar-condicionado da Livraria Cultura, depois de ser socorrido por Alice, que lhe
deu sua caixa de lenços de papel, lamentar: “Esse ar frio me ofende!”
Peleja de Ivanildo Vilanova com Guriatã do Norte (Luzeiro, 2005) |
Na Luzeiro, onde trabalhei entre 2005
e 2007, selecionei alguns de seus textos para publicação. A editora ainda
adquiriu, na época do saudoso Gregório Nicoló, centenas de matrizes de umburana
gravadas por Costa Leite e vários textos originais, escritos de próprio punho. Mas a maior parte de sua produção foi editada mesmo em Pernambuco, graças a Aninha Ferraz,
da Editora Coqueiro, sua grande amiga e companheira de muitos eventos e feiras.
Costa Leite, além de poeta eclético,
indo do drama à peleja “inventada”, do gracejo à sátira e à religiosidade,
sendo autor de uma versão da oração “O sonho de Nossa Senhora”, foi o último dos poetas astrólogos,
editores de almanaques e difusores das ciências ocultas. Seu Calendário
Nordestino, inspirado no Lunário Perpétuo português, foi, até bem
pouco tempo, publicado e vendido nas feiras e bancas de revista. Pela
peculiaridade de sua obra e de sua persona artística, pode-se dizer que sua
partida encerra um ciclo na Literatura de Cordel brasileira.
Honremos o seu legado.
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