"Pavão misterioso". Xilogravura de Lucélia Borges. |
Em novembro de 2023, proferi a conferência de abertura do I Congresso de Literatura de Cordel, realizado pela Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. O mote foi um dos capítulos da dissertação de mestrado, defendida este ano na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), enfocando os motivos constituintes da narrativa-modelo que culminaria no Romance do pavão misterioso, o mais famoso de todos os cordéis. Abaixo, o resumo do artigo, publicado na revista Memória e Informação, e um trecho da introdução.
Resumo
Este artigo revisita o mais famoso folheto da literatura de cordel brasileira, O romance do pavão misterioso, sob nova perspectiva. Em vez de debater questões ligadas à verdadeira autoria, discussão praticamente superada, propõe-se a fazer um levantamento dos principais motivos constituintes da história e, a partir daí, a enquadrá-la no catálogo internacional do conto popular – o sistema Aarne-Thompson-Uther (ATU) –, a partir de um estudo comparativo com versões e variantes do conto tipo The Prince’s Wings (ATU 575), classificação com a qual o texto está relacionado.
Introdução
Em 2001, quando foi montada a expografia “100 Anos de Cordel” no Sesc Pompeia, em São Paulo, a imagem do evento era uma ilustração de autoria do artista plástico pernambucano Jô Oliveira representando uma passagem do célebre cordel O romance do pavão misterioso. A cena retratada mostrava um pavão mecânico sobrevoando o que parecia ser um país árabe, sendo pilotado por um homem com trajes nordestinos, o qual tinha ao lado uma mulher enleada em seus braços. Completava a homenagem, comprobatória da importância do texto, um poema em martelo agalopado, de Klévisson Viana, com o mote “O cordel completou um centenário / viajando nos braços do Pavão”.
Painel principal da mostra 100 anos de Cordel. Arte de Jô Oliveira. |
Em relação à efeméride “fundacional”, não existe consenso. No tocante a O romance do pavão misterioso, escrito por José Camelo de Melo Resende, presumivelmente em 1923, e levado ao prelo com muitas modificações por João Melchíades Ferreira, que assumiu a sua autoria, não resta dúvida: é o grande clássico da literatura de cordel brasileira e o seu maior símbolo.
O relevo da referida obra se confirma de vários modos, incluindo seu reaproveitamento em várias linguagens artísticas, sendo exemplos a música, com o cearense Ednardo, o teatro, o cinema, as artes plásticas e a literatura infantil. Essas e outras adaptações demonstram o vigor de seu inegável apelo emocional e rico arcabouço simbólico.
Do ponto de vista acadêmico, o enredo de O romance do pavão misterioso parece se desenvolver a partir de uma hábil combinação dos motivos integrantes de contos novelescos e maravilhosos, sendo essa a hipótese a ser aqui confirmada.
É nessa perspectiva que o presente artigo revisita este que é o mais famoso folheto da literatura de cordel brasileira, tendo como objetivo apresentar um levantamento dos principais motivos constituintes da história, com o fim de enquadrá-la no catálogo internacional do conto popular, o sistema Aarne-Thompson-Uther (ATU). Para tanto, efetua-se aqui um estudo comparativo entre a referida obra popular e versões e variantes do conto-tipo The Prince’s Wings (ATU 575), classificação com a qual o texto está relacionado.
Fonte: FARIAS, M. H. F. “Eu vou contar a história / De um pavão misterioso”. Memória e Informação, v. 7, n. 2, p. 87-104, 25 nov. 2024.
O pavão misterioso, publicado por Manoel Camilo dos Santos. Acervo: Fonds Raymond Cantel (3927). Capa: Xilogravura de Álvaro Barbosa (ABA). |
Para ler o texto na íntegra, clique AQUI.
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