sábado, 2 de junho de 2012

Simpósio de Educação da Paulus debate comunicação e cultura

7º Simpósio de Educação PAULUS debate a relação entre educação, comunicação e cultura


Por assessoria de imprensa Paulus


O evento, ocorrido ontem, 31, na FAPCOM – Faculdade PAULUS de Tecnologia e Comunicação, reuniu cerca de 500 participantes, entre professores, estudantes, coordenadores pedagógicos e demais profissionais.
A abertura foi realizada pelo padre Mário Pizetta, diretor da FAPCOM, e pelo editor da área de educação da editora, Antonio Iraildo Alves de Brito. Em seguida, o jornalista Paulo Markun, primeiro palestrante do dia, falou sobre as mídias como ferramentas para uma educação além da sala de aula.
“Hoje em dia, a maior parte das informações que estão à disposição da humanidade está ao alcance das mãos, basta acessar a Internet. Os dados não estão mais apenas no computador de casa, do trabalho ou da escola, mas também nos equipamentos que levamos no bolso. A interação proporcionada por esses meios ainda não acontece na sala de aula, por isso a importância de discutirmos algumas experiências que já existem no Brasil e no exterior, no sentido de quebrar essas barreiras”, explicou.
Já a segunda palestra, proferida por Ariano Suassuna, foi uma “aula espetáculo” intitulada “Raízes Populares da Cultura Brasileira”. De forma divertida e espontânea, o escritor chamou a atenção do público para a questão da arte de qualidade como ferramenta educativa. “É sempre necessário ressaltar que a arte é, por natureza, educativa. Porém, as pessoas não devem fazer dela um cavalo de batalha, pois isso resulta em uma arte ruim, que não serve nem à arte e nem à educação”, afirmou.
Além das palestras, o 7º Simpósio de Educação PAULUS ofereceu seis workshops, todos voltados para o debate de questões oportunas para educadores desenvolverem seu ofício cada vez melhor. 
Silvia Azevedo, coordenadora pedagógica, destacou a oportunidade de crescimento profissional que o simpósio proporcionou. “Gostei muito das duas palestras e do workshop de que participei, cujo tema foi ‘Família x Instituição Escolar: Uma Parceria Necessária’. Com certeza voltarei para a escola renovada. Aqui encontramos um ‘gás’, uma energia que nos ajuda a melhorar as nossas práticas.”
Também marcaram presença diversos autores da PAULUS, como frei Carlos Josaphat, Marco Haurélio e Nireuda Longobardi. O Simpósio de Educação PAULUS acontece desde 2006 e é conhecido, principalmente, por reunir grandes profissionais das áreas que são temas de discussão no evento, como Gabriel Chalita, Mario Sergio Cortella, Fátima Freire, Celso Antunes, Viviane Mosé, Heródoto Barbeiro, Lucia Santaella, entre outros.

Nota do blogue: Compareci ao evento a convite da PAULUS e tive a honra de trocar uns dedos de prosa com o mestre Suassuna, referência na minha obra, especialmente no cordel. Escrevi, a partir dos personagens do Auto da Compadecida, Presepadas de Chicó e Astúcias de João Grilo, publicado em folheto pela Luzeiro e depois arrolado entre os textos da coletânea Meus Romances de Cordel (Global Editora).

As fotos abaixo contam um pouco desta história:
Ariano Suassuna folheia o livro Contos e fábulas do Brasil (Nova Alexandria) sob o olhar gracioso de sua esposa D. Zélia.
Ariano, Lucélia, Fátima, D. Zélia e Nireuda Longobardi.
Enquanto espera o autógrafo de seu exemplar do Auto da Compadecida, Pedro Monteiro tem às mãos a Antologia do Cordel Brasileiro (Global). "Vou  ler, viu?", foi o recado do Mestre.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Literatura de Cordel no Portal do Professor

O Portal do Professor, do Ministério da Educação, em sua edição 72, indicou dois livros de minha lavra para leitura. São eles breve História da Literatura de Cordel (Claridade) e Antologia do Cordel Brasileiro (Global Editora). Neste último, atuo com coautor e organizador.

Breve História da Literatura de Cordel
Breve História da Literatura de Cordel
Marco Haurélio – Editora Claridade – Brasil – 2010 – 1ª edição
Surgida no Nordeste brasileiro, no final do século XIX, a Literatura de Cordel é mais que um gênero poético. É uma manifestação artística genuinamente nacional. Escrito por um poeta popular que se dedica também à pesquisa, este livro narra as origens do Cordel, apresenta seus principais expoentes e mostra o leque de influências na cena cultural brasileira.
Antologia do Cordel Brasileiro
Antologia do Cordel Brasileiro
Marco Haurelio – Editora Global – Brasil – 2012 – 1ª edição
Nesta obra, figuram histórias de autoria de renomados cordelistas do passado como o paraibano Leandro Gomes de Barros até cordéis escritos por membros da geração atual de poetas como Pedro Monteiro, Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Evaristo Geraldo da Silva e Klévisson Viana. O leitor tem acesso a um leque variado de cordéis, desde aqueles inspirados no conto maravilhoso, ou conto de fadas, como outros em que predominam mitos da Grécia Antiga e até alguns que deitam raízes nas histórias de animais.
As xilogravuras que integram o livro foram feitas por Erivaldo, um dos artistas mais representativos da xilogravura brasileira e que já ilustrou mais de uma centena de livros e folhetos de cordel.
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Abaixo, o editorial para esta edição do Portal do Professor:

Literatura de Cordel

Por decisão de nossos leitores, Literatura de Cordel é o assunto abordado nesta 72ª edição do Jornal do Professor. O tema teve a preferência de 50,51% das pessoas que votaram na enquete colocada em nossa página.
Trazemos para vocês, experiências desenvolvidas na Escola Municipal Professora Iris de Almeida Matos, em Parnamirim (RN); Escola Municipal Prefeito Walter Dória de Fiqueiredo, em Rio Largo (AL); Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, em Gramado (RS); e em escolas municipais de Santa Rita (PB).
Nossa entrevistada é a professora Ana Cristina Marinho Lúcio, da Universidade Federal da Paraíba. E na seção Espaço do Professor, participam professoras da Escola Estadual Irmã Lucinda Facchini, do município de Diamantino (MT).
Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!
Seja bem-vindo!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Lançamento: Lendas do Folclore Capixaba



A editora Nova Alexandria acaba de lançar, de minha autoria, Lendas do Folclore Capixaba, obra ilustrada por Eduardo Azevedo, cujo texto introdutório pode ser lido abaixo:

A lenda surge a partir de um fato, histórico ou social, ou de uma personagem real. A imaginação popular e a memória coletiva darão um novo colorido ao evento. Também busca explicar a origem de determinados lugares: rochedos, lagos, rios, etc. Daí a definição de lenda como “poesia da história”, pelo escritor mineiro Aires Machado da Mata Filho. A lenda, portanto, tem origem na história e corre paralela a esta.

Um dos mais importantes documentos sobre o assunto é o livro A Lenda Dourada (Legenda Aurea no original em latim), do frade dominicano Jacobus de Voragine (século XIII), que reúne as narrativas lendárias da vida de muitos santos de grande devoção popular. Afonso Arinos, em Lendas e Tradições Brasileiras, ao definir a palavra lenda, aponta, em sua origem, a necessidade de preservação dos valores tradicionais  cristãos pela glorificação dos santos católicos:

Lenda vem de ler, como legenda vem do latim legere: é o que deve ser lido. Era costume nos conventos e mosteiros, desde os primeiros tempos da era cristã, fazer cada dia, à hora das refeições em comum, nos vastos refeitórios, a leitura da vida do santo que dava o nome do dia. Daí o chamar-se lenda o trecho a ser lido.

O presente livro reconta em setilhas de cordel cinco das mais belas lendas capixabas, recolhidas e estudadas, com zelo, por folcloristas como Guilherme Santos Neves e Maria Stella de Novaes. Essas narrativas tratam de amores impossíveis, milagres e explicam como surgiram algumas das mais belas paisagens do Espírito Santo.

Nota do blogue: A obra traz algumas das mais memoráveis lendas capixabas, como o Pássaro de Fogo, que pode ser lida em parte aqui. E, aqui, pode-se ler um trecho da Lenda do Sumé, igualmente memorável.

Cordel na TV São Judas


Abaixo reproduzida, está a entrevista concedida à Maria José Petri, no programa ArteLetra, do Canal Universitário, produzido pela TV São Judas. Na ocasião, falei sobre o livro Antologia do Cordel Brasileiro (Global Editora) e de Leandro Gomes de Barros, o grande pioneiro desta arte.

Durante o programa, o professor Armando Prazeres declamou parte do belíssimo folheto A Guerra dos Passarinhos, de Manoel D'Almeida Filho, que integra o acervo da Editora Luzeiro.



Acervo do autor.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Arievaldo Viana ministra oficinas no DF



Uma das mais autênticas formas de manifestação da cultura popular nordestina percorre cinco escolas do DF


A partir do dia 28 de maio, cinco instituições de ensino da rede pública do Distrito Federal recebem a exposição Xilogravura e Literatura de Cordel nas Escolas. Durante o período de uma semana por escola, os alunos participam de atividades variadas, como visitação guiada à exposição, oficina de xilogravura e apresentação de repentistas. 

A primeira escola contemplada pelo projeto será o Centro de Ensino Médio 02 de Ceilândia, onde fica até o dia 1º de junho. Depois de Ceilândia a exposição segue para São Sebastião, Planaltina, Estrutural e Taguatinga.

Com curadoria de Arievaldo Viana, a exposição é composta por xilogravuras, cordéis, álbuns e matrizes de xilogravuras nordestinas atuais, antigas e históricas, apresentação de repente e cantinho da leitura. A mostra abre as portas para o universo lúdico e fantástico da cultura popular nordestina.

A ambientação recria o ambiente original de feiras nordestinas típicas, com bancadas, caixotes e instrumentos de impressão xilográfica (prensa, goivas, tintas, mataborrões, varais, entre outros objetos de confecção), e reúne cerca de 100 obras de diversos artistas consagrados, como J. Borges, Abraão Batista, J. Miguel, Costa Leite, entre outros.

Sempre às segundas-feiras é realizada solenidade de abertura, que conta com apresentação de repentistas animando a festa com suas rimas improvisadas, evocando elementos e 'personagens' presentes no ambiente. Durante a abertura é doada à Escola a "Mala do Livro", acervo bibliográfico sobre os temas xilogravura e literatura de cordel nordestinos, além de exemplares de cordéis, para compor a biblioteca escolar.

Fechando as atividades, às sextas-feiras será oferecida oficina de xilogravura aos alunos, na qual aprenderão alguns dos segredos e técnicas dessa centenária tradição.

Para além do valor artístico e cultural que apresenta, a exposição Xilogravura e Literatura de Cordel nas Escolas busca oferecer a professores e alunos elementos interativos que utilizam a arte e a cultura enquanto mediadores do aprendizado. Destaca-se que a xilogravura e a literatura de cordel fazem parte do conteúdo programático do ensino médio no Distrito Federal.

Calendário  

Ceilândia
CEM 02, QNM 14, Área Especial
Abertura: 28 de maio
Visitação: 28 de maio a 01 de junho de 2012


São Sebastião 
CEM 01, Quadra 203, Área Especial
Abertura: 11 de junho
Visitação: 11 a 15 de junho


Planaltina
CEM Stella dos Cherubins, Rua Hugo Lobo A/E sem nº - Quadra 97 - Setor Sul
Abertura: 18 de junho
Visitação: 18 a 22 de junho


Estrutural
CEF 01, Setor Central, Área Especial 03
Abertura: 25 de junho
Visitação: 25 a 29 de junho


Taguatinga
CEM EIT, QNB 01 - AE 01 - Setor Central, nº 01
Abertura: 2 de julho
Visitação: 2 a 6 de julho


Sobre o cordel - expressão artística da cultura popular nordestina, constituído de poesia e xilogravura, sendo tradicionalmente apresentado com música e declamação. É feito de papel jornal e vendido por preços muito baixos em feiras populares, como as que ocorrem em Juazeiro do Norte e Caruaru, onde é mostrado em maletas, barracas improvisadas ou bancas de feira.

O cordel é uma arte narrativa, como o romance, a novela, as histórias em quadrinhos ou o cinema. Em seus relatos trazem heróis, vilões, personagens reais ou irreais em situações cotidianas ou fantásticas, seres mitológicos, folclóricos ou bíblicos As estórias de cordel são retratadas por alguns dos mais importantes xilogravadores da atualidade: J. Borges, Marcelo Soares, Abraão Batista, Dila/Kirbano Sabóia, Costa Leite, Airton Laurindo, J Miguel e José Lourenço.

Esta exposição apresenta a origem do cordel, a forma de fazê-lo e seus principais temas e características. Os cordéis e as xilogravuras são mostrados em bancas, como é feito nas feiras populares. As obras expostas convidam os estudantes do Distrito Federal a um mergulho no imaginário nordestino, para que se possa conhecer e experimentar o cordel como uma arte viva, que se manifesta das mais variadas formas.


Se achegue! Parece uma feira, e não é por acaso. Foi assim que surgiram, e ainda hoje sobrevivem, os cordéis em várias cidades do nordeste brasileiro, vendidos a um módico preço, representando uma importante expressão da nossa cultura popular. A Cultura e Criatividade, produtora responsável pelo projeto, tem a satisfação de trazer até a escola a exposição Xilogravura e Literatura de Cordel. A mostra levará os estudantes para um universo, onde imagens de cangaceiros, beatos, monstros horripilantes e seres celestiais permeiam histórias intrigantes, algumas reais, outras fantasiosas, todas recheadas de muita cultura e criatividade.
Histórico 
O cordel, como expressão da literatura popular brasileira, surge na primeira década do século XIX como um meio de comunicação popular no sertão nordestino.  Não havia rádio, nem televisão. Os cordéis funcionavam como um instrumento de informação e entretenimento, feito pelo povo para o povo.

Ao mesmo tempo em que alguns traziam poesias e ficção, outros traziam narrativas comentando fatos ocorridos. No início eram apenas textos. O primeiro cordel a trazer uma imagem xilogravada foi produzido pelo paraibano Francisco das Chagas Baptista, que em 1907 publicou Antônio Silvino, o rei dos cangaceiros, impresso no Recife-PE. A mesma gravura seria reaproveitada em outros três folhetos do mesmo autor – Antônio Silvino; novos crimes, Novas empresas de Antônio Silvino e, sua última aparição, em A História de Lampião.  Durante esse processo de reutilização a gravura perdeu muito de seus detalhes secundários, parecendo, em certas ocasiões, apenas o esboço do que foi a original.

Antes de se transformar em cordel, as histórias eram narradas pelo “cantador”, que seria algo como os repentistas de hoje – alguém que entoa versos de forma improvisada a respeito de vários temas. Depois, o que era cantado, passou a ser escrito. A linguagem é simples, porque são histórias feitas por gente comum, que, em muitos casos, não teve a chance de aprender a ler e a escrever numa escola.

A xilogravura

Xilogravura é a técnica de gravura na qual se utiliza madeira (xilo) como matriz e possibilita a reprodução de imagens e textos sobre papel ou outro suporte adequado. É um processo inversamente parecido com um carimbo já que o papel é prensado com as mãos sobre a matriz. A feitura das peças consiste em:

1.     Lixamento da madeira; em geral usa-se a imburama.
2.     Desenho da figura; é feito com um lápis macio para que se possa apagar sem marcar.
3.     Entalhe da madeira; com ajuda de instrumento cortante é feito uma escavação de baixo relevo de tudo aquilo que não é desenho. A figura ou forma que se pretende imprimir permanece em alto relevo.
4.     Pintura da matriz; usa-se um rolo de borracha embebida em tinta tocando só as partes elevadas do entalhe.
5.     Impressão; em papel ou pano especial, que fica impregnado com a tinta, revelando a figura.

As escolas do cordel

Dois estilos diferentes marcam a xilogravura popular nordestina: os artistas influenciados pela tradição pernambucana, conhecida como escola de Caruaru, e aqueles oriundo da escola de Juazeiro, no Ceará. As cidades são uma referência ao fato de que muitos desses artistas residem ou surgiram nesses locais.

Os artistas que sofreram influência da escola de Juazeiro do Norte-CE trabalham as matrizes com mais detalhes, entalhando sombras, texturas e a idéia de profundidade das imagens. Já aqueles da escola de Caruaru-PE mantêm um estilo mais tradicional, associado às primeiras impressões em xilogravuras: figuras chapadas, isoladas no fundo, com grandes contrastes. Esse estilo mais simplificado, com maior isolado das figuras, possibilitou o uso da cor nesse tipo de gravura.

O curador

Arievaldo Viana - poeta popular, ilustrador, chargista e xilogravador nascido no Ceará. Alfabetizado em meados da década de 1970, graças ao valioso auxílio da Literatura de Cordel, teve como referência o seu pai, Evaldo Lima e sua avó, Alzira de Sousa Lima, que liam folhetos de cordel em voz alta para ele e outras crianças da família. Começou a publicar seus livros e folhetos de cordel no final da década de 1990, quando lançou uma caixa com 10 títulos chamada Coleção Cancão de Fogo, sucesso imediato de vendas e de crítica, verdadeiro ponto de partida para o renascimento desse gênero poético, que estava praticamente desaparecido com o fechamento das grandes editoras de cordel.


Atua também como xilogravador, tendo participado de publicações como o catálogo do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e um álbum sobre Luiz Gonzaga. Atualmente participa de exposições sobre o centenário do Rei do Baião.


Foi eleito em 2000 para a cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Em 2002 conquistou o premio Domingos Olimpio de Literatura, promovido pela Prefeitura de Sobral-CE, com uma adaptação do romance Luzia Homem para o cordel. É autor de mais de 100 folhetos de cordel e tem em cerca de 20 livros publicados, alguns dos quais adotados pelo MEC através do PNBE (Programa Nacional da Biblioteca Escolar).

Cultura e Criatividade
Uma empresa genuinamente brasiliense, a Cultura e Criatividade atua nas áreas de Cultura e Educação. Produziu e idealizou diversos projetos de valorização da Cultura Popular e atividades educativas com interface com a cultura. É com imensa satisfação que levamos até as escolas públicas do Distrito Federal a Exposição Xilogravura e Literatura de Cordel, uma iniciativa inovadora que apresenta de maneira didática e divertida uma das formas de manifestação mais lúdicas da cultura popular nordestina.

Ficha Técnica 
Produção executiva: Ana Paula Peigon
Curadoria: Arievaldo Viana
Coordenação de Produção: Luana Marques
Direção de Arte: Janaina André
Assistente de Produção: Rafael Rocha Sousa
Oficina: Eduardo Alvim
Repentista: Valdenor de Almeida e João Neto
Montagem: Chico Sassi e Chico Mozart
Mediadores: Thiago Lucena, Dani Cureau e Letícia Cureau
Identidade Visual: Piquenique Design
Produção de Conteúdo: Flávia Ilíada
Diagramação: Leonardo Vasconcelos
Assessoria de Imprensa: Luis Flávio Luz
Produção de web: Gabriel Lyra


Assessoria de imprensa


Luis Flávio Luz
61 30413394

Nota do blogue: texto para divulgação. Divirjo no tocante a muitas informações, como aquela que reduz o cordel à forma com que é impresso, mas divulgo o evento, pois acredito que seu curador, o poeta e xilógrafo Arievaldo Viana, em suas oficinas, irá desfazer muitos mal-entendidos que ainda rondam a literatura de cordel.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Oficina de cordel em São Bernardo do Campo


Sábado, 19 de maio, estive em São Bernardo do Campo para ministrar uma oficina de cordel para agentes de leituras do município. A atividade ocorreu na Biblioteca Monteiro Lobato e contou com cerca de 70 pessoas.


Na ocasião, mostrei um pouco da história do cordel no Brasil, apresentando a evolução gráfica e temática do gênero, e falei sobre minha inserção neste universo. Com base numa apostila que confeccionei, os agentes travaram contato com a métrica e as rimas do cordel, e com modalidades estróficas mais comuns ao universo do repente, como o martelo agalopado e o galope à beira-mar.

A atividade contou com o apoio da editora Nova Alexandria, que publica a coleção Clássicos em Cordel. Agradeço a Amanda Nunes, divulgadora da Nova Alexandria, Elenir, Alexandre e demais funcionários da Biblioteca Monteiro Lobato, responsáveis pelo êxito da iniciativa.

domingo, 20 de maio de 2012

A versão em quadrinhos de um grande clássico


O pavão misterioso - Cordel em quadrinhos
A presente versão em quadrinhos do grande clássico de José Camelo de Melo Resende, o Romance do Pavão Misterioso, marcou uma experiência inovadora da Editora Prelúdio. A casa publicadora paulista, dirigida à época por Arlindo Pinto de Souza, foi responsável por dar uma nova roupagem à literatura de folhetos do Nordeste, publicando, desde 1952, livretos em tricromia e com formato maior, 13,5 x 18 cm. Quando ousou transpor clássicos do cordel para o formato das HQs, em fins da década de 1960, a Prelúdio se valeu do que tinha de melhor em seu time de ilustradores: os mestres Nico Rosso e Sérgio Lima. Este último recriou com seu traço peculiar, além do Pavão Misterioso, o soberbo folheto de gracejo de José Pacheco, A Chegada de Lampião no Inferno. O ítalo-brasileiro Rosso recriou grandes sucessos editoriais, como João Acaba-Mundo e a Serpente Negra, de Minelvino Francisco Silva, e Lampião, o Rei do Cangaço, de Antônio Teodoro dos Santos.

A iniciativa, à época, foi mal recebida pelo público e por estudiosos que ainda incorriam no equívoco de enxergar o cordel como uma manifestação folclórica antes de ser simplesmente literatura. Eram as mesma vozes que reclamavam das capas coloridas e da apresentação editorial diferenciada da Prelúdio, Mas as razões do insucesso passam longe das críticas. O hábito de se ler sempre os folhetos na vertical, de cima para baixo, pode ter gerado um desconforto no público tradicional, que não conseguiu acompanhar a distribuição dos quadrinhos na página. Os textos foram publicados na íntegra, com cada estrofe ilustrada por um quadro (exceção aos títulos ilustrados por Rosso, maiores que a média). Havia, porém, um problema: a inexistência de balões nos diálogos, o que comprometia o dinamismo que a linguagem das HQs exige. Outro desajuste era o nome – ou nomes – da coleção: Folclore em Quadrinhos ou Histórias do Norte em Quadrinhos. O termo cordel não era ainda popular entre o público.

A iniciativa, se não foi malograda, não cumpriu o que prometeu: as baixas vendagens abortaram a possibilidade de novos títulos serem lançados. Hoje, esse material inédito – que inclui quadrinizações de Vicente, o Rei dos Ladrões, de Manoel D’Almeida Filho, e de Vida e Testamento de Cancão de Fogo, de Leandro Gomes de Barros – faz parte do acervo da Luzeiro, editora que sucedeu a Prelúdio e coedita o presente trabalho.

O Novo Voo do Pavão Misterioso

A versão em quadrinhos do Pavão Misterioso foi garimpada por mim, Marco Haurélio, quando, em 2005, assumi o editorial da Luzeiro, a convite de seu diretor, Gregório Nicoló. Em 2006, durante uma visita do editor e poeta popular cearense Klévisson Viana a São Paulo, surgiu a ideia de trazer de volta esse clássico num formato mais arrojado. Klévisson sugeriu a inserção de balões e uma melhor distribuição dos quadrinhos, mais adequada aos novos tempos. Quadrinista premiado, duas vezes vencedor do HQ Mix, Klévisson sabia do que estava falando. Foi assim estabelecida uma parceria entre a paulista Luzeiro e a cearense Tupynanquim, dirigida por Klévisson. No mesmo período, chegavam, via e-mail, valiosas informações sobre a vida e a obra de José Camelo, colhidas pelo inquieto José Paulo Ribeiro, de Guarabira, PB, bancário aposentado e um dos maiores entusiastas do cordel que conheço. A valiosa foto do poeta, que ilustra o livro, foi encontrada por ele num dos muitos cartórios em que andou.

A possibilidade de ver o arquetípico Pavão alçando mais um voo – depois de ter servido de inspiração a tanta gente, da música ao teatro, da telenovela a outros gêneros literários – é o desafio de todos nós, editores e entusiastas. O leitor tradicional do cordel e os amantes das HQs têm a agora a oportunidade de guardar para sempre um tesouro tão valioso quanto o retrato da condessinha Creusa, que motivou a busca do jovem Evangelista. O Pavão atemporal, com ecos das Mil e Uma Noites e cheiro de ficção científica, voa agora para as estantes, movido pelo mesmo combustível que, há séculos, impulsiona a criação artística: o sonho.

Nota do blog: Apresentação da edição em quadrinhos do clássico Romance do Pavão Misterioso (Luzeiro/Tupynanquim).

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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Cem anos de nascimento de Joaquim Batista de Sena


O blog Cordel Atemporal tem a honra de divulgar a homenagem que poetas, instituições e estudiosos do Ceará prestam a um dos mestres da Literatura de Cordel Brasileira.

2012 é o ano do centenário de um dos maiores expoentes da Literatura de Cordel, o paraibano Joaquim Batista de Sena, que durante mais de quatro décadas palmilhou o Nordeste inteiro produzindo, imprimindo e revendendo seus folhetos. A partir da década de 1950 instalou o seu ‘quartel general’ em Fortaleza, onde fundou a Tipografia Graças Fátima, responsável pela publicação de seus próprios cordéis e também boa parte da criação literária de José Camelo Rezende, de quem adquiriu diversos originais. Romancista de primeira linha, Sena procura seguir a mesma trilha deixada por Camelo, Leandro, Athayde e outros gênios da poesia popular.
Mas não desdenhava o folheto-reportagem que também foi um de seus trunfos para conquistar a simpatia popular. Qualquer crime hediondo, enchente, desastre automobilístico, aparecimento de entidades sobrenaturais não escapava ao seu poder de observação, como se vê no folheto ‘O monstro do Cemitério São João Batista’ que trata de um curioso tema: a necrofilia. Entretanto, foi na passagem da imagem milagrosa de Nossa Senhora de Fátima, em 1953, que alcançou o seu apogeu como editor, percorrendo todo o itinerário da imagem pelo Nordeste afora. Ganhou tanto dinheiro que acabou batizando sua folhetaria com o nome de “Graças Fátima”. Antes disso, no início da década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu um naufrágio na baía de Quebra-Potes, no Maranhão, quando o navio em que viajava foi perseguido por um submarino alemão. Conseguiu salvar-se nadando, mas perdeu uma preciosa mala contendo diversos originais, dos quais não possuía outra cópia.
Hoje a obra de Sena parece naufragar em outros mares... o mar do esquecimento, do ostracismo a que vem sendo relegada a sua valiosa produção poética. Nada mais justo que a o Ponto de Cultura Cordel com a Corda Toda da AESTROFE – Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Ceará, com o apoio da ABC-Academia Brasileira de Cordel e CECORDEL- Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste, faça essa justa homenagem ao poeta, relançando três expressivos romances de sua lavra na passagem do seu centenário. São eles “Os Amores de Chiquinha e As Bravuras de Apolinário”, “História de Braz e Anália” e “História de João Mimoso ou O Castelo Maldito”.
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JOAQUIM BATISTA DE SENA - nasceu no dia 21 de maio de 1912, em Fazenda Velha, do termo de Bananeiras, hoje pertencente ao município de  Solânea-PB. Faleceu no distrito de Antônio Diogo (Redenção-CE) no início da década de 90 do século recém-findo. Autodidata, adquiriu vasto conhecimento sobre cultura popular e era um defensor intransigente da poesia popular nordestina. Começou como cantador de viola, permanecendo três anos neste ofício, no final da década de 30. 
No início da década de 40, vendeu um sítio de sua propriedade e adquiriu sua primeira tipografia, que funcionou algum tempo na cidade de Guarabira-PB, transferindo-se depois para Fortaleza, onde atuou durante muitos anos. Dizia-se discípulo de Leandro Gomes de Barros e era admirador incondicional de José Camelo de Melo. Na capital cearense, sua tipografia adotou o nome de “Graças Fátima”. O poeta explicava a razão desse título: durante a passagem da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima pelo Nordeste, na década de 50, ele conseguiu ganhar muito dinheiro vendendo folhetos sobre a visita da santa, ampliando consideravelmente seus negócios. Por essa época, foi vítima de um naufrágio da Baía de Quebra-Potes (Maranhão). Salvou-se nadando, mas perdeu  uma mala de folhetos, contendo diversos originais.
Em 1973 vendeu sua  gráfica e sua propriedade literária para Manoel Caboclo e Silva e tentou estabelecer-se no Rio de Janeiro, também no ramo da literatura de cordel, mas não foi bem sucedido. De volta ao Ceará, ainda editou alguns folhetos de sucesso, como o que escreveu em parceria com Vidal Santos, sobre o desastre aéreo da Serra da Aratanha (Pacatuba-CE), onde faleceu, dentre outros, o industrial Edson Queiroz.
Sena era um grande poeta, de verve apurada e rico vocabulário. Conhecia bem os costumes, a fauna, a flora e a geografia nordestina, motivo pelo qual seus romances eram ricos em descrições dessa natureza. Pode-se dizer que com a sua morte, fechou-se um ciclo na poesia popular nordestina e o gênero “romance” perdeu um de seus maiores poetas. Só agora, no início deste novo século, surgem novos romancistas que pretendem dar continuidade à trilha deixada pelo mestre.
Dentre as suas obras de maior aceitação popular, destacamos: A filha noiva do pai ou Amor culpa e perdão; A morte comanda o cangaço; As sete espadas de dores de Maria Santíssima; Estória de Manoel Seguro e Manoel Xexeiro; História de João Mimoso e o castelo maldito; História de Braz e Anália; Os amores de Chiquinha e as bravuras de Apolinário; História do assassinato de Manoel Machado e a vingança do seu filho Samuel; História do Príncipe João Corajoso e a princesa do Reino Não-vai-ninguém.

(In “Acorda Cordel na Sala de Aula”, Arievaldo Viana)



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SENA: UM CIENTISTA SOCIAL DO VERSO

O poeta e editor cordelista Joaquim Batista de Sena, se vivo fosse, completaria 100 anos neste 21 de maio de 2012. Ele nasceu em Fazenda Velha, município de Bananeiras, hoje pertencente ao município de  Solânea, microrregião do
Curimataú - PB em 1912. De uma família essencialmente de agricultores, os “Baraúna”, muito cedo trocou a enxada e o trabalho no sol escaldante, pelo cultivo da rica e exuberante poesia narrativa da Literatura de Cordel, “a mais bela de todas as poesias”, na descrição do mestre Camara Cascudo. Sena, como a grande maioria dos meninos pobres que moravam nos sertões paraibanos, andou completamente nú, até os sete anos de idade. O depoimento é dele próprio, acrescentando que no seu Curimataú os meninos mais pobres, já na puberdade, passavam a maior parte do tempo dentro de casa para esconder a nudez, ou acocorados em buracos que cavavam, chegando alguns deles a criar “encriquilamento” nas pernas. Pelo longo tempo que permaneciam naquela posição. O poeta logo liberou-se dessa inusitada situação e foi viver do verso de cordel nas grandes cidades. Estudou com  professor apenas três meses, para aprender o ABC, mas jamais escreveu palavras erradas ou inadequadas nos seus “romances”. Foi considerado um dos mais importantes poetas da Literatura de Cordel em todos os tempos. Ao lado de José Camelo de Melo Resente, Joaquim Batista de Sena figura como “cientista social do verso”. Como editor, manteve duas tipografias funcionando simultaneamente, no Rio de Janeiro e em Fortaleza mas, a exemplo de outro grande editor cordelista, João Martins de Athaide, Joaquim Batista de Sena também morreu na pobreza, na cidade cearense de Redenção-Ceara, onde mantinha a sua segunda família. Foi idealizador e um dos criadores da ABC-Academia Brasileira de Cordel, detentora dos direitos autorais dos 291 títulos das chamadas “obras primas da Literatura de Cordel”. As homenagens da ABC ao poeta Joaquim Batista de Sena - o Joaquim “Baraúna”, nos 100 anos do seu nascimento.
Vidal Santos, Presidente da ABC.

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Joaquim Batista de Sena é um dos grandes nomes do cordel brasileiro de todos os tempos. Este paraibano corajoso, depois de se instalar como poeta editor, achou pequena sua Guarabira natal, e peregrinou pelo Norte e Nordeste, sempre à cata de oportunidades, e fazendo da vida uma arte de improvisar e criar histórias de trancoso.
Viveu parte do tempo em Fortaleza. Chegou aqui, foi morar lá para as bandas da Floresta (hoje Álvaro Weyne), e instalou sua Tipografia Graças Fátima à Rua Liberato Barroso, número 725, no centro da cidade.
Sempre escreveu muito e tinha fôlego para os romances, os folhetos com maior número de páginas. Dava conta do que pretendia fazer, com sensibilidade e muita competência.
Um dia, resolveu viajar para o Rio de Janeiro e se instalou na Olaria, subúrbio da Leopoldina. Parece que a experiência não foi bem sucedida. Terminou por vender seu acervo para o também poeta e editor Manoel Caboclo e Silva, estabelecido com a Folhetaria Casa dos Horóscopos, em Juazeiro do Norte. Isso aconteceu pelos idos de 1974. A transação, registrada em cartório, proporcionou um grande impulso ao empreendimento de Caboclo.
Sena vendeu folhetos junto ao Theatro José de Alencar. Morou com uma segunda família em um conjunto habitacional, na divisa entre os municípios de Redenção e Acarape. Dizia que um dos seus sonhos era organizar uma antologia ilustrada dos seus folhetos, como forma de incrementar suas vendas.
Foi um grande poeta, um “performer” na hora da venda dos folhetos, e um sertanejo cidadão do mundo e poeta de verdade. Faz cem anos que nasceu e onze que se foi. Seu legado, valioso, merece um foco de luz e a possibilidade de ser lido e admirado pelas novas gerações.      
Gilmar de Carvalho
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Os amores de Chiquinha e as bravuras de Apolinário é um romance de luta, subgênero da literatura de cordel que a pesquisadora Maria José Londres afirma derivar dos romances de encantamento. O rei das narrativas em que predomina o maravilhoso transmuta-se no coronel, a quem o herói serve como uma espécie de vassalo. O encontro com a filha do patrão é, geralmente, o motivo para o conflito, que segue um padrão com poucas variações. O modelo para histórias, como esta de Joaquim Batista de Sena, parece ser o clássico de João Ferreira de Lima, História de Mariquinha e José de Souza Leão, escrito nos anos de 1930.  Os autores parecem ter recebido também influência do filmes de cowboy, pois muitos eram fãs das películas norte-americanas, reproduzindo, até, imagens destas nas capas dos folhetos. O diferencial deste clássico, um dos grandes sucessos do poeta-editor Joaquim batista de Sena, é o tom paródico que pontua toda a história e que, futuramente, seria explorado por João Firmino Cabral no igualmente memorável A coragem de um vaqueiro em defesa do amor.
Marco Haurélio – Folclorista, editor e cordelista 

SERVIÇO:  JOAQUIM BATISTA DE SENA, ANO 100
DIA: 23 DE MAIO DE 2012 (QUARTA-FEIRA)
LOCAL: MIS – Museu da Imagem e do Som do Ceará
Barão de Studart, 410 – Bairro Meireles – Fortaleza – CE
Tel: (85) 3101-1204
Informações: (85) 9675-1099 (Klévisson Viana)
(85) 9999-7908 (Paulo de Tarso)


domingo, 13 de maio de 2012

Os três fios de cabelo de ouro do Diabo: uma história atemporal



Capa do romance publicado pela Luzeiro com ilustrações
em estilo clássico de Mestre Severino Ramos
Os três fios de cabelo de ouro do Diabo, história atemporal que figura nos Marchen dos Irmãos Grimm, mereceu do poeta Josué Gonçalves de Araújo uma vigorosa versão em cordel. É, seguramente, a obra-mestra de Josué, autor nascido em Marabá Paulista, interior de São Paulo, mas com raízes culturais nordestinas, pois é filho de baianos. Com este trabalho ele atinge a maturidade criativa, já demonstrada em O coronel avarento, um começo promissor mas ainda reclamando ajustes, e O mistério da pele da novilha, que dá novo tratamento à figura do viajor sacrílego, o Judeu Errante, que saltou do folclore para a literatura.

Em Os três fios de cabelo de ouro do Diabo, romance que conheci em pré-produção, a narrativa original ganha um sabor bem brasileiro graças aos muitos apelativos com que o autor retrata o “príncipe das trevas”. O conto, apesar de figurar na famosa coletânea dos Grimm, não é, em sua origem, alemão. Há registros em outras partes do mundo. No livro Contos populares da Espanha, que, por estas bandas, foi publicado pela Landy Editora, há uma versão interessantíssima. No interior da Bahia, anotei uma versão, inédita, em que o rei vilão desaparece, cedendo lugar ao fazendeiro, que obriga sua comadre pobre a empreender a façanha considerada impossível. 


Josué, no entanto, mesmo fiel à narrativa em que se baseia, imprime a sua marca autoral, buscando as sobrevivências míticas, a exemplo da crença da infalibilidade do destino e dos personagens arquetípicos como o barqueiro que transporta o herói ao Hades (reminiscência de Caronte). Há um conto iugoslavo em que o rio é humanizado e, em troca do transporte do herói, exige deste uma resposta. A invocação aos céus, da segunda estrofe, comprova o parentesco deste trabalho com a poesia épica, ou com aquilo que Ezra Pound definia como melopeia:

Alegre, por não ser Deus,
O nosso Pai Soberano,
Peço aos céus inspiração
Para tratar de um profano
E de um dos grandes pecados
Que persegue o ser humano.

A primeira parte do romance segue a linha dos contos novelescos, sem a presença do maravilhoso, com exceção da previsão miraculosa. É o mesmo enredo de A princesa Anabela e o filho do lenhador, de Severino Borges, em que o herói é porta-voz de uma mensagem que, se entregue ao destinatário, significará a sua morte. A segunda pertence aos contos maravilhosos propriamente ditos, trazendo o que Joseph Campbell, em O herói de mil faces, define como a jornada do herói.

Os irmãos Grimm recolheram outro conto com enredo semelhante, O grifo, comprovando que o Diabo que figura no conto não é o fantasma teológico da Igreja católica, mas uma adaptação de criaturas de crenças de origens diversas, muitas delas anteriores ao cristianismo. O Diabo, portanto, não é o dos pesadelos medievais que Portugal transplantou para o Brasil e que índios e escravos ajudaram a recompor, “ampliando-lhe domínio e formas sem que lhe dessem nascimento”, conforme depõe, com autoridade inquestionável, Câmara Cascudo. É a natureza desconhecida, o rio da morte, que também é vida, o limiar que o herói deve transpor para cumprir ou, que sabe, tornar-se senhor de seu destino. É desse rito de passagem, estudado por James Frazer em The golden bough, que trata esta história. Felizmente, a literatura de cordel encontrou alguém que a recontasse com rigor criativo e amorosa entrega ao ofício que também é vocação.

sábado, 5 de maio de 2012

Baú da Gaiatice chega à terceira edição

O Cordel Atemporal reproduz texto do blog Acorda Cordel.




Há mais de 12 anos, num momento em que o Ceará já se projetava nacionalmente como terra de comediantes, o radialista, poeta popular e cartunista Arievaldo Viana escreveu o livro “Baú da Gaiatice”. Incluindo crônicas, anedotas e literatura de cordel. O livro foi lançado em noite festiva no Pirata Bar, no dia 21 de maio de 1999 e, de imediato, tornou-se um clássico do gênero, recebendo elogios de escritores, pesquisadores e jornalistas como Blanchard Girão, Barros Alves, B.C. Neto, Ribamar Lopes, Eleuda de Carvalho, Falcão, Tarcísio Matos e Juarez Leitão. A idéia foi sugerida pelo amigo Vescêncio Fernandes (in memorian) diretor da extinta revista Varal, onde parte do material do livro havia sido publicado.
Na época do lançamento, o Caderno 3 do Diário do Nordeste fez a seguinte observação: “Juntando crônicas que escrevia para jornais e revistas sindicais como a Pérola Negra do Sindicato dos Petroleiros, e para a própria Varal, Arievaldo observou que tudo isso poderia dar um livro. Não precisaria ir longe para encontrar ilustrações bem apropriadas ao contexto das histórias. Contou com o apoio de seu irmão e artista plástico Klévisson, de Jefferson Portela e também deu suas próprias pinceladas, já que trabalha há alguns anos nesta área.”
Um dos grandes méritos da obra foi trazer a tona, de forma pioneira, ‘causos’ de personagens até então anônimos, porém interessantíssimos. É o caso do personagem “Broca da Silveira”, um cara cheio de espertezas que dribla sua condição de nordestino, pobre e semi-analfabeto, para conseguir o que quer. Foi preso e subornou o médico da penitenciária lá de São Paulo para lhe dar um medicamento que ficasse como um morto. Conseguiu, então, embarcar numa urna “funerária” de volta ao seu Nordeste. “A história dele é um misto de 50% de realidade e 50% de fantasia”, afirmava Arievaldo, na matéria publicada em 1999 pelo DN. Além do já citado Broca da Silveira, desfilam também pelas páginas do Baú o irreverente Zuca Idelfonso, o irriquieto boiadeiro Zé Adauto Bernardino e o profeta matuto Zé Freire, autor de uma curiosa oração para arranjar um magote de mulher. O autor conta que numa temporada em Canindé, costumava se embrenhar sertão adentro ou mesmo palestrar nos bares da cidade na companhia do poeta e boêmio Pedro Paulo Paulino. Munidos de papel e caneta e às vezes de um note-book, os dois observavam aquelas figuras bem características. Quando ouviam alguma história interessante, passavam para o papel ou para o computador. Assim, foi ampliando o material para a publicação do livro.
O terceiro capítulo é totalmente dedicado a Literatura de Cordel, o grande forte de Arievaldo, considerado atualmente um dos maiores expoentes desse gênero. O escritor apresenta seus próprios cordéis e outros de parcerias com Jota Batista, Pedro Paulo Paulino, Klévisson Viana e Sílvio Roberto Santos. Também trabalham temas atuais como a clonagem da ovelha Dolly, o encontro de Fernando Henrique Cardoso com Pedro Álvares Cabral nos 500 anos de descobrimento, a história de um poeta que adquiriu uma boneca inflável e até mesmo uma sátira intitulada “Descaminhos das Índias ou o Indiano que casou com uma cachorra”, incluída especialmente na terceira edição da obra.
UM POUCO DA TRAJETÓRIA DO AUTOR: Arievaldo Viana nasceu no Sertão Central do Ceará, em setembro de 1967. Desenha e escreve cordéis desde a infância. Atuou também como radialista de 1985 a 92. Trabalhava em Canindé, fazendo um quadro humorístico com personagens criados por ele, como Salustiano e dona Filismina. Em 1992, veio para a capital e integrou a equipe da Rádio Cidade e também na extinta TV Manchete, onde criou e apresentou o humorístico “Jornal da Caatinga”, em parceria com Cícero Lúcio e direção de Marcos Belmino, o saudoso “Ponhonhón”. Como escritor e poeta  publicou contribuições em diversos jornais e revistas, como Varal, Singular, Pérola Negra e atualmente na Nordeste Vinteum, onde mantém a coluna “Sala de Reboco”, relembrando fatos da vida e da obra de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Atua no movimento sindical como chargista e ilustrador desde 1993. É o criador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, responsável pelo reconhecimento da literatura de cordel como gênero literário indispensável ao ensino, já apresentado através de oficinas e palestras em diversos estados do Brasil. Como escritor, Arievaldo Viana tem mais de 100 folhetos de cordel já publicados e quase duas dezenas de livros pelas maiores editoras do país: FTD, Cortez, Editora Globo, Planeta Jovem, Editora IMEPH, Demócrito Rocha, Armazém da Leitura e Nova Alexandria.

O QUE DISSERAM DA OBRA

“O Baú da Gaiatice” é um livro sério, mesmo tendo como objetivo fundamental divertir e provocar o riso. É que espelha, com denodo e perícia, essa faceta esplêndida da alma cearense de zombar das trapaças da sorte, se divertir em frente da desdita e, mesmo no meio da noite mais tenebrosa, transportar em sua essência anímica os raios incandescentes da aurora.” 
(Juarez Leitão, escritor)

“Arievaldo Viana é um “velho” poeta popular de trinta e três anos. Velho pela maturidade de seus versos, pelo muito que tem observado, acumulado e repassado em termos de cultura popular. Seu gosto pelo popular, despertado desde cedo - ainda criança - foi caldeado e sedimentado em Quixeramobim e Canindé, no telurismo desses dois territórios mágicos. As muitas leituras de folhetos, na infância, as muitas noites no “sereno” de cantorias, imprimiram-lhe na alma o gosto pelo estilo dos bons tempos - do tempo dos grandes poetas do cordel, sem contudo pretender imitá-los. É fecundo. Jovem (um “velho” poeta de trinta e três anos), é autor de várias dezenas de folhetos. Respira, vive poesia popular. Como poeta popular, poder-se-ia dizer que sofre de incontinência poética.”
(Ribamar Lopes, poeta e pesquisador da poesia popular, em dezembro de 2000)

“Se alguns resquícios etílicos ainda me afetavam o fígado, foram definitivamente curados. Tudo por conta do "Baú da Gaiatice", de Arievaldo Viana, que lí de uma tirada só no último fim-de-semana. Ri a bandeiras despregadas com os "causos" colhidos no filão riquíssimo da cultura popular em suas diversas vertentes, a sertaneja, em primeiro lugar, a suburbana e a anedótica nascida nos meios mais intelectualizados. Tudo seria vulgar não fosse a capacidade própria de Arievaldo no saber contar, dando a cada estória o seu toque pessoal, a sua graça de humorista.”
(Blanchard Girão, jornal O ESTADO, junho de 1999)


O AUTOR E A OBRA, POR ELE MESMO

Acordei menino e ‘malino’ num lugarejo encantado, um recanto ensolarado chamado fazenda Ouro Preto, cafundós de Quixeramobim-CE, terra do beato Antônio Conselheiro.
Depois esse pedacinho de chão, pertencente ao distrito de Macaóca, passou a integrar o município de Madalena, território emancipado de Quixeramobim.
Para os lados do nascente se avistam os contrafortes do serrote dos Tres Irmãos, gigantescos monólitos de feição similar, que o velho Chico Pavio garantia tratar-se de três reinos encantados. Ao sul, os contornos da belíssima serra da Cacimba Nova. Quando eu era criança, alí pelos meados da década de 1970, não havia energia elétrica e a nossa diversão predileta era ouvir a vovó Alzira ler os folhetos de cordel, dentre eles Chegada de Lampião no Inferno, Cancão de Fogo, João Grilo, Pedro Malazartes e o impagável Casamento e divórcio da Lagartixa. Foi justamente nesses folhetos que eu me alfabetizei... ou melhor, desasnei na leitura, com a  ajuda de uma carta de ABC.
Essas leituras, aliadas a uma forte dose de imaginação me impeliram a ouvir tudo que era conversa de matuto, causos, arengas e ‘arisias’ ditas em estado sóbrio ou etílico nos balcões da bodega do Mané Lima, meu avô. Já crescido, em busca de instrução e trabalho, mudei-me para Maracanaú, Canindé e depois para o mundo... Foi daí que nasceu a inspiração para fazer este Baú da Gaiatice.


SERVIÇO:
O Baú da Gaitice, 3ª Edição
Editora Assaré / Prêmius
220 páginas ilustradas
Preço de capa: R$ 25,00
Preço especial de lançamento: R$ 20,00