segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Cordel volta em grande estilo à Cortez


Audálio Dantas, Moreira de Acopiara e Marco Haurélio


Foi mesmo uma tarde encantada na Cortez. Há muito tempo, muito tempo mesmo, o Cordel da Cortez não reunia um público tão eclético. Apresentaram-se no sarau lítero-musical Sapiranga Sá, Socorro Lira, Eufra Modesto, Aldy Carvalho. Cacá Lopes, Pedro Monteiro, Gracielma, Luiz Carlos Bahia, João Gomes de Sá, sob a coordenação de Moreira de Acopiara. E, de quebra, José Xavier Cortez, o anfitrião que acha que não é poeta, e mestre Audálio Dantas compartilharam a experiência de quem tem, e fez, muita história. Além de meu livro Artes do Caipora em cordel, o quinto pela Paulus, outros dois títulos foram apresentados ao público: Canudos e a saga de Antônio Conselheiro, de Moreira de Acopiara, da Duna Dueto, e um álbum de xilogravuras do mestre Jerônimo Soares. As fotos abaixo, mais do que as palavras, ajudarão a contar um pouco da história escrita nesta tarde do dia de são Bartolomeu (24 de agosto).
Mais um clique na plateia. À esquerda, JeosaFá Fernandez.

Eufra Modesto em ação
Ercília Simões Braga e Rosa Zuccherato,
da Editora Nova Alexandria
O contador de histórias Daniel D'Andrea e Luciano Tasso.
Com os conterrâneos Sapiranga Sá e Luiz Carlos Bahia.
Autografando o exemplar de Rosa Zuccherato.
Mary e José Alonço Fernandes, primo carnal de meu pai,
que conheci na Cortez.
Com Monalisa Lins, a pequena Ana Laura, Evelson e Fátima Morais.
Com o professor Rogério Soares.
 Cícero Pedro de Assis e Varneci Nascimento.
Moreira de Acopiara, Pedro Monteiro,
Marco Haurélio e Cícero Pedro de Assis.
Luiz Wilson, Ednilson Xavier, Eli, Lucélia,
Nireuda, Marco e Júlia.
Luciano autografa o exemplar de Margarete Oliveira.
Mazé Freitas, Lucélia e Socorro Lira.
Mais uma olhada na plateia.
Aldy Carvalho canta "Sina de cantador".
Andrey do Amaral, Pedro Monteiro,
Conceição Azevedo e Marco Haurélio.
"Sou poeta cantador/ das coisas da nossa gente" (João Gome de Sá).
Don Flávio "Wolverine" e Maurício Negro.

Mais flagrantes da plateia. À esquerda, JeosaFá Fernandez.
Com a leitora Patrícia Lau.
O ilustrador João Pinheiro e sua companheira Sirlene Barbosa.
À direita, Avelino Guedes.
Com a escritora Juliana Gobbe, de Atibaia.
Jerônimo Soares, Moreira e Marco Haurélio.
Performance de Luiz Carlos Bahia
Com o amigo Artur Nogueira,
consultor educacional da Paulus.
Luciano Tasso, Selma Maria, José Santos, Nireuda, Marco Haurélio e Lucélia.
Na plateia, Cacá Lopes, Luiz Carlos Bahia e Telma Queiroz. 

Fotos: Telma Queiroz, Lucélia Pardim, Pedro Monteiro, Angélica Feliciano e RogérioSoares.

Artes do Caipora em Cordel, da PAULUS, é lançado na Cortez Livraria
Por Angélica Feliciano

A semana de 19 a 24 deste mês foi especialmente dedicada à Literatura de Cordel, na Cortez Livraria, em São Paulo. Como disse Marco Haurélio, autor de Artes do Caipora em Cordel, lançado no sábado, 24, “uma tarde encantada”, foi o que os presentes na Expo-Cordel na Cortez puderam vivenciar.
Seguindo a tradição de promover a cultura popular a dar visibilidade á literatura de cordel, o evento contou com exposição fotográfica e de xilogravura, novidades editoriais sobre o tema, folhetos, lançamentos, além do sarau lítero-musical acompanhado de bebidas e comidas típicas do sertão nordestino.
No sábado, ultimo dia do evento, foi o lançamento de Artes do Caipora em Cordel, da PAULUS, escrito por Marco Haurélio. Além desta obra, também foram lançadas na mesma tarde: Canudos e a saga de Antônio Conselheiro – uma livre adaptação de Os Sertões, de Euclides da Cunha, escrito por Moreira de Acopiara e lançado pela editora Duna Dueto, e o álbum de xilogravuras Na ponta da Agulha, de Jerônimo Soares que, segundo o falecido Jorge Amado, é “um dos mais notáveis gravadores populares do Brasil”.
Marco Haurélio já se aproxima da marca de trinta livros publicados e, destes, 90% é do gênero cordel. “Pretendo fazer outros com foco na cultura popular e vou continuar fuçando o baú da memória”, diz o autor que já tem novos projetos.
“Estou pesquisando para escrever um teórico sobre o conto popular: suas origens, abrangência, principais pesquisadores e obras mais relevantes. No campo da literatura infantojuvenil há alguns livros em preparação. Ainda este ano será lançado o livro Os 12 Trabalhos de Hércules (da Cortez Editora), que é uma espécie de releitura satírica, composta em várias modalidades poéticas, também ilustrado por Luciano Tasso”, completa.
O evento contou com grande número de pessoas, um público eclético que há 10 anos prestigia a festa. Audálio Dantas, diretor da revista “Negócios da Comunicação” e presidente da Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas, esteve presente.
“Esta é uma festa rara e única, que promove encontro e ligações fortes com a literatura de cordel. E como autor de projetos e da curadoria das exposições ‘100 Anos de Cordel’, realizado no SESC Pompéia, em 2001, é muito gratificante vivenciar este momento”. Dantas já escreveu mais de dez livros – o mais recente deles é “As Duas Guerras de Vlado Herzog”, publicado pela Civilização Brasileira em 2012.
Na tarde dedicada ao Cordel, apresentaram-se no sarau lítero-musical Sapiranga Sá, Socorro Lira, Eufra Modesto, Aldy Carvalho, Cacá Lopes, Pedro Monteiro, Gracielma, João Gomes de Sá, sob a coordenação de Moreira de Acopiara e o poeta José Xavier Cortez, anfitrião do evento.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Cortez e Cordel: uma parceria que deu certo

Entre os dias 19 e 24 de agosto, o cordel ganha mais evidência na Livraria Cortez, que há onze anos realiza, com sucesso, o já tradicional Cordel na Cortez. Mais informações no texto abaixo, pescado do site da Cortez, ou pelo telefone (11) 3873 7111.



Expo-Cordel na Cortez

Dias: 19 a 24 de Agosto
Horário: Segunda a sexta-feira – das 9 às 20 h e sábado das 9h às 19h


Originária do nordeste brasileiro, a Literatura de Cordel se expandiu para todo o país como uma das mais genuínas manifestações da cultura brasileira. Sua influência está presente em muitos movimentos artísticos.

Dada a sua riqueza literária, o cordel se constituiu ferramenta pedagógica em diversas instituições de ensino e está cada vez mais em evidência, e pela rica variedade temática, tem nos últimos anos, ultrapassado a fronteira dos folhetos e dos livros.

Seguindo a tradição de promover a nossa cultura popular a dar visibilidade a literatura de cordel, a Livraria Cortez promoverá no mês do folclore, o Expo-Cordel na Cortez. Evento que terá exposição Fotográfica e de Xilogravura, novidades editoriais sobre o tema, Folhetos, lançamentos, além do sarau lítero-musical acompanhado de bebidas e comidas típicas do sertão nordestino.

Atividades: Exposição fotográfica sobre Cordel organizada pela pesquisadora Fernanda Ortega
Exposição de Xilogravuras e matrizes que ilustram livros e cordéis organizadas por Nireuda Longobardi

Realização: Livraria Cortez
Apoio Cultural: Cortez Editora , Editora Nova Alexandria e Mostra Chapéu de Palha
Apoio Institucional: ILGB – Instituto Leandro Gomes de Barros

Mais informações: www.livrariacortez.com.br

Luto no mundo do cordel


ANTONIO ALVES DA SILVA

Morreu ontem, 14 de agosto, aos 85 anos, um dos maiores poetas da literatura de cordel brasileira, Antonio Alves da Silva. Extraordinário romancista, dominava todas as formas fixas do verso popular e tinha no humor seu traço mais marcante. Admirador do poeta, autor de clássicos como João Terrível e o Dragão Vermelho e Maria Besta Sabida, incluí um romance seu, João sem Destino no Reino dos Enforcados, na Antologia do Cordel Brasileiro, publicada pela Global Editora. Em 2003, venceu o concurso temático do Metrô e da CPTM, idealizado por Assis Angelo, com o cordel A Maldição das Serpentes no Sítio do Velho Chico.

Durante os dois anos em que trabalhei na Editora Luzeiro, editei vários de seus textos, adquiridos por esta casa publicadora, entre eles Maria Besta Sabida, João Azarento na corte da rainha Maravilha, As Palhaçadas de João Errado, Últimos Dias de Antônio Conselheiro na Guerra de Canudos, A Matança de Corisco Para Vingar a Morte de Lampião, Horácio de Matos, Herói da Chapada Diamantina, João Corta-Braço e O Encontro de Lampião com Antônio Silvino no Inferno


Foto: Blog Ana Cadengue.
LUIZ CAMPOS

Outra perda irreparável é a do poeta potiguar Luiz Campos, nascido em Mossoró, em 1939. Mestre da caneta e da viola, autor dos impagáveis Me Enganei com Minha Noiva e Carta a Papai Noel, tinha, conseguia ser, ao mesmo tempo, brilhante humorista e equilibrado crítico social. No blog Ana Cadengue, o poeta, em entrevista, falou de sua infância, que não difere da de muitos nordestinos:

"Nasci em Mossoró, no bairro Lagoa do Mato. Meu pai trabalhava em uma usina de beneficiamento de algodão. Minha mãe era doméstica. Apenas um irmão. Posso dizer que aprontei muito naquela época. Mas, não era traquina — de fazer perversidade. Sempre trabalhei. Comecei na lida com apenas oito anos de idade pra ajudar em casa. Ia pra estação pegar malotes, mercado central pra pegar baldes, depois comecei a vender frutas, tapiocas, pirulitos. Tudo pra ajudar na renda de casa. Comecei meus estudos nas redondezas da Lagoa do Mato, posteriormente no Ambulatório José Pereira Lima. E terminei os estudos na União Caixeiral."

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Livro Artes do Caipora, de Marco Haurélio e Luciano Tasso, será lançado na Cortez

Artes do Caipora em cordel será lançado na Livraria Cortez.
Artes do Caipora em cordel é mais um livro de minha autoria inspirado na rica tradição oral brasileira. A obra evoca as histórias contadas por caçadores que, à noite, passavam pela casa de meus pais, na Ponta da Serra, sertão baiano, para deixar um peba ou um saruê abatidos por eles. Eu, desde pequeno, jamais gostei de comer carne de "bicho caçado", mas, por outro lado, entendia que era, muitas vezes, a única mistura que muitos moradores da roça levavam à mesa. O que me atraía mesmo eram as histórias mirabolantes, muitas delas narradas em primeira pessoa, de assombrações do mato, surgidas para punir as transgressões dos caçadores. Uma das violações com consequências mais trágicas é a caçada no dia de São Bartolomeu (24 de agosto). Outro dia em que a caça é proibida é a Sexta-Feira da Paixão.

Ouvi, mais de uma vez, a história do caçador que saiu na noite de São Bartolomeu e, imaginando-se com sorte, deparou com um veado de proporções anormais. Quando já fazia ponto com a espingarda, notou que se tratava de um monstro com um único olho no meio da testa. Noutras ocasiões, o caçador topava de frente com o Pai do Mato, que vem a ser o mesmo Caipora, soltando fogo pelas ventas ou ressuscitando os animais abatidos. O Caipora é primeiro percebido pelos cachorros, que, do nada, começam a ganir, como se uma mão invisível os açoitasse. Geralmente, o caçador que tem a desventura de encontrá-lo, se aposenta depois da experiência, quando não fica "variado".

É parte deste universo mágico do sertão de minha infância que transportei para o cordel, que depois veio a ser magistralmente ilustrado por Luciano Tasso. O livro Artes do Caipora em Cordel, que integra a coleção Mistura Brasileira, da Paulus Editora, será lançado dia 24 de agosto (não por acaso o dia de São Bartolomeu), como parte da programação Expo Cordel na Cortez. Além da sessão de autógrafos, haverá exposição das ilustrações de Luciano Tasso.



Serviço
Lançamento do livro Artes do Caipora em Cordel, de Marco Haurélio, ilustrado por Luciano Tasso.
Onde: Rua Monte Alegre, 1074, Perdizes. Tel.: 3873 7111.
Quando: 24 de agosto de 2013, às 17 h.

domingo, 4 de agosto de 2013

Lá detrás daquela serra


A minha obra tem muito a ver com as minhas memórias afetivas. Cada trabalho, dentro de um determinado parâmetro, é uma ode à vida no que ela tem de essencial e uma viagem de retorno ao País da Infância, para citar, uma vez mais, mestre Câmara Cascudo. E é com muita satisfação que anuncio, para breve, a publicação de “Lá detrás daquela serra”, reunião de quadras e cantigas populares, ouvidas desde os tempos em que andava pelos carreiros da Ponta da Serra. O livro tem o selo da editora Peirópolis e conta com ilustrações de Taisa Borges. Minha gratidão a Renata Borges por acreditar nesse projeto que, sem saudosismo, é um homenageia as vozes anônimas que, sem pedir nada em troca, emprestam poesia ao nosso árido cotidiano.



Abaixo, o texto de orelha escrito, à guisa de apresentação, por meu parceiro José Santos:

“O escritor e folclorista Marco Haurélio veio de Ponta da Serra, no sertão baiano, um lugar cercado de serras por todos os lados. É dali que ele nos traz a rica poesia em que o povo é participante ativo, reelaborando, adaptando e ampliando o significado das quadras e cantigas populares que o cordelista lembra de cor – elas conversam  com a ciranda, o coco de roda e as lapinhas. E aqui estão belamente ilustradas por Taisa Borges, num trabalho que nos leva aos lugares mais remotos da infância.

Há nesta pesquisa uma postura que faz lembrar o folclorista e escritor português Teófilo Braga, que no século XIX dedicou-se a recolher contos, quadras e canções populares pelo seu país. Ele, tanto quanto Marco, sabia da importância de um trabalho desse tipo para a preservação e afirmação da identidade do povo. Entre essas cantigas, quadras e adivinhas rimadas, o leitor irá conhecer ou recordar muitos e muitos versos, a exemplo destes:

É uma caixinha
De bom parecer.
Nenhum carpinteiro
Sabe igual fazer.

Convido o leitor a fazer essa suave subida até as serras da poesia.”

Eis mais uma amostra:

Lá detrás daquela serra
Tem dois pilõezinhos de ouro.
Um é de pisar tempero,
Outro de pisar namoro.

Alecrim na beira d’água
Não se corta de machado;
Se corta de faca fina
Que é pra dar meu namorado.

Eu plantei um pé de cravo
Na esquina da janela.
No caminho lá de casa
Só anda moça donzela.

 
A igreja da Ponta da Serra, cenário de minha infância sertaneja, onde fui buscar as referências
principais para o livro.

sábado, 3 de agosto de 2013

Artes do Caipora, mais um título pela Paulus

Recebi, de Alexandre Carvalho, editor de infantojuvenis da Paulus, a melhor notícia de sexta-feira. Finalmente foi impressa a primeira edição do livro Artes do Caipora em cordel. A obra integra a coleção Mistura Brasileira, na qual já tenho publicado A lenda do Saci-Pererê. 

Para se entender melhor a personagem deste novo livro, reproduzo, a seguir, um trecho da apresentação:

Presença marcante em todo o Brasil, desde o tempo em que havia muitas florestas e caça abundante, o Caipora é um duende que assombra e persegue os caçadores que abatem mais animais do que o necessário à sua sobrevivência. Embora seja confundido com o Curupira, tem alguns traços que ora o diferenciam, ora o aproximam desse mito. Os depoimentos dos primeiros cronistas que escreveram sobre os habitantes mais antigos do Brasil e suas crenças não citam o Caipora (ou Caapora), mas sobre o Curupira, a documentação é abundante.

A princípio, o Curupira era uma espécie de divindade protetora das árvores  sem forma definida, provocador de verdadeiro pavor entre os índios, que evitavam deixar as malocas à noite. Segundo Câmara Cascudo, o “Curupira foi o primeiro duende selvagem que a mão branca do europeu fixou no papel e comunicou aos países distantes”. A citação deu-se numa carta assinada pelo padre José de Anchieta, datada de 31 de maio de 1560.


Na Amazônia, é um tapuio pequeno, de quatro palmos, com o corpo coberto de pelos, segundo depoimento de Barbosa Rodrigues. Tem os pés voltados para trás, dentes azuis ou verdes e força desproporcional ao seu tamanho. A palavra Curupira, traduzida do tupi-guarani, significa, aproximadamente, “corpo de menino”. Embora representado sob forma humana, pode se transformar em qualquer animal, atraindo o caçador para mais distante, fazendo com que se perca na floresta. Essa informação do pesquisador Ermano Stradelli aproxima o Curupira do Caipora, cujas características também são encontradas no Saci, e é, também, um indígena anão que monta um porco do mato, a queixada, e assombra os caçadores que adentram seus domínios. Caipora vem de caa (mato) e pora (habitante).

As ilustrações feitas sobre a madeira, criando um efeito visual inusitado, são de Luciano Tasso, parceiro em outros três livros: Meus romances de cordel (Global), A saga de Beowulf (Aquariana), Os 12 trabalhos de Hércules (Cortez). 



O livro é uma viagem ao imaginário do interior do Brasil, com as superstições ligadas à caça e as crenças que regulam e limitam a ação dos caçadores:

Você aí, do outro lado,
Preste bastante atenção.
Meu nome é Chico Norberto
E venho lá do sertão,
Onde contam muitas lendas
E histórias de assombração.

Eu mesmo sou um exemplo,
Por isso fiz o favor
De rememorar um fato
De quando era caçador
Que só a pura lembrança
Inda me causa pavor.

Eu só tinha vinte anos,
Era um moço boa praça,
Trabalhava na lavoura,
Não gostava de arruaça,
Mas me divertia um pouco
Quando saía pra caça.

Meu pai, bem experiente,
Sempre me encarava sério,
Dizendo: — Filho, na mata
À noite anda algum mistério.
Você não sabe o que houve
Com o compadre Exupério?

— Não — respondi a meu pai,
Tentando desconversar.
Mas ele disse: — O compadre
Era amigo de caçar,
Nem mesmo os dias proibidos
Gostava de respeitar.

Numa sexta-feira santa,
Da espingarda se armou.
Que não fosse aquele dia,
Minha comadre rogou,
Mas o compadre Exupério
Nem atenção lhe prestou.

Quebra-ferro e Marinheiro,
Cachorros obedientes,
Assim que ele se armava,
Davam pulos, de contentes,
E já entravam na mata
Latindo e rangendo os dentes.

(...)

O lançamento será dia 24 de agosto (Dia de São Bartolomeu), na Livraria Cortez, a partir da 17 horas. Saiba mais detalhes, clicando AQUI.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Entrevista a Juliana Gobbe

Concedi, há alguns dias, uma entrevista à escritora Juliana Gobbe, coordenadora do Espaço de Criação Literária Bertold Brecht. O tema, mais uma vez, é literatura de cordel.

Marco Haurélio

Por Juliana Gobbe

O escritor Marco Haurélio nasceu em Riacho de Santana na Bahia. Conviveu desde muito jovem com as manifestações da cultura popular nordestina. Através de uma sensibilidade ímpar registrou a literatura oral do sertão baiano.

É autor de uma produção poética elogiada por crítica e leitores. Seu livro mais recente destina-se aos educadores do Brasil:Literatura de Cordel – Do sertão à sala de aula.
Na penúltima sextilha de O romance do Príncipe do Reino do Limo Verde, lemos:

Por isso é que Marco Haurélio
Não se rende nem se vende,
Luta com as armas que tem:
Ora ataca, ora defende.
Algumas vezes ensina
E, ensinando, ele aprende.

O escritor baiano concedeu uma entrevista exclusiva ao nosso blog. Os amantes da cultura popular agradecem esse olhar identificador de uma prática social longeva que ora se manifesta nas expressões espontâneas do povo brasileiro.

                              
ECL- Frequentemente se estabelece alguma confusão quando se fala em cordel, embolada e repente. Quais seriam as diferenças entre estas três manifestações?

MARCO HAURÉLIO- Bem, para começo de conversa, o cordel pertence ao âmbito da literatura, ao passo que o repente e a embolada são manifestações da oralidade. Embora o cordel se vincule, como toda a poesia que chamo de bárdica, à oralidade, se diferencia do repente e, mais ainda da embolada, por sua função. O repente está mais próximo à tradição medieval dos menestréis, com a viola substituindo a bandurra e outros elementos de cordas, e a embolada, com seus instrumentos de percussão, se aproximam mais das tradições vindas da África. Embora, num país como o Brasil, em que a pluralidade cultural salta aos olhos, estas fronteiras não podem ser delimitadas com precisão.

ECL-  No cerne da cultura popular costuma se afirmar que Leandro Gomes de Barros é o “pai” da literatura de cordel no Brasil. Conte nos sobre os feitos deste exímio cordelista.

MARCO HAURÉLIO- Leandro Gomes de Barros é o pai da literatura de cordel como a conhecemos hoje. O que não significa que ele tenha sido o primeiro a escrever cordel no Brasil. Houve outros antes dele, como João Santana de Maria, o Santaninha, citado por Sílvio Romero. Mas é a partir dele, Leandro, dos temas que desenvolveu e das causas que abraçou, que o cordel se consolidou. É esta semente, cultivada por mais de um século, por poetas como José Camelo de Melo, Joaquim Batista de Sena, Manoel Camilo dos Santos, Delarme Monteiro, Manoel D’Almeida Filho, e, atualmente, por Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Rafael Neto e Klévisson Viana, para ficar em alguns, que Leandro plantou com o zelo dos que enxergam além. Por exemplo, são dele a Peleja de Manoel Riachão com o Diabo, base de todas as pelejas em que um cantador tem o demônio como antagonista; a História da Donzela Teodora, versão em cordel de um livro do povo que aproxima uma figura arquetípica, a donzela sábia das Mil e uma noites, ao universo de disputas verbais dos cantadores nordestinos; a Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, obra que melhor aproveita um episódio do ciclo carolíngio, mais presente na tradição das cavalhadas do que propriamente no cordel; e O cachorro dos mortos, talvez o melhor cordel dramático de todos os tempos.

Para continuar lendo, clique aqui.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Nova Alexandria convida para Sarau Cordelista


CORDEL NA NOVA ALEXANDRIA

A Literatura de Cordel vive um ótimo momento e está cada vez mais presente nas estantes dos brasileiros. A editora Nova Alexandria, ao criar a coleção Clássicos em Cordel, em 2007, contribuiu para inaugurar uma nova fase na história do gênero no Brasil. Hoje, o cordel está presente em programas de governo, é adotado em escolas e seus autores, enfim, recebem o devido reconhecimento. Além da Clássicos em Cordel, o grupo editorial Nova Alexandria publica outra série voltada ao público infantil, que é igualmente um sucesso.

Para celebrar esse novo tempo, no qual a editora também está em nova sede, convidamos todos a comparecer ao Sarau Cordelista, que, além dos autores da casa, contará com outros poetas do movimento em São Paulo. Presenças já confirmadas de João Gomes de Sá, Varneci Nascimento, Cacá Lopes, Costa Senna, Cícero Pedro de Assis, Pedro Monteiro, Moreira de Acopiara e Marco Haurélio. Será servido ainda um coquetel, mas o melhor do cardápio será mesmo a poesia ritmada do cordel.

SERVIÇO

Onde? Editora Nova Alexandria, Rua Engenheiro Sampaio Coelho, 111 (Próximo ao Museu do Ipiranga). 
Fone: 2215 6252.

Quando? 1º de agosto (dia do Poeta de Cordel), das 17h30min às 21h.